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Caso de mulher arrastada pela rua em plena luz do dia provoca debate sobre machismo e violência no Peru

Agressão, que ocorreu no bairro de classe média alta Miraflores, em Lima, foi filmada por vizinha, viralizou e esquentou discussão sobre feminicídio no país.

12 out 2017 - 11h53
(atualizado em 13/10/2017 às 11h53)
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Ministra peruana pediu endurecimento das penas para o crime de agressão contra mulheres | Foto: NiUnaMenos/Facebook
Ministra peruana pediu endurecimento das penas para o crime de agressão contra mulheres | Foto: NiUnaMenos/Facebook
Foto: BBC News Brasil

Em plena rua, em um dos mais badalados bairros de Lima, a capital do Peru, Martín Alonso Camino Forsyth, de 29 anos, arrasta pela calçada sua namorada, Micaela de Osma, de 23.

A cena, ocorrida no domingo em Miraflores, foi gravada em vídeo por uma vizinha do casal.

As impressionantes imagens viralizaram nas redes sociais e esquentaram o debate sobre machismo, violência contra mulher e feminicídio no país.

Camino Forsyth foi detido no domingo, logo depois que a namorada prestou queixa contra ele na polícia.

Osma narrou que, antes de arrastá-la pela rua, o namorado a ameaçou com uma faca para que fornecesse a senha do telefone celular, em um ataque de ciúme.

Ela tentou fugir e, então, Camino Forsyth a segurou pelo braço e a arrastou por vários metros até levá-la de volta ao apartamento dele.

Dois dias preso

Ministra peruana pediu endurecimento das penas para o crime de agressão contra mulheres | Foto: NiUnaMenos/Facebook
Ministra peruana pediu endurecimento das penas para o crime de agressão contra mulheres | Foto: NiUnaMenos/Facebook
Foto: BBC News Brasil

Depois de ser detido, o agressor foi acusado de tentativa de feminicídio e ficou preso por 48 horas, o máximo permitido por lei para esse crime.

O caso levou a ministra da Mulher e de Populações Vulneráveis do Peru, Ana María Choquehuanca, a tecer duras críticas à legislação.

"Somente podem deter alguém por dois dias. Temos que fazer um esforço conjunto do Executivo e Legislativo para reforçar as leis", disse Choquehuanca, na segunda-feira, numa coletiva de imprensa.

"Essa semana vou conversar com meus colegas congressistas para pedir apoio em relação a esse tema", disse a ministra.

Feminicídio

No Peru, há pelo menos um feminicídio ou uma tentativa de feminicídio por dia, segundo o movimento Ni Una Menos. A entidade diz que registrou 941 assassinatos de mulheres - a maior parte deles cometidos pelos companheiros ou ex-companheiros - de 2009 a junho deste ano.

Segundo o Observatório de Criminalidade do Ministério Público do Peru, 57% das vítimas de feminicídios morreram em sua casa.

O Brasil, por sua vez, é o país com a quinta maior taxa de feminicídio do mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de assassinatos chega a 4,8 para cada 100 mil mulheres. O Mapa da Violência de 2015 contabilizou, entre 1980 e 2013, 106.093 mortes pela condição de ser mulher.

Apesar das estatísticas, poucos foram os casos que deram tanto o que falar quanto o episódio de domingo no Peru. A cena de Camino Forsyth arrastando a namorada foi exibida por vários programas na televisão.

Grupo Ni Una Menos oferece uma plataforma digital para receber casos de violência contra mulheres e encaminhá-los às autoridades peruanas | Foto: Arlette Contreras
Grupo Ni Una Menos oferece uma plataforma digital para receber casos de violência contra mulheres e encaminhá-los às autoridades peruanas | Foto: Arlette Contreras
Foto: BBC News Brasil

Parte do interesse se deve ao fato de que o casal é de classe média alta e de a cena ter ocorrido na rua de um dos mais elegantes bairros da capital peruana. O fato de ter sido registrado em vídeo também ajudou a dar repercussão nacional - e internacional - ao caso.

"Uma vizinha gravou tudo, isso jamais acontece", disse à BBC Mundo, Paola Ugaz, jornalista que colabora com o movimento Ni Una Menos.

Ugaz acredita que se a vítima não tivesse reportado a agressão, a repercussão não teria sido a mesma.

A ministra Choquehuanca também salientou a coragem da vizinha que filmou a agressão e pediu aos cidadãos que intervenham em casos de violência de gênero.

"Nunca devemos ficar calados. Nesse caso, agradeço a vizinha que fez a gravação", disse a ministra, afirmando ainda que ainda é muito raro uma mulher denunciar o companheiro por violência.

Movimento Ni una menos marcou nova manifestação em defesa das mulheres em Lima
Movimento Ni una menos marcou nova manifestação em defesa das mulheres em Lima
Foto: BBC News Brasil

A comoção nacional pelo caso levou o grupo Ni Una Menos a convocar um protesto para 25 de novembro em Lima.

Esta será a segunda grande manifestação convocada pelo grupo.

A primeira foi em agosto do ano passado, e contou com dezenas de milhares de pessoas. Ela foi inspirada no movimento de mesmo nome, Ni Una Menos, surgido na Argentina, em 2015. A imprensa e diferentes partidos políticos apoiaram a iniciativa, ocorrida sob o lema "mexem com uma, mexem com todas".

De lá pra cá, entretanto, pouco mudou. Paola Ugaz espera que a indignação com esse caso mais recente dê força à causa.

Recentemente, a jornalista Lorena Álvarez denunciou o companheiro - um comentarista econômico e acadêmico de prestígio - por reiteradas agressões e ameaças de homicídio.

No caso da agressão de Miraflores, Martín Alonso Camino Forsyth se declarou culpado e disse que estava drogado na hora da agressão.

Além de ressaltar a violência contra mulheres, o episódio mostrou que a cultura machista ainda é forte no país.

Um exemplo é um texto publicado pelo diário sensacionalista Trome, muito popular no Peru, com o título "Nem uma a menos: por que Martín Alonso Camino Forsyth agrediu sua namorada?", no qual tentou explicar o comportamento do agressor.

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