Boris Johnson: 4 questões-chave do escândalo sexual que levou à queda do premiê
Premiê britânico renunciou ao posto de líder do Partido Conservador por ter nomeado parlamentar para cargo mesmo após denúncias de crime.
Um novo escândalo provocou a queda do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson.
A crise foi iniciada com um escândalo sexual envolvendo Chris Pincher, um parlamentar conservador próximo a Johnson.
Dezenas de ministros e funcionários do governo renunciaram ou foram demitidos, incluindo o ministro do Tesouro, Rishi Sunak, o ministro da Saúde, Sajid Javid, e o ministro para o País de Gales, Simon Hart. O movimento de demissões culminou com a saída de Boris Johnson, anunciada nesta quinta-feira (7/7)
Esses episódios ocorrem menos de um mês depois que o primeiro-ministro enfrentou uma moção de desconfiança em que 41% dos parlamentares de seu próprio partido votaram contra ele.
Essa tentativa de removê-lo do cargo ocorreu em decorrência das fotos e evidências de reuniões e comemorações na sede do governo que vieram à tona enquanto o resto do país estava confinado em razão das restrições impostas pelo próprio governo de Johnson durante a pandemia de covid-19.
A BBC responde a seguir às perguntas-chave sobre a nova crise que derrubou o primeiro-ministro.
1. Como a crise começou?
Em 30 de junho, o jornal britânico The Sun publicou que Chris Pincher, então deputy chief whip da bancada do Partido Conservador no Parlamento, apalpou dois homens em um clube privado em Londres.
O deputy chief whip é um posto que, no sistema político britânico, tem como atribuição garantir que parlamentares do partido votem conforme a orientação das lideranças.
Pincher, que havia sido nomeado para esse cargo por Johnson em fevereiro deste ano, renunciou imediatamente.
Em poucos dias, a mídia britânica publicou informações de, pelo menos, seis outros casos de suposta conduta sexual inapropriada de Pincher nos últimos anos.
Pincher, que foi suspenso pelo Partido Conservador, pediu desculpas e disse que cooperará totalmente com as investigações sobre sua conduta e está buscando "apoio médico profissional".
2. Por que Boris Johnson está implicado nisso?
Embora o primeiro-ministro britânico não esteja envolvido nessas denúncias de conduta sexual inapropriada, o escândalo coloca Pincher em uma posição difícil, porque o julgamento feito pelo premiê a respeito está sendo questionado, assim como a transparência com que o governo tratou o caso.
Em 1º de julho, o governo disse à imprensa que Johnson não estava ciente de nenhuma alegação contra Pincher antes de sua nomeação.
Um porta-voz disse que o primeiro-ministro não estava ciente de "acusações específicas" sobre Pincher.
Essa foi a mesma posição que vários membros do gabinete mantiveram nos dias seguintes.
No entanto, em 4 de julho, o porta-voz disse que Johnson estava ciente de "alegações que foram resolvidas ou não avançaram para a fase de reclamação" e que não foi considerado apropriado interromper a nomeação de Pincher devido a "alegações sem fundamento".
Naquela mesma tarde, no entanto, a BBC revelou que Johnson havia sido informado sobre uma queixa formal sobre o "comportamento inapropriado" de Pincher enquanto trabalhava no Ministério das Relações Exteriores entre 2019 e 2020.
Esta queixa levou a um processo disciplinar que confirmou que o comportamento inadequado ocorreu.
Mais tarde, em uma entrevista à BBC, Johnson disse: "Houve uma reclamação que foi trazida à minha atenção especificamente... Foi há muito tempo, e chegou até mim em uma conversa. Mas isso não é desculpa, eu deveria ter feito algo sobre isso".
O primeiro-ministro descreveu como "um erro" ter nomeado Pincher, que ele disse ter se comportado "muito, muito mal", e Johnson pediu desculpas às pessoas afetadas.
3. Por que o premiê ficou em uma situação delicada?
"Isso é tudo sobre uma coisa: a verdade", diz o editor de Política da BBC, Chris Mason, analisando a crise em curso no governo britânico.
"Independentemente da onda de detalhes e acusações, tudo se resume a se as pessoas podem acreditar no que o Johnson diz", acrescenta.
E a resposta do governo ao escândalo de Pincher foi mudando progressivamente à medida que outros elementos surgiram, como aconteceu durante o chamado Partygate, caso sobre encontros realizados na sede do governo durante o confinamento devido ao coronavírus, em que ficou provado que Johnson havia participado de algumas dessas reuniões sociais.
"As perguntas são sobre o que Boris Johnson sabia e quando ele sabia. E as respostas continuam mudando, muitas vezes em resposta a fatos desconfortáveis que demonstram que sua defesa anterior não tão sincera quanto poderia ter sido", afirma Manson.
4. O que pode acontecer agora?
Em seu discurso de renúncia, Boris disse que pretende ficar no cargo até outubro, quando seria eleito um novo líder de seu partido — que assumiria então a vaga de primeiro-ministro.
No entanto, parlamentares conservadores querem apressar a sua saída do governo e eleger um novo premiê o mais rápido possível.
Para isso, seria necessário que houvesse mais um voto de desconfiança em Boris — algo que as regras do partido conservador impedem neste momento, já que Boris sobreviveu há pouco a uma dessas moções. As alternativas a isso seriam: mudar essas regras ou pressionar Boris a aceitar sair logo do cargo.
- Texto originalmente publicado em http://bbc.co.uk/portuguese/internacional-62071142