Cardeal demitido emite manifesto, em ataque velado ao papa
Um cardeal demitido de uma posição importante pelo papa Francisco escreveu seu próprio "Manifesto da Fé", no último ataque contra a autoridade do pontífice por um dos líderes da ala conservadora da Igreja.
O cardeal Gerhard Müller, 71 anos, alemão que foi o chefe de doutrinas do Vaticano até 2017, emitiu um manifesto de quatro páginas, na sexta-feira, por meio de veículos de imprensa conservadores da Igreja.
Ele disse que "muitos bispos, padres, religiosos e leigos" exigiram-no. Ele não disse quantos e por que o estava publicando agora.
No entanto, conservadores ficaram insatisfeitos, na última semana, quando Francisco fez sua primeira viagem como papa à península arábica e assinou um "Documento pela Fraternidade Humana" com um líder religioso muçulmano.
Católicos ultra-conservadores são contra o diálogo com o islamismo, com alguns dizendo que o seu último objetivo é destruir o Ocidente.
A data do manifesto é 10 de fevereiro, o sexto aniversário da véspera do anúncio de renúncia do ex-papa Bento, 91, que permanece como um ícone para católicos conservadores.
Müller disse que escreveu o manifesto "diante da confusão cada vez maior em relação à doutrina da fé".
Ele disse que alguns líderes da Igreja "abandonaram pessoas confiadas a eles, perturbando-os e danificando severamente a sua fé". Ele alertou contra "a fraude do anti-Cristo".
Müller, que não mencionou o papa, é um dos poucos cardeais conservadores que abertamente acusaram Francisco de semear a confusão.
Eles dizem que ele está enfraquecendo as regras católicas em questões morais, como homossexualidade e divórcio, enquanto se concentra excessivamente em problemas sociais como mudanças climáticas e desigualdade econômica.
O líder dessa ala é Raymond Leo Burke, 70, norte-americano que foi deposto de uma alta posição do Vaticano em 2014.
Müller tem intensificado suas críticas ao papa desde que Francisco o removeu como chefe da Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé, em 2017.
A maior parte do manifesto reafirmava lições da Igreja, inclusive várias que o próprio Francisco confirmou com veemência, como o celibato para padres e a proibição à ordenação das mulheres.
Uma seção, no entanto, foi uma crítica clara a Francisco, que estendeu a mão a católicos que se divorciaram e casaram novamente fora da Igreja.
Francisco acredita que deveria ser permitido a alguns receber a comunhão, em uma análise caso a caso, o que é um anátema para conservadores.
O Vaticano não comentou o documento.