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Brasileiras correm riscos para fazer plásticas na Venezuela

Apesar de caos no sistema de saúde básico no país vizinho, busca por tratamento estético é alta em razão dos preços mais baixos

5 mar 2019 - 09h54
(atualizado às 09h55)
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PACARAIMA - Com medicamentos em falta, hospitais insalubres e o avanço de doenças contagiosas, a Venezuela possui um mercado ativo de pacientes brasileiros em busca de tratamento particular em medicina estética. O fechamento da fronteira com o Brasil pelo presidente Nicolás Maduro atrapalhou os planos de dezenas de pacientes que tentavam voltar por terra a Roraima.

O principal destino no país caribenho é Puerto Ordaz, a cerca de 600 quilômetros da fronteira com Pacaraima, em Roraima. Quatro clínicas privadas comandadas por médicos venezuelanos, cubanos e brasileiros atraem a clientela com preços que chegam a 10% do cobrado no Brasil. A Sociedade Brasileira de Medicina Estética não tem dados sobre a procura. Não raro, brasileiras morrem por realizar cirurgias plásticas em clínicas clandestinas no Brasil.

Alguns brasileiros vão por conta própria à Venezuela, enquanto outros contratam cuidadores para obter facilidades nos trâmites e intermediar o contato com os médicos. Os cuidadores acompanham a viagem e as cirurgias. Perfis nas redes sociais fazem propaganda dos médicos e oferecem os serviços, buscados, principalmente, por moradores de Roraima, Pará e Amazonas.

Procedimentos na Venezuela chegam a custar 10% de seu preço no Brasil
Procedimentos na Venezuela chegam a custar 10% de seu preço no Brasil
Foto: Morsa Images / via iStock

Com a fronteira fechada, duas mulheres se arriscaram voltando a pé ao Brasil por trilhas abertas por contrabandistas na vegetação de savana. O trajeto mais rápido dura entre uma e duas horas para quem possui bom condicionamento físico, mas é um esforço extenuante para pessoas que passaram por cirurgias. As duas precisaram ser socorridas ao chegar do lado brasileiro - uma delas foi carregada numa maca.

Entre as 70 pessoas que estavam no vice-consulado brasileiro na cidade fronteiriça de Santa Elena do Uairén há duas semanas, quatro mulheres eram recém-operadas - uma passara por operação nos seios, no glúteo e no abdômen de uma só vez, como forma de otimizar a viagem. Não havia morfina para as dores. O grupo atravessou a fronteira após acordo com o regime bolivariano.

Entre elas, estava a profissional de enfermagem Roberta Gomes da Silva, de 35 anos, que realizara a primeira fase do tratamento para varizes. Ela pagou R$ 1 mil pelos cuidados, que incluíram técnica com uso de laser e ozonioterapia, tratamento complementar para infecções e inflamações reconhecido no ano passado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Roberta levou na mala tudo o que faltava para a recuperação: meias de compressão, medicamentos e um aparelho de pressão.

Há quatro anos, ela começou a viajar ao país vizinho levando conhecidos para as clínicas. Aos poucos, decidiu testar procedimentos simples, como remoção de sinais na pele, e atualmente só faz tratamentos eletivos em clínicas venezuelanas. Ela afirma que se trata em uma clínica com alvará de funcionamento, higiene e equipamentos adequados, além de um gerador. "Se eles tiverem como trabalhar, é impecável. Eu só faço procedimentos na Venezuela. Eles são muito detalhistas, as pessoas não ficam jogadas, como se pensa." Roberta diz que pretende voltar para concluir o tratamento.

A vendedora Keila Quirino, de 30 anos, ficou presa com as filhas Ana Gabriela, de 10 anos, e Maria Fernanda, de 4 anos, no vice-consulado e decidiu abandonar o tratamento em Puerto Ordaz. O marido, garimpeiro de ouro na Venezuela, também está de saída do país por causa da violência das milícias.

"Não pretendo ir mais, dessa vez fiquei com medo. Vi o cenário de guerra, carros metralhados, furos nas paredes", diz Keila. A vendedora buscou a Venezuela pela proximidade e pelos preços atrativos. Realizou uma consulta pré-operatória e agendou uma cirurgia vascular ao preço de R$ 1.989 em Puerto Ordaz. Em Roraima, os custos ficariam entre R$ 12 mil e R$ 15 mil.

Câmbio

O pagamento na Venezuela é arriscado, porque os médicos recebem em dólar ou real, já que o bolívar é desvalorizado. Uma das opções é transferir o dinheiro em reais a uma conta bancária de um intermediador que tenha dupla nacionalidade e contas em bancos brasileiros e venezuelanos. Essa pessoa, que retém parte do valor como pagamento, entrega o cartão de um banco venezuelano para as brasileiras.

Os médicos tratam com informalidade as pacientes e fazem ofertas durante as consultas. Roberta, por exemplo, diz que lhe ofereceram uma correção nas pálpebras por R$ 1 mil.

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