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'Branca de Neve': como filme da Disney se tornou um dos mais polêmicos de 2025

Versão live-action da animação clássica tem recebido um turbilhão de críticas e gerado controvérsia ainda antes da estreia, prevista para 21 de março.

15 mar 2025 - 23h11
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Atriz Rachel Zegler chegou a ser alvo de ataques racistas na internet
Atriz Rachel Zegler chegou a ser alvo de ataques racistas na internet
Foto: Disney / BBC News Brasil

Pouca gente imaginaria que a guerra em Gaza teria impacto em um remake da Disney. Mas a versão live-action do clássico Branca de Neve e os Sete Anões acabou não só sendo capturada pelo debate em torno do conflito no Oriente Médio, como também virou mais um ponto em torno do qual as profundas divisões políticas e sociais do mundo de hoje se manifestam.

Tudo isso ainda antes de seu lançamento global, previsto para o próxima dia 21 de março.

A escalação da atriz Rachel Zegler, de ascendência colombiana, como protagonista gerou uma reação negativa inicialmente. Mais recentemente, foram comentários da atriz a favor da Palestina que suscitaram críticas, assim como manifestações pró-Israel feitas pela atriz israelense Gal Gadot, que interpreta a madrasta de Branca de Neve, a Rainha Má.

Também há um debate em andamento sobre se deveria haver anões, com atores de fato ou feitos por CGI (sigla para computer-generated imagery, imagens geradas por computador).

Com uma recepção muitas vezes hostil, o filme inadvertidamente tem refletido a polarização profunda que cada vez mais mexe com a sociedade e a política em países ao redor do mundo.

Branca de Neve está em produção desde 2019, ganhando tração em 2021 com a escalação de Zegler.

Desde então, os ataques em torno de seu perfil supostamente "woke" se multiplicaram, tornando o filme um para-raios para opiniões que têm pouco a ver com o conto de fadas em que se baseia.

A ponto de, em um artigo recente, o Hollywood Reporter questionar: "Alguns erros de relações públicas combinados com a indignação 'anti-woke' transformaram o marketing do filme em uma maçã envenenada?"

O conselho editorial do jornal New York Post — de propriedade de Rupert Murdoch, o magnata conservador cuja empresa também é dona da Fox News — se manifestou nesta semana, declarando o filme um desastre financeiro antes de sua estreia, emendando: "A controvérsia da Disney sobre Branca de Neve prova mais uma vez: aposte no 'woke', aposte na falência!"

Gal Gadot e Zegler geraram polêmica com comentários sobre guerra em Gaza
Gal Gadot e Zegler geraram polêmica com comentários sobre guerra em Gaza
Foto: Disney / BBC News Brasil

O debate sobre atualização

Qualquer versão da animação original precisaria de uma atualização.

Se, de um lado Branca de Neve e os Sete Anões elevou o nível que passaria a se esperar dos filmes da Disney dali para frente, também introduziu músicas como O Meu Príncipe Vai Chegar, deturpando as expectativas de gerações de garotas ao sugerir que esperassem por uma espécie de príncipe encantado.

No caso de Branca de Neve, ela varre alegremente o chão para os anões até que seu herói apareça para resgatá-la com um beijo depois que ela morde a maçã envenenada da Rainha.

Logo após o anúncio do elenco, Zegler disse ao programa de televisão Extra que na antiga Branca de Neve "havia um grande foco na história de amor dela com um cara que literalmente a persegue".

Na verdade, no filme original o príncipe diz que a "procurou por toda parte" para encontrá-la depois de se apaixonar à primeira vista e desaparece por boa parte do enredo, então não se deve levar o comentário muito a sério. A própria Zegler falou dando risada. Mas, em um sinal precoce das reações negativas que estavam por vir, postagens nas redes sociais reclamaram na época que ela seria "anti-amor".

Alguns também se incomodaram com o fato de Branca de Neve fosse interpretada por uma atriz latina. A jovem chegou a ser alvo de trolls racistas, em uma repercussão semelhante à experimentada pela atriz negra Halle Bailey quando foi escalada como Ariel em A Pequena Sereia, de 2023.

