Script = https://s1.trrsf.com/update-1731009289/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Avião de Prigozhin que caiu na Rússia era da Embraer; pelas normas, Brasil poderia participar de investigação

Modelo da aeronave era da família de jatos Legacy; fundador do grupo de mercenários Wagner estava a bordo e não houve sobreviventes, disseram autoridades locais

23 ago 2023 - 18h39
(atualizado em 24/8/2023 às 16h09)
Compartilhar
Exibir comentários

O avião onde estava o fundador do grupo de mercenários Wagner, Yevgeny Prigozhin, foi produzido pela empresa Embraer, símbolo da aviação brasileira nas últimas décadas. O modelo era da família Legacy e o número de série era RA-02795.

O avião caiu em um assentamento na cidade russa de Tver. Havia 10 pessoas a bordo - todas morreram.

Dados de rastreamento do FlightRadar24 - um popular site de rastreamento de voos - não mostram de onde o jato partiu. Os registros estão inacessíveis.

Hoje cedo ele apareceu perto de Moscou, onde subiu a uma altitude de quase 29 mil pés (cerca de 8.800 metros) antes que os dados mostrassem que ele caiu repentinamente.

O avião está registrado na Autolex Transport, empresa que o governo dos Estados Unidos vinculou a Yevgeny Prigozhin.

Os dados mostram que a aeronave fez várias viagens nos últimos meses, sempre com saída ou chegada em Moscou e São Petersburgo.

O avião também foi retratado pelos meios de comunicação locais em Belarus, onde especula-se que o grupo Wagner esteja sediado atualmente.

Dados do site PlaneSpotters, que congrega informações sobre aeronaves, apontam que o avião de Prigozhim foi fabricado há 16 anos em São José dos Campos, interior do Estado de São Paulo, onde fica a sede da Embraer.

A BBC News Brasil procurou a Embraer, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. Como regra da aviação internacional, a empresa pode participar das investigações das causas do acidente.

Fundada em 1969, durante a ditadura militar, a Embraer chegou a ser a terceira maior exportadora do Brasil e modelo em inovação. Mas ao longo de quase cinco décadas, a empresa enfrentou altos e baixos e já esteve à beira da falência.

Tendo sido por décadas uma empresa estatal, a Embraer foi privatizada em 1994, durante o governo Itamar Franco.

Em 2018, durante nova crise financeira, a empresa anunciou um acordo com a americana Boeing, uma das maiores fabricantes de aeronaves do mundo, que iria adquirir grande parte da empresa brasileira.

O acordo, no entanto, foi rompido em abril de 2020.

Normas de investigação

Por ser o país onde o avião foi projetado e produzido, o Brasil teria o direito de nomear representantes para participar da investigação sobre as causas do acidente.

Isso é determinado pelas normas da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO, na sigla em inglês). A participação, porém, não é obrigatória pelas normas da entidade.

O país precisa, no entanto, fornecer quaisquer documentos sobre a aeronave que investigadores estrangeiros considerem relevantes para esclarecer os acontecimentos.

Em nota à BBC News Brasil, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea Brasileira, afirmou que "cabe ao Estado em cujo território se deu um acidente aeronáutico instituir uma investigação sobre as circunstâncias da ocorrência, sendo, também, o responsável pela condução da investigação."

O órgão é indicado na documentação da ICAO como a autoridade brasileira "de contato" em casos de investigação de acidentes aéreos.

Segundo a nota do Cenipa, enviada à BBC após a publicação desta reportagem, "compete à Interstate Aviation Committee - Commission on Accident Investigation (IAC), agência russa, reunir as informações preliminares oficiais e efetuar a comunicação ao Cenipa para o acompanhamento da ocorrência e a prestação de um eventual suporte técnico que a agência julgue necessário para a condução da investigação."

O Cenipa afirma, ainda, que até o momento não foi procurado pelo IAC para tratar do acidente com o jato fabricado no Brasil.

O que se sabe sobre o acidente?

Imagem de vídeo de Prigozhin fazendo discurso em Rostov em 24 de junho
Imagem de vídeo de Prigozhin fazendo discurso em Rostov em 24 de junho
Foto: Reprodução / BBC News Brasil

Nesta quinta-feira (24/08), o presidente russo, Vladimir Putin, falou pela primeira vez sobre o acidente.

Mencionando diretamente o nome de Prigozhin, Putin o elogiou como um homem "talentoso" e que contribuiu muito com a Rússia.

O presidente russo, no entanto, reservou um trecho do discurso a criticar pontualmente o líder do grupo Wagner, afirmando que Prigozhin "cometeu sérios erros na vida".

Putin conclui a fala prometendo que as investigações serão rigorosas. "E serão conduzidas de forma completa, até o fim. Não tenham dúvida sobre isso."

Segundo as autoridades russas, todas as 10 pessoas - sete passageiros e três tripulantes - a bordo do jato particular pertencente Prigozhin morreram quando a aeronave caiu perto da cidade de Tver.

Autoridades russas confirmaram que Prigozhin estava a bordo do avião.

Anteriormente, um canal do Telegram ligado ao grupo Wagner, o Gray Zone, afirmou que o jato foi abatido pelas defesas aéreas na região.

Todos os corpos foram encontrados até o momento no local do acidente, segundo o governo russo.

Imagens autenticadas pelo serviço de checagem BBC Verify mostram o momento em que um avião pega fogo após cair do céu perto do povoado de Kuzhenkino, em Tver.

Ontem, Prigozhin havia divulgado seu primeiro discurso em vídeo desde seu motim fracassado na Rússia.

O vídeo indicava que ele estava na África e foi postado em canais do Telegram ligados ao grupo.

As imagens mostram Prigozhin em traje de combate, dizendo que o grupo está tornando a África "mais livre".

A BBC não conseguiu confirmar onde o vídeo foi gravado.

Acredita-se que o grupo Wagner tenha milhares de combatentes no continente, onde tem interesses comerciais lucrativos.

Prigozhin foi um principais personagens da invasão russa à Ucrânia ao comandar, à frente do exército privado de mercenários, uma rebelião de curta duração contra o governo russo no início de junho.

Durante meses, o nome de Prigozhin foi associado ao papel cada vez mais central que seu grupo mercenário está desempenhando na guerra na Ucrânia.

Ele recrutou milhares de criminosos nas prisões da Rússia - não importando quão graves tenham sido os crimes dos condenados, desde que eles concordassem em lutar na Ucrânia.

Antes de a Rússia iniciar o que se tornou o pior conflito armado na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, Prigozhin foi acusado de interferir nas eleições americanas e de expandir a influência russa na África.

Após uma dura troca de acusações, o grupo Wagner e o governo russo romperam relações.

Na manhã do dia do golpe fracassado, em 24 de junho, o presidente russo, Vladimir Putin, acusou Prigozhin de "traição" e de lhe dar "uma facada nas costas".

Depois de um acordo para encerrar o impasse, as acusações contra ele foram retiradas e houve uma oferta para que ele se mudasse para Belarus.

BBC News Brasil BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade