Biden anuncia novas sanções à Rússia e diz que Putin quer refundar União Soviética
Rússia deu início nesta quinta a ofensiva na Ucrânia. Presidente dos EUA descartou ação militar imediata por parte de seu país.
O presidente norte-americano Joe Biden fez um pronunciamento nesta quinta (24/02) em que anunciou novas sanções e limites às exportações da Rússia. Ele afirmou o objetivo de Vladimir Putin com a invasão da Ucrânia é restabelecer a antiga União Soviética.
Biden disse que as sanções vão atingir as elites russas, os principais bancos do país e empresas envolvidas com tecnologia.
Ele afirma que mais da metade da economia global participará da implementação de sanções contra a Rússia. "Nós vamos limitar a habilidade da Rússia de fazer negócios em dólares, euros, libras e ienes"
"Putin é o agressor, Putin optou por essa guerra e agora ele e seu país vão ter que lidar com as consequências", afirmou. "As ações de Putin mostram uma visão sinistra do futuro do nosso mundo."
No pronunciamento, o presidente norte-americano disse que a invasão russa à Ucrânia foi um ataque "premeditado" há meses por Putin e que o russo tem "ambições muito maiores do que a Ucrânia".
"Ele quer, na verdade, restabelecer a antiga União Soviética."
O presidente norte-americano disse que nesse momento as forças de seu país "não estão e não estarão envolvidas no conflito com a Rússia dentro da Ucrânia, mas sim para defender nossos aliados da Otan".
Em um comunicado, o governo norte-americano informou que quase 80% dos ativos das instituições bancárias russas serão alvo das sanções.
A Rússia iniciou um ataque militar em larga escala contra a Ucrânia, país vizinho ao sul, por ordem do presidente russo, Vladimir Putin no começo desta quinta.
Há relatos de ataques à infraestrutura militar ucraniana em todo o país e de comboios russos chegando de todas as direções.
Veja abaixo uma cronologia do que ocorreu desde o início da ofensiva russa:
Putin ordena ataque
Em pronunciamento televisionado às 05h55 (horário de Moscou), Putin anunciou uma "operação militar" na região de Donbas, no leste da Ucrânia.
Esta área abriga muitos ucranianos de língua russa. Partes dela foram ocupadas e administradas por rebeldes apoiados pela Rússia desde 2014.
Putin disse que a Rússia estava intervindo como um ato de legítima defesa. A Rússia não queria ocupar a Ucrânia, segundo ele, mas iria desmilitarizar e "desnazificar" o país.
Ele pediu aos soldados ucranianos na zona de combate que baixem suas armas e voltem para casa, mas disse que os confrontos são inevitáveis e "apenas uma questão de tempo".
E acrescentou que qualquer intervenção de potências externas de resistência ao ataque russo seria recebida com uma resposta "instantânea".
Explosões ouvidas em todo o país
Correspondentes da BBC escutaram estrondos na capital Kiev, assim como em Kramatorsk, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia. Explosões também foram ouvidas na cidade portuária de Odessa, no sul.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que a Rússia realizou ataques com mísseis à infraestrutura da Ucrânia e guardas de fronteira.
O Ministério da Defesa da Rússia negou ter atacado cidades ucranianas — dizendo que estava mirando infraestrutura militar, defesa aérea e forças aéreas com "armas de alta precisão".
Tanques e tropas entram na Ucrânia
Tanques e tropas invadiram a Ucrânia em trechos ao longo de sua fronteira ao leste, sul e norte, diz a Ucrânia.
Comboios militares russos cruzaram de Belarus para a região de Chernihiv, no norte da Ucrânia, e da Rússia para a região de Sumy, que também fica ao norte, segundo o serviço de guarda de fronteira da Ucrânia (DPSU).
Belarus é um aliado de longa data da Rússia. Analistas descrevem o pequeno país como o "estado-satélite" da Rússia.
Os comboios também entraram nas regiões ao leste de Luhansk e Kharkiv e se deslocaram para a região de Kherson a partir da Crimeia — território que a Rússia anexou da Ucrânia em 2014.