O filme atraiu polêmica também quando suas atrizes principais expressaram opiniões políticas. Em agosto de 2024, Zegler agradeceu aos fãs no X pela resposta ao trailer de Branca de Neve, acrescentando: "lembrem-se sempre, Palestina livre".

Gadot expressou seu apoio a Israel nas redes sociais e, especialmente desde os ataques de 7 de outubro pelo Hamas, tem sido vocal nas manifestações em defesa de seu país e contra o antissemitismo. Isso levou, por um momento, usuários das redes sociais pró-palestinos a fazerem apelos para que o filme fosse boicotado.

As repercussões acaloradas se intensificaram após a eleição presidencial dos EUA em 2024. Zegler postou no Instagram que estava "de coração partido" e com medo, e que esperava que "os eleitores de Trump e o próprio Trump nunca conhecessem a paz".

Em resposta, Megyn Kelly, ex-personalidade da Fox News, atacou Zegler, chamando-a de "porca" e sugerindo que a Disney a substituísse no papel.

A atriz se desculpou com os eleitores de Trump, dizendo "Deixei minhas emoções tomarem conta de mim".

Ator Peter Dinklage foi um dos que criticou o filme
Ator Peter Dinklage foi um dos que criticou o filme
Foto: Alamy / BBC News Brasil

A questão dos anões

Mesmo quando as pessoas que reagiram ao filme concordaram, como em relação ao fato de que os atores com nanismo merecem mais oportunidades, elas discordaram sobre como esses objetivos deveriam ser atingidos.

Peter Dinklage, talvez o ator mais conhecido do mundo com nanismo, questionou todo o projeto antes que muitos detalhes fossem conhecidos, criticando a animação de 1937 por retratar "sete anões vivendo juntos em uma caverna".

No dia seguinte, a Disney anunciou que, "para evitar reforçar estereótipos do filme de animação original", adotaria uma abordagem diferente com os sete personagens.

Eles foram então feitos em CGI e reclassificados como "criaturas mágicas", não anões. Uma espiada no trailer, contudo, revela que a aparência dessas "criaturas", que mantiveram os mesmos nomes da versão original, no fim das contas, é exatamente igual à de anões feitas por CGI.

As mudanças causaram reação em algumas pessoas com nanismo, que refutaram Dinklage e acusaram a Disney de privá-los de papéis de atuação.

Na última semana, um deles disse em entrevista ao jornal britânico Daily Mail: "Acho que a Disney está se esforçando demais para ser politicamente correta, mas ao fazer isso está prejudicando nossas carreiras e oportunidades".

Em meio ao turbilhão de controvérsias, a Disney alterou o tratamento estilo tapete vermelho que um filme importante como esse receberia. Depois de uma estreia na Espanha em 12 de março, a premiére em Los Angeles aconteceu no sábado (15/3) em um horário incomum, à tarde.

Jornalistas que geralmente fazem a cobertura do tapete vermelho não foram convidados, embora, como grupo, não sejam conhecidos por fazer perguntas desafiadoras.

Tentar evitar mais celeuma política e social não é o único problema da Disney com Branca de Neve. Há muita especulação online de que o filme pode ser simplesmente ruim.

O primeiro trailer completo foi recebido com uma onda de reclamações sobre o CGI decepcionante. "A coisa mais feia já colocada na tela", para o jornal britânico The Guardian.

O filme tem novas músicas de Benj Pasek e Justin Paul, a equipe por trás de La La Land. A que foi lançada como uma espécie de clipe, Waiting On a Wish, tem um estilo Disney genérico e sem graça.

Há expectativa de que a bilheteria do fim de semana de estreia chegue a US$ 50 milhões (cerca de R$ 287 milhões), um resultado sólido, mas aquém do sucesso que um filme que supostamente custou mais de US$ 200 milhões poderia gerar.

Claro, dado o rolo compressor da Disney — o recente Moana 2 arrecadou mais de US$ 1 bilhão e Mufasa: O Rei Leão, que teve um começo lento, mais arrecadou mais de US$ 712 milhões —, o desastre que levou à estreia de Branca de Neve pode não prejudicá-lo em nada nas bilheterias.

Ou o filme pode se tornar vítima de seu momento, uma princesa de conto de fadas coberta de lama.

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