Bento XVI quebra silêncio e defende manutenção do celibato
Papa emérito alerta em livro que Igreja não deve se deixar influenciar por "mentiras diabólicas e equívocos"
"Acredito que o celibato" dos sacerdotes "tem um grande significado" e é "indispensável para que o nosso caminho na direção de Deus permaneça o fundamento da nossa vida", defende o papa emérito Bento XVI em um livro escrito em cooperação com um cardeal conservador. Um trecho da obra, a ser lançada nesta semana, foi publicado neste domingo (12) pelo jornal francês Le Figaro.
No livro, Bento XVI e o cardeal guineense Robert Sarah defendem ser "urgente, necessário, que todos, bispos, sacerdotes e leigos, redescubram um olhar de fé na Igreja e no celibato sacerdotal que protege o seu mistério". Além disso, citando Santo Agostinho, ambos afirmam: "Não posso ficar calado!".
"Feridos pela revelação de tantos escândalos, desconcertados pelo questionamento constante de seu celibato consagrado, muitos sacerdotes são tentados pelo pensamento de desistir e abandonar tudo", argumentam os autores do livro, intitulado Des profondeurs de nos coeurs (Das profundezas dos nossos corações, em tradução livre).
O texto adverte que a Igreja Católica não deve se deixar influenciar por "maus argumentos, teatralidades, mentiras diabólicas e equívocos em alta que querem desvalorizar o celibato sacerdotal".
De acordo com Bento XVI e Robert Sarah, o casamento requer "o homem como um todo". Como o sacerdócio também reivindica a totalidade do homem, "não parece possível seguir as duas vocações ao mesmo tempo".
Bento XVI, de 92 anos, anunciou sua renúncia em 2013, prometendo silêncio e obediência ao sucessor. Ele foi o primeiro papa a fazê-lo desde a Idade Média. Ao se retirar, ele inicialmente se impôs a uma vida de contemplação e calma, mas posteriormente começou a se expressar cada vez mais abertamente sobre questões-chave da Igreja Católica.
Especialistas em Vaticano receberam com surpresa o fato de Bento XVI agora se pronunciar publicamente sobre um assunto de seu sucessor. "A coabitação é difícil se o emérito não respeitar a promessa de retiro e obediência prevista por ele próprio", afirmou no Twitter o jornalista italiano Iacopo Scaramuzzi.
Em outubro passado, bispos católicos recomendaram, durante o Sínodo da Amazônia, a ordenação de homens casados como sacerdotes como uma solução para enfrentar a escassez de clérigos na região - uma proposta histórica que pode pôr fim a séculos de tradição católica romana.
A maioria dos 180 bispos de nove países da Amazônia pediu também ao Vaticano para reabrir um debate sobre a ordenação de mulheres para desempenhar o papel realizado por diáconos, sustentando que "é urgente que a Igreja promova e confira na Amazônia ministérios para homens e mulheres de maneira equitativa", de acordo com o documento final, citado na ocasião pela agência de notícias Associated Press.
As propostas foram inscritas no documento aprovado no final de um sínodo de três semanas sobre a Amazônia, convocado em 2017 pelo papa Francisco, com objetivo de chamar a atenção para as ameaças à floresta tropical e melhorar as condições do sacerdócio junto aos povos indígenas.
O papa Francisco deve tomar nas próximas semanas uma decisão em relação ao assunto.
A Igreja Católica, que incorpora quase duas dezenas de ritos diferentes, já permite padres casados nas igrejas de rito oriental e em casos em que os sacerdotes anglicanos previamente casados se convertem à Igreja. Se Francisco aceitar a proposta do sínodo, porém, será o início de uma nova era para a Igreja Católica de rito latino.