Bangladesh sob toque de recolher após violência em protestos estudantis
Governo mobiliza Exército para garantir a segurança, depois confrontos entre estudantes e policiais terem deixado mais de 100 mortos
Governo mobiliza Exército para garantir a segurança, depois de dias de confrontos entre estudantes e policiais terem deixado ao menos 110 mortos. Manifestantes protestam contra lei de cotas no serviço público. Unidades militares patrulham as ruas normalmente lotadas da capital de Bangladesh, Daca, na manhã deste sábado (20/07) para fazer cumprir um toque de recolher imposto pelo governo para tentar conter uma onda de violência oriunda dos protestos estudantis contra as cotas para o serviço público.
Ao menos 110 pessoas morreram desde o início da violência, na terça-feira passada, segundo as contagens feitas por agências de notícias com base em informações de hospitais do país. As manifestações também deixaram milhares de feridos, de acordo com os mesmos dados.
Esses dados indicam que o dia mais violento dos protestos foi sexta-feira, quando 59 pessoas morreram, muitas delas estudantes, segundo um balanço elaborado pela agência espanhola Efe.
As autoridades de Bangladesh não divulgaram números oficiais de mortos e feridos.
Um responsável pela polícia do Hospital Universitário de Daca disse à Efe que entre os mortos estava um fotógrafo de um jornal local, o que o tornaria o segundo jornalista morto durante a cobertura das manifestações.
Polícia tem autorização para disparar
Bangladesh está sob toque de recolher obrigatório desde a meia-noite, e o governo ordenou o envio do Exército para ajudar a controlar a situação. O toque de recolher foi flexibilizado do meio-dia às 14h deste sábado para que as pessoas pudessem realizar tarefas essenciais e deve durar até as 10h de domingo. Policiais poderão disparar contra grupos de pessoas em casos extremos, disseram autoridades.
Os serviços de internet e de mensagens de texto estão cortados desde quinta-feira, isolando o país do resto do mundo.
Durante cinco dias, as forças de segurança tentaram reprimir os protestos com gás lacrimogêneo. Os manifestantes atacaram os policiais jogando tijolos ou incendiando veículos.
Cotas no serviço público
Os manifestantes exigem o fim de uma controversa lei de cotas nos empregos públicos para beneficiar certos setores da sociedade, incluindo parentes de combatentes na guerra de independência contra o Paquistão, em meio ao alto desemprego entre os jovens no país de 170 milhões de pessoas.
O sistema de cotas reserva até 30% dos empregos públicos para parentes de veteranos que lutaram na guerra de independência, em 1971.
Em 2018, o governo suspendeu as cotas de emprego após grandes protestos estudantis. Mas, em junho deste ano, a Suprema Corte de Bangladesh anulou essa decisão e restabeleceu a lei de cotas depois de parentes de veteranos de 1971 terem entrado com ações.
A Suprema Corte suspendeu a sua própria decisão após um recurso do governo e analisará o caso neste domingo, depois de concordar em antecipar uma audiência marcada para 7 de agosto. A primeira-ministra Sheikh Hasina pediu aos manifestantes que aguardassem o veredicto do tribunal.
Os manifestantes argumentam que o sistema de cotas é discriminatório e beneficia os partidários de Hasina, cujo partido Awami League liderou o movimento de independência, e exigem que o sistema seja substituído por um outro, baseado no mérito.
Premiê está no quarto mandato
Hasina defendeu o sistema de cotas, dizendo que os veteranos merecem o maior respeito por suas contribuições na guerra contra o Paquistão, independentemente de sua afiliação política.
Representantes de ambos os lados se reuniram no final da sexta-feira para tentar chegar a uma solução. Pelo menos três líderes estudantis estavam presentes e exigiram a reforma do atual sistema de cotas, a reabertura de dormitórios estudantis fechados pela polícia após os confrontos e a renúncia de alguns funcionários de universidades que não conseguiram proteger os campi da violência. O governo se declarou disposto a discutir as demandas.
As manifestações representam o maior desafio para Hasina desde que ela conquistou um quarto mandato consecutivo, nas eleições de janeiro, boicotadas pelos principais grupos de oposição. Diante da crise, Hasina cancelou uma visita diplomática à Espanha e ao Brasil.
as (Efe, Reuters, AFP, AP)