Bélgica: Bloco carnavalesco satiriza Estado Islâmico
Os integrantes se vestiram de jihadistas mesmo com temores de novos ataques terrorista na Europa
Todo ano a cidade de Aalst, ao norte da Bélgica, realiza um carnaval satírico, animado com desfile de blocos e carros com bonecos gigantes que trazem críticas bem-humoradas a temas da atualidade, políticos nacionais e internacionais e personalidades da esfera cultural. Este ano não foi diferente e um jipe com um bloco carnavalescos vestidos de jihadistas foi para a rua na abertura da festa nesse domingo (15) e satirizou as ameaças do Estado Islâmico à Europa em um desfile de seis quilômetros pelo centro da cidade, repleta com 90 mil pessoas.
Mesmo com os temores de novos ataques terroristas na Europa e o país estar em estado de alerta três (em uma escala de um a quatro). A sátira ficou a cargo do irreverente bloco de Aalst, conhecido como Eftepie. “Adoramos nos fantasiar para nos divertir, simplesmente isso, não é para chocar. A festa é bonita, é para fazer todo mundo rir”, disse um dos integrantes do bloco.
Em uma enquete realizada pela imprensa belga hoje com mais de 4 mil internautas, 63,6% deles qualificou a decisão de colocar um carro de jihadistas no desfile de Aalst como "engraçada" e 36,4% considerou como "inaceitável". Devido à preocupação com a segurança, algumas cidades da região sul do país, como Malmedy e Bastogne, proibiram que os carnavalescos se fantasiassem de extremistas islâmicos. Uma ordem policial em Malmedy também proibiu expressamente as fantasias de profeta muçulmano Maomé.
Em 2013, o Eftepie também causou polêmica por representar como Hitler o governador de Antuérpia e líder do partido de direita N-VA, Bart De Wever. Na ocasião o bloco carnavalesco brincava com a ideia de que Wever através de suas medidas de governo “deportava” os belgas francófonos como o então premiê, Elio di Rupo, da região norte de Flandres.
Além do bloco dos jihadistas, houve grupos carnavalescos satirizando a família real belga; a comissão de governo atual do premiê belga Charles Michel; os rumores sobre a morte de Fidel Castro em Cuba e o pedido do Papa Francisco aos fieis para não terem filhos como coelhos.
Um bloco também brincou com a saga do ex-militar Dimitri Bontinck, que foi resgatar por conta próprio o filho Jejoen na Síria. O bloco intitulou um carro de viagens Bontinck, seguido por um carro de malas e jihadistas. Jejoen foi julgado na semana passada por ter feito parte do extinto grupo radical Sharia4Belgium e recebeu uma pena mais leve de 40 meses em liberdade condicional por ter colaborado com as investigações do Ministério Público.
Patrimônio da Unesco
O prefeito de Aalst, Christoph D'Haese, explicou à imprensa belga que a segurança da festa segue cinco eixos de atuação principais com a integração de policiais, médicos, bombeiros e profissionais de logística e comunicação. “Tudo foi filmado e aumentamos o pessoal efetivo em 20%”, disse o prefeito.
Logo após os ataques ao jornal satírico Charlie Hebdo em Paris, Cristoph lembrou que Aalst era a capital flamenga da sátira e defendeu o direito à liberdade de expressão, opinião e humor. "Nós não devemos capitular, porque a civilização está em jogo", escreveu em carta aberta ao povo da cidade em janeiro.
Christoph também destacou que ele tinha a sorte de não ser prefeito de uma cidade “chata” da região de Flandres e que o humor e a sátira eram valores de uma sociedade livre e de alta prioridade para Aalst, cujo carnaval foi reconhecido como patrimônio cultural da Unesco em 2010.
A tradição carnavalesca da cidade remonta há mais de 600 anos e a festa dura três dias, começando no domingo. Nesta segunda-feira (16), o primeiro-ministro belga e o prefeito da cidade cumpriram o costume de jogar à multidão de carnavalescos bombons em forma de cebola, produto agrícola popular da região. Quem é sorteado com o doce que contém o número um, ganha uma cebola de ouro da prefeitura de Aalst.