Casamento real: como o príncipe Harry passou de 'garoto problema' ao trabalho com caridade
Sexto na linha de sucessão ao trono britânico, Harry foi alvo de muitas polêmicas na adolescência; depois serviu por 10 anos ao Exército e recentemente passou a se dedicar a causas de caridade.
Todo o alvoroço em torno de seu casamento com a atriz Meghan Markle neste sábado, 19, no Castelo de Windsor, com a cerimônia sendo transmitida ao vivo para o mundo todo, não é nenhuma novidade para o príncipe Harry, 33.
O filho mais novo do príncipe Charles e da princesa Diana cresceu acostumado a estar no centro das atencões e a ter cada um dos seus passos acompanhado pela mídia. Ele é o sexto na linha de sucessão ao trono britânico - antes dele estão seu pai, Charles, o irmão, William, e seus sobrinhos George, Charlotte e Louis.
Harry tentou andar na linha entre suas vidas pública e privada. Aceitou aparecer várias vezes para promover as boas causas que apoia, mas também se preservou - ou tentou - quando a atenção se tornou demais.
Sua trajetória foi a de uma criança da realeza lidando com a perda precoce da mãe, passando pela adolescência festeira, por uma carreira nas Forças Armadas e, mais recentemente, o trabalho dedicado à caridade.
O príncipe, agora com 33 anos, disse que sua experiência no Exército ficará com ele pelo resto da vida. Isso acabou refletindo em seu atual trabalho de caridade, que se concentra na saúde mental e na ajuda aos veteranos.
Infância
Nascido no Hospital St. Mary, em Paddington, em 15 de setembro de 1984, o príncipe foi batizado como Henry Charles Albert David pelo arcebispo de Canterbury em dezembro daquele ano na capela de St. George, em Windsor, mesmo local onde ele irá se casar com Meghan.
Mas, desde os primeiros dias de vida, foi anunciado oficialmente que ele seria conhecido como Harry.
O príncipe seguiu o caminho educacional de seu irmão mais velho, William, e estudou no tradicional colégio Eton, em Londres. Ele concluiu a escola em 2003.
Harry tinha 12 anos quando sua mãe, a princesa Diana, morreu em um acidente de carro. Muitas pessoas se lembram da imagem do príncipe no funeral de Lady Di, caminhando atrás do carro fúnebre que transportava o caixão dela, acompanhado do irmão, do pai, do avô e do tio.
Em 2017, em entrevista do jornal inglês Daily Mail, Harry falou sobre como foi difícil superar a morte da mãe.
"Eu posso dizer com segurança que perder minha mãe aos 12 anos e, portanto, desligar todas as minhas emoções nos últimos 20 anos, teve um efeito bastante sério não apenas na minha vida pessoal, mas também no meu trabalho", disse. "Eu provavelmente estive muito perto de um colapso emocional completo em várias ocasiões, quando todos os tipos de tristeza e todos os tipos de mentiras chegam a você de todos os ângulos."
Polêmicas
Na adolescência, Harry começou a ganhar mais manchetes na imprensa.
Em 2002, aos 17 anos, os jornais britânicos revelaram que Harry tinha fumado maconha algumas vezes e que bebia. A informação depois foi confirmada pelo Palácio de St. James.
O príncipe Charles teria levado o filho caçula para visitar um centro de reabilitação para dependentes de álcool e drogas para que ele tivesse um "choque de realidade".
Dois anos depois, Harry, que já frequentava várias festas, se envolveu em uma briga com um paparazzo quando saía de uma boate. O fotógrafo alegou ter sido agredido pelo príncipe.
Um porta-voz real disse, na época, que o príncipe de 20 anos "foi atingido no rosto por uma câmera quando os fotógrafos se aglomeraram em torno dele" e que "ao afastar a câmera, entende-se que o lábio de um fotógrafo foi cortado".
Em 2005, Harry foi novamente alvo de polêmica. Isso porque ele decidiu ir a uma festa à fantasia vestido de nazista, com uma suástica na camisa.
Com a repercussão negativa da imagem, Harry pediu desculpas, por meio de um comunidado oficial, por qualquer ofensa ou constrangimento que tenha causado. O texto da Clarence House, residência do príncipe naquela época, dizia: "Ele entende que foi uma má escolha de fantasia".
Mais tarde, um ex-professor de Harry na escola Eton disse que o príncipe só ganhava boas notas porque os outros mestres o ajudavam - e que assim teria tirado uma nota A num trabalho de artes. As acusações foram depois rejeitadas em um tribunal.
