Câmara dos EUA aprova impeachment de Trump e presidente será julgado pelo Senado
Donald Trump se tornou o terceiro presidente dos Estados Unidos a ter um impeachment aprovado pela Câmara dos Deputados, na noite de quarta-feira, ao ser formalmente acusado pela Casa de abuso de poder e obstrução do Congresso, em uma votação histórica que vai inflamar as tensões partidárias em um país profundamente dividido.
A aprovação de dois artigos de impeachment na Câmara, liderada pelos democratas, prepara o terreno para um julgamento no próximo mês no Senado, que é controlado pelos republicanos --um terreno mais amigável para Trump, ele próprio um republicano-- sobre condená-lo e destituí-lo do cargo.
Nenhum presidente nos 243 anos de história dos Estados Unidos foi destituído do cargo por impeachment. Isso exigiria uma maioria de dois terços no Senado, que tem 100 membros, o que significa que pelo menos 20 republicanos teriam que se juntar aos democratas na votação contra Trump -- e nenhum indicou que o fará.
O líder republicano no Senado, Mitch McConnell, disse que "não há chance" de a Casa remover Trump quando o presidente for julgado.
Trump, de 73 anos, é acusado de abusar de seu poder ao pressionar a Ucrânia a investigar o rival político Joe Biden, um dos principais candidatos à nomeação presidencial democrata para 2020, e também uma teoria desacreditada de que os democratas conspiraram com a Ucrânia para interferir nas eleições de 2016 nos EUA.
Os democratas disseram que Trump reteve uma ajuda de 391 milhões de dólares em ajuda de segurança à Ucrânia destinada a combater os separatistas apoiados pela Rússia e adiou uma cobiçada reunião na Casa Branca com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, como forma de pressionar o governo de Kiev a interferir nas eleições de 2020 ao prejudicar Biden.
Um segundo artigo de impeachment acusou Trump de obstrução do Congresso por ordenar que funcionários e agências do governo não cumprissem as intimações legais da Câmara para prestar depoimentos e entregar documentos relacionados ao inquérito de impeachment.
Trump, que vai buscar outro mandato de quatro anos nas eleições presidenciais de novembro de 2020, nega ter cometido irregularidades e diz que o inquérito de impeachment lançado pela presidente da Câmara, Nancy Pelosi, em setembro, é uma "caça às bruxas".
Em um comício de sua campanha de reeleição em Battle Creek, no Michigan, enquanto a Câmara votava, Trump disse que o impeachment era uma "marca de vergonha" para os democratas e Pelosi, e os custaria caro nas eleições de 2020.
"Este impeachment partidário e sem lei é uma marcha suicida política para o Partido Democrata", disse Trump. "Eles são os que devem ser acusados, todos eles."
"DEFESA DA DEMOCRACIA"
Durante um debate que durou um dia inteiro antes da votação, Pelosi leu o Juramento de Fidelidade dos EUA e disse: "Estamos aqui para defender a democracia para o povo".
"Se não agirmos agora, estaríamos fugindo do nosso dever. É trágico que as ações imprudentes do presidente tornem necessário o impeachment", disse Pelosi.
À medida que o debate se desenrolava, os republicanos acusavam os democratas de tentarem usar o processo para anular as eleições de 2016 e influenciar a votação de 2020.
"O assunto hoje perante a Câmara se baseia unicamente no ódio fundamental ao nosso presidente. É uma farsa, uma caça às bruxas -- e isso equivale a um golpe contra o presidente eleito dos Estados Unidos", disse o deputado republicano Mike Rogers.
A votação do impeachment ocorreu durante a campanha de reeleição de Trump, na qual o republicano enfrentará o vencedor de uma disputa interna dos democratas, incluindo Biden, que criticou repetidamente a conduta de Trump no cargo e prometeu torná-la uma questão fundamental.
"O presidente Trump abusou de seu poder, violou seu juramento e traiu nossa nação", disse Biden no Twitter após a votação, acrescentando: "Nos Estados Unidos da América, ninguém está acima da lei -- nem mesmo o presidente".
Pesquisas Reuters/Ipsos mostram que, embora a maioria dos democratas queira um impeachment, a maioria dos republicanos não o quer. As audiências na Câmaras transmitidas pela televisão no mês passado, destinadas a criar apoio público ao impeachment, parecem ter dividido ainda mais os dois lados.
Apenas dois presidentes anteriores dos EUA tiveram impeachment aprovado na Câmara. Em 1998, a Casa votou contra o presidente Bill Clinton por acusações de perjúrio e obstrução da Justiça decorrentes de um relacionamento sexual que teve com uma estagiária da Casa Branca, mas o Senado o absolveu.
A Câmara também aprovou o impeachment do presidente Andrew Johnson em 1868, concentrando-se em sua remoção do secretário de Guerra, mas ele foi absolvido pelo Senado.
Em 1974, o presidente Richard Nixon renunciou depois que o Comitê Judiciário da Câmara aprovou artigos de impeachment no escândalo de corrupção de Watergate, mas antes que o plenário da Câmara votasse o impeachment.