Brasileira queria roubar identidade de vítima morta no Japão
Suspeita de estar por trás do crime em que o corpo foi enviado pelo correio pode ter matado a vítima para tirar um passaporte japonês em seu nome
O macabro caso de um corpo enviado pelo correio no Japão ganhou um novo capítulo. Segundo informações veiculadas pela TV japonesa, a brasileira suspeita de estar por trás do crime poderia ter matado a vítima para roubar sua identidade, tirando um passaporte japonês em seu nome.
Segundo a polícia japonesa, a brasileira de 29 anos estava com o visto de permanência no Japão vencido.
Por este motivo, os investigadores não descartam a hipótese de que a morte da enfermeira Rika Okada, 29 anos, cujo corpo foi enviado por um serviço de entrega expressa e percorreu mais de 300 km, pode ter sido premeditado. Rika foi colega de escola da brasileira na infância.
A polícia fez buscas durante a semana no apartamento da brasileira e descobriu, pelos documentos encontrados, que ela reside no Japão de forma ilegal. O passaporte também estava vencido.
A brasileira viajou para a China no começo deste mês, usando o documento falso, em companhia de uma amiga chinesa. Ela teria usado ainda um cartão de crédito da vítima para pagar as passagens.
Na China
A imprensa japonesa acompanha de perto o caso e divulgou que a brasileira teria se entregado ao Consulado do Japão em Xangai, na China, no último dia 27. De lá, ela teria sido encaminhada à polícia chinesa por estar em situação ilegal no país.
A BBC Brasil entrou em contato com o Consulado-Geral do Brasil em Xangai, na China, e foi informada que, até agora, não houve nenhum contato por parte das autoridades chinesas sobre a prisão de um cidadão brasileiro em situação ilegal no país.
Tampouco houve contato de brasileira pedindo auxílio consular. A fonte disse que o consulado acompanha o caso e pediu às autoridades locais para ser avisado caso houver alguma prisão de um cidadão brasileiro.
A jovem chegou ao Japão com 7 anos e foi educada em escola japonesa.
"É muito comum na comunidade brasileira do Japão encontrarmos jovens que perderam totalmente o elo com o Brasil e se sentem hoje mais japoneses, mesmo não tendo dupla nacionalidade", diz Norberto Shinji Mogi, presidente da organização sem fins lucrativos Sabja, que auxilia brasileiros nas áreas de saúde, educação e trabalho.
"Muitos nem falam mais o português, principalmente em famílias nas quais não há diálogo com os filhos.".
Por isto, Mogi não estranha o fato da brasileira ter procurado o consulado japonês na China.
Caso complicado
A polícia japonesa também divulgou que foram encontradas impressões digitais da brasileira no papelão que envolvia o corpo de Rika, o que aumenta os indício do envolvimento dela no crime.
A enfermeira foi encontrada morta dentro de um contêiner de aluguel, a cerca de 500 metros do apartamento onde a brasileira morava, na cidade de Hachioji, subúrbio de Tóquio.
A polícia descobriu também que a jovem teria solicitado o serviço de transporte de uma empresa de serviços gerais. Desta forma, o corpo foi deslocado do apartamento para o contêiner.
Sem um acordo de extradição de prisioneiros entre China e Japão, ainda é incerto o destino da brasileira. Ela está detida pela polícia em Xangai, acusada apenas de estadia ilegal no país.
O Ministério das Relações Exteriores do Japão fez um pedido de extradição da brasileira, mas os dois países não possuem um tratado bilateral nessa área. E o fato dela ter a nacionalidade brasileira complica ainda mais o caso.
A polícia de Osaka, que suspeita do envolvimento da brasileira no assassinato da enfermeira e quer interrogá-la, enviou à China um pedido de extradição acusando-a de ter usado um passaporte falso para sair do país.
Cabe à China a decisão do que fazer. Ela pode ser enviada de volta ao Japão ou ser deportada ao Brasil.
Japão e Brasil também não têm acordos nesta área e o governo brasileiro em princípio não extradita seus nacionais, mesmo que foragidos da polícia em outros países.
Desaparecimento
O caso teve início com o desaparecimento da enfermeira, há dois meses. No dia 21 de março, ela não apareceu mais ao hospital onde trabalhava.
Pouco antes de sumir, ela tinha escrito em uma conta na rede social que iria se encontrar com uma amiga a quem não via há muitos anos. O corpo de Rika foi encontrado cerca de 300 quilômetros longe de onde morava.
Ela foi enviada, dentro de uma caixa, por serviço expresso de encomendas e, no formulário de entrega, o conteúdo foi descrito como sendo uma "boneca". O endereço onde chegou o pacote é de um apartamento alugado em nome de uma brasileira.
A empresa transportadora disse que o pacote foi enviado de Osaka em nome de Rika.
Segundo divulgou a polícia, o depósito onde estava o corpo foi alugado também em nome da vítima e pago com o cartão de crédito dela.
A perícia técnica encontrou mais de 50 facadas em seu corpo. A maioria não era muito profunda, na altura do tórax.
Os legistas ainda não conseguiram descobrir se as perfurações foram a causa da morte. Como não há ferimentos defensivos nos braços, ela pode ter sido esfaqueada depois de já estar morta.
A polícia aguarda o laudo técnico, mas suspeita-se que o corpo de Rika tenha ficado quase um mês na casa da brasileira até ser transportado para o contêiner.
Amigas de infância
A brasileira e a enfermeira Rika eram amigas de escola. Em fevereiro, haviam se encontrado depois de 10 anos.
Segundo o pai da suspeita, entrevistado pelo jornal Yomiuri, eles não conversavam com a filha há mais de três anos. "O que aconteceu? Gostaria de perguntar isso a ela", disse ao periódico.
A brasileira veio ao Japão com a família quando tinha 7 anos de idade. Entrou numa escola japonesa e foi quando conheceu Rika.
Há cerca de três anos, a brasileira se mudou para o subúrbio da capital japonesa, onde dividia um apartamento com uma ex-universitária chinesa.