Mais confusões
No mesmo ano, Harry teve sua primeira namorada oficial, a sul-africana Chelsy Davy, filha de um milionário do ramo de safáris. A Clarence House chegou a reclamar que a segurança do príncipe foi colocada em risco quando o casal foi seguido por um paparazzo durante um passeio em Botsuana.
Em 2009, Harry se desculpou por usar linguagem ofensiva para descrever um integrante asiático de seu pelotão do Exército, depois que imagens de vídeo do incidente foram divulgadas. Ele chamava o colega de "paqui", termo pejorativo usado para se referir a paquistaneses e a pessoas de pele mais escura.
O Palácio de St. James soltou mais um comunicado dizendo que o príncipe sentia muito por qualquer ofensa "que suas palavras possam ter causado", e que ele teria usado o termo "sem qualquer malícia e como apelido sobre um membro altamente popular de seu pelotão".
Em 2012, em uma pausa do Exército, fotos de Harry nu ao lado de uma mulher em um quarto de hotel em Las Vegas foram divulgadas. Ele de desculpou pelo ocorrido.
"Provavelmente me decepcionei, decepcionei minha família e decepcionei outras pessoas", falou. "Mas foi provavelmente um clássico exemplo de eu sendo demasiadamente do Exército, e não suficientemente um príncipe."
Antes de ingressar nas Forças Armadas, em 2005, Harry passou um ano sabático, trabalhando em uma fazenda de ovelhas na Austrália e com órfãos da aids no Lesoto.
Ao contrário do avô, Philip, e do pai, Charles, que serviram à Marinha, Harry optou pelo Exército.
Para seu treinamento, foi enviado à academia militar Sandhurst, que forma os principais oficiais do Exército britânico. Após 44 semanas de aula, ele se formou cadete da Cavalaria da Guarda Real em 2006, numa cerimônia que contou com a presença da avó, a rainha Elizabeth 2ª.
No ano seguinte, foi para o Afeganistão pela primeira vez em uma missão oficial. Antes, havia se decepcionado por não ter ido para uma missão no Iraque porque seus superiores alegaram que ele, até então o terceiro na linha de sucessão ao trono, "corria riscos inaceitáveis".
Ele passou 10 semanas servindo no Afeganistão em 2008 - mas teve que sair em meio a preocupações com sua segurança após a imprensa divugar informações sobre sua localização.
Ele retornou ao Afeganistão como copiloto atirador de helicóptero Apache de setembro de 2012 a janeiro de 2013, antes de se qualificar como comandante da aeronave em julho de 2013.
No Exército, Harry era conhecido como capitão Harry de Gales.
Em entrevista em 2013, ele confessou ter matado no Afeganistão.
"Sim, disparamos quando precisamos, tiramos uma vida para salvar uma vida, mas essencialmente somos muito mais uma dissuasão do que qualquer outra coisa. Se tem gente tentando fazer coisas ruins com os nossos caras, então vamos tirá-los do jogo, suponho", falou.
Caridade
Nos últimos anos, Harry tem se dedicado ao trabalho com caridade.
Em abril, a rainha o nomeou embaixador da juventude da Commonwealth - ele incentivará os jovens dos países que já foram colônias britânicas a enfrentarem novos desafios.
Seu esforço maior está na presidência dos Jogos Invictus, uma competição internacional de estilo paralímpico para veteranos militares mutilados.
Ele lançou o evento esportivo em Londres em março de 2014. A segunda edição, em maio de 2016, foi realizada em Orlando, nos EUA, e a terceira, em setembro de 2017, em Toronto.
Foi nos Jogos de 2017 que Harry e Meghan Markle fizeram a primeira aparição pública. Eles foram fotografados de mãos dadas, alimentando especulações sobre seu relacionamento.
Harry foi uma presença constante na Olimpíada de Londres 2012, da qual foi um um embaixador olímpico.
Ele também apareceu bastante durante o Jubileu da Rainha no mesmo ano - e como parte das celebrações completou sua primeira turnê viajando sozinho representado a realeza em visitas a Belize, Bahamas, Brasil e Jamaica.
Nos últimos anos, Harry, o irmão, William, e a cunhada Kate Middleton concentraram seus esforços em campanhas com foco na saúde mental. Eles fundaram o grupo Heads Together (Cabeças Juntas), que visa a combater o estigma e angariar fundos para novos serviços de apoio.
Ele também trabalha pela instituição Walking With the Wounded (Caminhando com os Feridos), para veteranos, e defende causas que sua mãe costumava encampar, como a de acabar com as minas terrestres e ajudar crianças afetadas pelo HIV.