A ofensiva russa foi precedida por disparos da artilharia, e guardas de fronteira ficaram feridos, informou o DPSU.
Também houve relatos de tropas desembarcando por mar nas cidades portuárias do Mar Negro de Mariupol e Odessa, no sul.
Uma forte explosão foi ouvida no centro da cidade de Odessa, e um residente britânico disse à BBC que muitas pessoas estavam indo embora.
Mortes registradas
Pelo menos oito pessoas morreram em bombardeios das forças russas, segundo a polícia ucraniana.
Um ataque a uma unidade militar em Podilsk, nos arredores de Odesa, matou seis pessoas e feriu sete, segundo autoridades. Dezenove pessoas estão desaparecidas.
E uma pessoa morreu na cidade de Mariupol, ao leste.
Ucrânia diz que está se defendendo
As forças armadas ucranianas disseram que derrubaram cinco aviões russos e um helicóptero e provocaram baixas nas tropas invasoras.
"Mantenham a calma e acreditem nos defensores da Ucrânia", diz um comunicado das forças militares da Ucrânia.
O Ministério da Defesa da Rússia negou, no entanto, que suas aeronaves tenham sido derrubadas.
A Ucrânia decretou lei marcial — o que significa que os militares assumem o controle temporariamente — e cortou relações diplomáticas com a Rússia.
O presidente Zelensky instou os russos a protestar contra a invasão e disse que armas seriam distribuídas a qualquer pessoa na Ucrânia que desejasse.
Enquanto isso, o ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, implorou ao mundo que imponha sanções devastadoras à Rússia, incluindo excluir o país do sistema internacional de transferência bancária Swift.
Moradores procuram abrigo
Em Kiev, há grandes congestionamentos nas vias expressas à medida que as pessoas fogem da cidade.
Relatos nas redes sociais fazem referência a uma crescente sensação de pânico, com alguns dizendo que estão sendo levados às pressas para abrigos antiaéreos e porões.
Imagens de televisão mostraram pessoas rezando nas ruas.
Muitas pessoas em Kiev procuraram abrigo em estações de metrô subterrâneas. Há também longas filas em postos de gasolina e caixas eletrônicos.
Mais a leste, em Kramatorsk, na região leste de Donetsk, a correspondente da BBC no leste europeu Sarah Rainsford disse que as pessoas não esperavam um ataque tão amplo.
"As pessoas estavam nas ruas ontem à noite nesta cidade — estavam agitando a bandeira ucraniana. Disseram que esta era sua terra. E não iriam a lugar nenhum", ela contou.
"Isto é o que as pessoas estavam à espera, estavam aguardando, mas ninguém aqui consegue acreditar que de fato está acontecendo."
Preço do petróleo dispara
Os preços do petróleo subiram acima de US$ 100 pela primeira vez em mais de sete anos.
Enquanto isso, a moeda da Rússia, o rublo, caiu para uma baixa histórica em relação ao dólar e ao euro.
E o principal índice FTSE 100 da Bolsa de Valores de Londres caiu mais de 200 pontos, ou 2,7%, logo após a abertura.
Mundo condena Putin
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que Putin "escolheu uma guerra premeditada que trará uma perda catastrófica de vidas e sofrimento humano". O mundo responsabilizaria a Rússia, segundo ele.
Biden disse ainda que faria um pronunciamento aos americanos nesta quinta-feira sobre as consequências que a Rússia enfrentaria.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, afirmou estar "chocado com os eventos horríveis na Ucrânia" e que Putin "escolheu um caminho de derramamento de sangue e destruição ao lançar este ataque sem provocação".
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, condenou o "ataque irresponsável" da Rússia, dizendo que "coloca em risco inúmeras vidas de civis".
A Europa está "enfrentando seus momentos mais sombrios desde a Segunda Guerra Mundial", avaliou o chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell.
Já o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que Putin se aproveitou da "fraqueza" americana.
Ele ligou para a Fox News para dizer que não acreditava que Putin "queria fazer isso, inicialmente".
"Acho que ele queria fazer algo e negociar, e ficou cada vez pior, então ele viu a fraqueza", afirmou Trump.
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