Burning Man: o êxodo para deixar festival após milhares ficarem ilhados
Segundo organizadores, a morte de um homem que participava do evento, registrada na sexta-feira, não foi decorrente do mau tempo.
As condições climáticas no festival Burning Man, nos Estados Unidos, melhoraram o suficiente para que os primeiros participantes do evento, que começou em 27 de agosto, deixassem o local.
A forte chuva transformou o evento, realizado no deserto de Nevada, em um enorme lamaçal.
Cerca de 72 mil pessoas ficaram presas no festival, mas os organizadores começaram a permitir que os participantes deixassem o local no início da tarde desta segunda-feira (4/9), no horário local.
Eles aconselharam, no entanto, adiar a saída até terça-feira para evitar "grandes congestionamentos".
Imagens obtidas por drones mostram longas filas de veículos nas estradas próximas ao local do evento.
Desde domingo (3/9), o solo já está seco o suficiente para que veículos possam circular sem atolar.
Os organizadores também confirmaram que a morte de um homem que participava do evento, registrada na sexta-feira (1/9), não foi decorrente do mau tempo.
Segundo a organização, os serviços de emergência foram chamados para socorrer o homem, que teria cerca de 40 anos, mas ele não pôde ser reanimado. A delegacia local disse anteriormente que estava investigando o caso.
Acredita-se que a tempestade que atingiu o deserto de Black Rock no final da semana passado tenha sido a chuva mais longa e intensa a atingir o evento desde o início do festival, há mais de 30 anos.
Martyna Sowa, uma dançarina contratada para se apresentar no evento, disse ao programa Today da BBC Radio 4 que ficou surpresa com o quão ruins as condições se tornaram. "Foi uma experiência realmente estranha", disse.
Os foliões, que acampam no local e devem viver de forma autossuficiente como parte do espírito do festival, foram orientados a procurar abrigo e a conservar alimentos, combustível e água.
O mau tempo, no entanto, fez com que banheiros químicos e chuveiros ficassem temporariamente fora de uso, porque os veículos de serviço não conseguiam circular na lama para esvaziá-los.
"Inicialmente, nos disseram que não poderíamos sair até terça-feira, mas as pessoas que realmente precisam ir puderam sair", disse Sowa.
Embora muitos tenham permanecido no local, alguns optaram por caminhar 8 km pela lama até a estrada mais próxima.
Os organizadores do evento providenciaram ônibus para levar as pessoas da estrada até a cidade de Reno - mas algumas pessoas dizem que tiveram que pagar pelas viagens ou pegar carona para sair da área.
Mas alguns foliões enfrentam as condições pantanosas com mais calma: dançando na lama e organizando festas de karaokê.
"Estou me divertindo muito", disse Jazz Korona à BBC.
No domingo, porém, a sensação de alegria foi substituída por um ar crescente de preocupação, com cada vez mais pessoas dispostas a partir.
Faye, participante do Burning Man que mora em Londres, disse à BBC que ficou "coberta de lama nos últimos três dias".
"Não há chuveiros aqui", disse ela. "A única coisa que você pode fazer é lavar-se com lenços umedecidos dentro da barraca."
As tempestades incomuns ocorreram no final do festival de nove dias, quando as maiores multidões chegam para ver o grande final do evento - a queima do boneco gigante de madeira.
A queima estava programada para acontecer no domingo, mas foi adiada por um dia. Muitos dos outros eventos do festival, incluindo a apresentação de Sowa, tiveram de ser cancelados.
Mesmo antes de o Burning Man começar oficialmente, em 27 de agosto, o local foi atingido por resquícios do furacão Hilary, o que levou os organizadores a fechar os portões para chegadas antecipadas.
Burning Man é um dos eventos artísticos e culturais mais conhecidos dos Estados Unidos, no qual os visitantes criam uma cidade temporária no meio do deserto.
Foi fundado em junho de 1986 e realizado pela primeira vez no deserto de Black Rock, em Nevada, em 1990.
Os ingressos podem ser muito difíceis de conseguir. Por vezes, quem deseja ir precisa se submeter entrevistas para participar dos acampamentos mais populares, com o objetivo de provar seu compromisso com os ideais do evento.
'Saímos andando'
Ashley Smith, de Londres, disse que ele e cinco amigos tiveram que deixar o festival para voltar ao trabalho. No entanto, ele disse que a polícia estava impedindo as pessoas de saírem.
"Mas é um deserto aberto", disse ele à BBC. "Então nós apenas arrumamos todas as nossas coisas, calçamos algumas botas - alguns de nós colocamos sacos plásticos em volta das botas - e saímos andando."
Ele disse que eram "cerca de seis milhas [10km] até a estrada mais próxima, e de lá eram mais 16 quilômetros até a cidade mais próxima".
Chelsea Gold e seu marido disseram à BBC que decidiram ficar, mas disseram: "É uma chatice, estamos tristes. É a nossa segunda 'queima' e estamos chateados".
"Para mim e meu marido, é uma fuga das coisas difíceis", disse.
Questionada sobre quando eles poderão sair de lá, ela não soube responder. "Todo mundo fica dizendo 'sei tanto quanto você'", disse ela.
'A lama alcalina pode queimar sua pele'
O ator e influenciador Justin Schuman, que está no festival há 11 dias, disse que a situação no deserto de Black Rock trouxe à tona o que há de melhor nas pessoas.
"O que tenho visto pessoalmente é resiliência", disse ele à CBS News, parceira da BBC nos EUA. "Já vi uma grande quantidade de pessoas se unindo, vi estranhos abraçando estranhos, vi pessoas presenteando outras pessoas."
Schuman e os seus amigos têm suprimentos suficientes para vários dias e têm partilhado o que podem com os mais necessitados.
Mas ainda não é o lugar mais agradável para se estar.
Ele descreveu a lama como "muito, muito molhada e muito, muito escorregadia", e alertou: "Também é muito alcalina, então você tem que ter cuidado para não haver exposição prolongada à lama, porque aparentemente ela pode começar a realmente queime suavemente sua pele."
Tratam-se de queimaduras químicas, de acordo com os organizadores do festival Burning Man. Os foliões são aconselhados a manter os pés cobertos e lavá-los regularmente.