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Boeing 737 MAX 8: o que é o MCAS, o software no centro da tragédia da Ethiopian Airlines

Em meio a dúvidas e suspeitas sobre funcionamento de sistema 'antiestolagem', dezenas de países e companhias aéreas suspenderam o uso do 7373 MAX; fabricante de aviões recomendou suspensão de toda sua frota MAX.

14 mar 2019 - 09h09
(atualizado às 09h28)
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157 pessoas morreram no voo ET 302 da Ethiopian Airlines no último domingo
157 pessoas morreram no voo ET 302 da Ethiopian Airlines no último domingo
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Em menos de cinco meses, dois aviões Boeing 737 MAX 8 tiveram acidentes que resultaram na morte de todos a bordo: um voo em outubro da indonésia Lion Air e outro da etíope Ethiopian Airlines no domingo.

As autoridades ainda estão apurando as causas, mas a semelhança entre os dois incidentes e as "falhas técnicas" no primeiro fizeram com que as atenções se voltassem à segurança do software da aeronave.

Em ambos os casos, o avião perdeu altitude logo após a decolagem, caindo alguns minutos depois, sem deixar sobreviventes.

Além disso, sabe-se que o voo da Lion Air sofreu "problemas técnicos" um dia antes do acidente, de acordo com um livro de registro de voo a que a BBC teve acesso no final de outubro.

Na quarta-feira, em meio a forte pressão internacional - com dezenas de países e companhias aéreas suspendendo o uso do 7373 MAX - , a Boeing recomendou a suspensão de toda a sua frota MAX.

A FAA, a agência de aviação dos Estados Unidos, que até quarta-feira dizia que o modelo era seguro, explicou em sua conta oficial no Twitter que novas evidências do local do acidente na Etiópia "junto com dados de satélite" levaram à decisão de deixar esses aviões no solo.

O órgão acrescentou que o veto permanecerá em vigor "até que investigações adicionais sejam realizadas", incluindo o exame das caixas-pretas e gravações de voz da cabine da aeronave da Ethiopian Airlines.

Um software 'melhor'

O Boeing 737 MAX 8 é uma versão atualizada do 737 que está em uso comercial desde o ano de 2017.

Uma diferença em relação ao modelo anterior é o software conectado à leitura do "ângulo de ataque", ligado a um software criado para ajudar os pilotos a manter a aeronave na posição adequada às condições de voo.

O software de controle de voo é um sistema chamado MCAS (Sistema de Aumento de Características de Manobra). Foi desenvolvido pela Boeing especificamente para o 737 MAX 8 e o MAX 9.

A Boeing explica que o software "não controla a aeronave em voos normais", mas "melhora parte de seu comportamento em condições operacionais não normais".

Por causa do posicionamento dos motores nas asas - mais alto e distante da fuselagem - o modelo teria uma tendência a se inclinar para o alto sob determinadas condições, aumentando as chances de uma estolagem (perda de sustentação aerodinâmica) da aeronave.

Quando o MCAS detecta que o avião está subindo em um ângulo vertical demais sem a velocidade necessária - uma cenário propício para uma estolagem - ele move o estabilizador horizontal na cauda para levar o nariz (do avião) para baixo.

Os investigadores do acidente na Indonésia descobriram que o MCAS entrou em modo ativo quando não deveria, que uma falha no sensor de ângulo de ataque ativou o sistema antiestolagem, levando o nariz do avião a se inclinar para o chão.

Além disso, segundo um banco de dados do governo sobre incidentes de aviação (ao qual o The New York Times teve acesso ), pelo menos dois pilotos que operaram aviões MAX 8 da Boeing 737 nos Estados Unidos expressaram preocupação em novembro sobre como o nariz da aeronave de repente se inclinou para baixo depois de ativar o piloto automático.

Em ambos os casos, os comandantes disseram que conseguiram recuperar o controle da aeronave depois de desativar o piloto automático. Um dos pilotos diz que a descida começou dois ou três segundos após a ativação do piloto automático.

Os problemas enfrentados por eles se assemelham aos dos pilotos que estavam no voo fatídico da Lion Air em outubro passado.

Na segunda-feira, 11 de março, horas após o acidente na Etiópia, a Boeing divulgou um comunicado em seu site anunciando que está trabalhando em uma "melhoria" desse software.

"A Boeing vem trabalhando em estreita colaboração com a FAA no desenvolvimento, planejamento e certificação de melhoria de software e será aplicado na frota de 737 MAX nas próximas semanas. A atualização também incorpora os comentários recebidos de nossos clientes", informou a empresa.

Desafio possível

Dois pilotos americanos relataram em um documento oficial que tiveram problemas semelhantes aos que voo indonésio teria sofrido
Dois pilotos americanos relataram em um documento oficial que tiveram problemas semelhantes aos que voo indonésio teria sofrido
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A empresa diz que a atualização de seu software é projetada para "tornar uma aeronave segura ainda mais segura".

Mas alguns duvidam de que a nave seja mesmo tão segura.

"É muito cedo para especular porque ainda não temos informações sobre o quanto o acidente da Ethiopian Airlines está relacionado ao da Lion Air", diz à BBC Marc Szepan, professor da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Szepan trabalhou como executivo da companhia aérea alemã Lufthansa.

"Se essa associação for realmente comprovada, a Boeing terá um desafio ainda maior para resolver", acrescenta o especialista.

Szepan diz que o software "está no centro da certificação da aeronave e não é algo que pode ser mudado com facilidade".

'Extraordinariamente estranho'

Uma dezena de países - incluindo China, Austrália, Reino Unido e Cingapura - além de companhias aéreas - como a Aeromexico, a Aerolineas Argentinas e a GOL - suspenderam os voos desse modelo.

Boeing 737 MAX 8 que caiu no domingo entrou na frota da Ethiopian Airlines no ano passado
Boeing 737 MAX 8 que caiu no domingo entrou na frota da Ethiopian Airlines no ano passado
Foto: AFP / BBC News Brasil

Além disso, a União Europeia fechou seu espaço aéreo para essas aeronaves.

Dois dias depois, o Canadá e os Estados Unidos aderiram à suspensão.

Szepan diz que a decisão de manter um novo modelo de aeronave no solo é "extraordinariamente raro".

"A última vez que vimos algo assim foi em 2013, quando a FAA retirou outro Boeing de operação, o 787, por causa de um problema com as baterias", recorda.

Coincidência com acidente da Lion Air fizeram soar o alarme de que se trata de falha técnica
Coincidência com acidente da Lion Air fizeram soar o alarme de que se trata de falha técnica
Foto: AFP / BBC News Brasil

Szepan observa que a principal causa do acidente na Etiópia ainda é desconhecida, mas adverte que "do ponto de vista da reputação, a Boeing precisa ser muito cuidadosa".

O Boeing 737 MAX 8 foi a aeronave que a empresa vendeu mais rapidamente em sua história.

A crise de segurança desse modelo poderia comprometer a entrega das quase 4,7 mil aviões já encomendados.

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