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Cada vez mais jovens aderem à extrema-direita francesa

30 jan 2011 - 16h51
(atualizado em 31/1/2011 às 13h30)
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Lúcia Müzell
Direto de Paris

Eles rejeitam o rótulo de extrema-direita - o consideram "degradante" - e admitem sem medo a admiração pelo líder Jean-Marie Le Pen, o maior representante do conservadorismo francês e que recém deixou a presidência do partido Frente Nacional, após tê-lo fundado há 38 anos. Uma adoração que antigamente era mantida em anonimato, agora não é mais tabu entre os jovens militantes do partido, cujo líder ficou conhecido por negar o Holocausto e fazer campanha pela expulsão dos muçulmanos da França.

Rachline, 23 anos e coordenador nacional da FNJ: jovens compõem importante parcela da extrema-direita
Rachline, 23 anos e coordenador nacional da FNJ: jovens compõem importante parcela da extrema-direita
Foto: Divulgação

A Frente Nacional da Juventude (FNJ) é responsável por quase a metade de um total de 22,4 mil militantes associados ao partido. As impressionantes 10 mil adesões de militantes com entre 16 e 30 anos começam a se aproximar dos cerca de 25 mil jovens militantes do principal partido de direita, o UMP - o mesmo do presidente Nicolas Sarkozy. Em uma pesquisa recente do instituto TNS/ Sofres, 22% dos franceses afirmaram que concordam com os principais argumentos do FN - contra 18% há um ano. Além disso, nada menos do que 43% dos eleitores do UMP desejam uma união com o partido da extrema-direita nas próximas eleições presidenciais.

Nos últimos anos, o UMP registrou uma perda de 6 mil jovens militantes, e estima-se que 12% deles tenham adquirido imediatamente uma carteirinha da Frente Nacional. Com o slogam "a França para os franceses", a página da FNJ no Facebook já reúne 4,6 mil fãs, que usam o espaço para reclamar da ineficiência do governo Sarkozy em combater a imigração e os efeitos da crise econômica - com frequência, a segunda é atribuída à primeira. "Eu trabalho desde os 18 anos e não ganho nenhuma ajuda social. Já os meus vizinhos africanos pagam apenas 50 euros de aluguel por mês. É insuportável", escreve Quentin, 22 anos.

"Nós estamos convencendo os jovens e os eleitores em geral de que não somos um partido de extrema-direita, mas sim um partido de direita nacionalista e soberana, que defende os interesses da França", justifica o coordenador nacional da FNJ, David Rachline, 23 anos.

Rachline - filho de um pai que vota à esquerda e de uma mãe indiferente à política - não tem o menor pudor em afirmar que concorda "100%, de A a Z" com as posições de Jean-Marie Le Pen, que em 1987 disse que a existência das câmaras de gás destinadas à eliminação massiva de judeus, ciganos, homossexuais durante a Segunda Guerra foi "um detalhe da história". Outro alvo constante do ex-presidente da sigla são os imigrantes. "É preciso distinguir na lei de imigração os estrangeiros de origem europeia, fáceis a se integrar à cultura francesa, e os oriundos do terceiro mundo", disse Le Pen. "Existe uma desigualdade das raças, assim como existe desigualdade de civilizações".

Para Rachline, alinhado desde os 15 anos ao partido, a imigração "é uma questão central, mas não é responsável por todos os problemas da França". Apesar da pouca idade, o jovem sustenta um discurso agressivo - embora populista -, sempre na defensiva. Acostumado a enfrentar as perguntas diretas e nem sempre agradáveis da imprensa francesa, Rachline gosta de interrompê-las para defender o partido. Ele aborda o tema da insegurança da cada instante, sempre logo após tratar do "problema da imigração". "A questão é que se continuarmos deixando as portas abertas para todo mundo, o verdadeiro povo francês vai desaparecer".

Admiração por Chávez

Rachline define os jovens que assumem a adesão às ideias da Frente Nacional como patriotas. "São jovens cansados de só ouvir promessas dos políticos de esquerda e direita e só ver a situação social e econômica da França piorar nos últimos anos", disse o militante, cujas convicções anti-globalização e protecionistas o tornam também um admirador de símbolos esquerdistas, como o presidente venezuelano Hugo Chávez. "É um homem forte, que resiste a todas as pressões, e que acredita, como eu, que o neoliberalismo e imperialismo americano são nefastos para todo o mundo".É importante lembrar que, nas eleições presidenciais de 2002 - que levaram Le Pen ao segundo turno -, a maioria dos jovens franceses votou na Frente Nacional. Foram 17% de votos para Le Pen, contra 14% para o candidato da direita tradicional (UMP), Jacques Chirac.

Outra liderança jovem do partido de extrema-direita, Jérémy Thébault, presidente da FNJ na região de Paris, defende que a Frente Nacional é o único partido da França que não tem medo de defender os direitos dos franceses "da gema". "É o único partido que decreta guerra contra os perigos que ameaçam o futuro dos franceses. É também o único que nos permite dizer que somos orgulhosos de ser franceses", defende Thébault, 24 anos. O universitário argumenta que, por ter a coragem de falar o que os outros partidos tergiversam a dizer, o FN tem conquistado cada vez mais o voto dos jovens. "Só o FN trata abertamente sobre a ligação estreita entre a insegurança e a imigração".

Na opinião do jovem, a juventude e o "espírito renovador" de Marine Le Pen, filha de Jean-Marie e herdeira do trono de líder do partido há duas semanas, vai atrair cada vez mais jovens militantes para a sigla. "Não existe mais essa hipocrisia de se definir como eleitor de direita, mas não assumir a opção pela Frente Nacional. Hoje, as problemáticas que nós apontamos na França acabaram virando problemáticas nacionais, até mesmo para a esquerda".

Fonte: Especial para Terra
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