Caso George Floyd: quem é o policial preso pela morte de homem negro que causa revolta nos EUA
Derek Chauvin foi registrado em vídeo ajoelhado sobre o pescoço de Floyd. Ele e três outros policiais foram demitidos na segunda-feira. O caso reacendeu a ira dos EUA por assassinatos cometidos contra negros americanos pela polícia.
Um ex-policial de Minneapolis foi preso acusado do assassinato de George Floyd, um homem negro, que estava desarmado e sob custódia quando foi morto.
Derek Chauvin, que é branco, foi filmado se ajoelhando sobre o pescoço de Floyd. Ele e três outros policiais foram demitidos na segunda-feira.
O caso reacendeu a revolta nos EUA contra os diversos casos de negros mortos pela polícia.
O procurador do condado de Hennepin, Mike Freeman, disse que Chauvin foi acusado de assassinato em terceiro grau e observou que a investigação dos outros policiais está em andamento.
Ele disse acreditar que haverá acusações contra os outros três policiais, mas não ofereceu mais detalhes.
Freeman disse que agiu assim que as evidências foram apresentadas.
Logo depois que as acusações foram anunciadas, o procurador-geral dos EUA, William Barr, disse que o Departamento de Justiça e o FBI estão conduzindo "uma investigação independente para determinar se alguma lei federal de direitos civis foi violada".
Barr chamou o vídeo da prisão de Floyd de "angustiante de ver e profundamente perturbador".
Essa não foi a primeira vez que Chauvin se envolveu em episódios violentos. Veja abaixo o que se sabe sobre o caso e sobre o histórico dos policiais.
Quem é Derek Chauvin
Esta não foi a primeira vez que o policial Derek Chauvin se envolveu em episódios violentos, segundo registros do departamento de polícia.
Segundo a agência de notícias Associated Press, ao longo de 19 anos de carreira, Chauvin foi alvo de quase 20 queixas formais e duas cartas de reprimenda. A maioria foi arquivada.
Em 2006, ele foi um dos seis policiais que dispararam contra Wayne Reyes, que segundo os agentes apontou uma arma para eles depois de esfaquear duas pessoas. O júri decidiu que o uso da força havia sido justificado contra Reyes, de ascendência indígena.
Dois anos depois, Chauvin atirou duas vezes contra um homem negro depois que o policial e seu parceiro atenderam a uma denúncia de violência doméstica.
Os agentes afirmaram que Ira Latrell Toles tentou pegar a arma de Chauvin e, por isso, foi atingido. Por outro lado, Toles afirmou ao site Daily Beast que foi agredido por Chauvin mesmo sem ter reagido à ação policial.
No início de 2008, Chauvin recebeu uma medalha por "sua resposta em um incidente envolvendo um homem armado", informou o jornal local de Minnesotta Pioneer Press, e recebeu outro reconhecimento em 2009.
E dos outros policiais?
Outros três policiais que estavam presentes estão sob investigação.
De ascendência asiática, Tou Thao, parceiro de Chauvin que estava presente no momento em que George Floyd morreu sufocado, também já havia respondido a queixas por atos violentos.
Em 2014, um homem negro, Lamar Ferguson, denunciou Thao e outro agente sob acusação de ter sido agredido sem motivo enquanto caminhava em direção à casa de sua namorada. Três anos depois, foi firmado um acordo de US$ 25 mil para encerrar o caso.
Ainda não há informações sobre os outros dois, Thomas Lane e J. Alexander Kueng.
O que aconteceu?
Darnella Frazier, que passava pela rua, sacou seu celular enquanto assistia horrorizada à cena em que Floyd, no chão, algemado e desarmado, ficava inconsciente sob a pressão do joelho de um dos policiais brancos que o haviam detido.
Ao que parece, pouco antes, Floyd, que trabalhava como segurança em um restaurante, tentou fazer uma compra com uma cédula falsa de US$ 20.
Depois de implorar por sua vida várias vezes e dizer "não consigo respirar", Floyd perdeu os sentidos. Pouco depois de ser levado por uma ambulância, ele foi declarado morto.
No vídeo de 10 minutos, Chauvin imobiliza Floyd e ignora as reclamações tanto do detido quanto das testemunhas sobre sua violência extrema.
Seu colega de patrulha, Thao, observa a cena impassível e trata de obstruir a visão das pessoas que transitam pela rua.
Darnella Frazier decidiu publicar seu vídeo nas redes sociais e as ruas de Minneapolis viraram palco de uma onda de protestos que se espalhou pelos Estados Unidos.
O flagrante dela foi visto mais de 1 milhão de vezes.
Chauvin é acusado de causar a morte de Floyd "por praticar um ato eminentemente perigoso" e por ser negligente, "criando um risco irracional e tendo a chance de causar a morte ou grandes danos corporais".
A denúncia criminal também acusa Chauvin de ter "uma mente depravada, sem consideração pela vida humana".
Diz que Chauvin ficou de joelhos no pescoço de Floyd por oito minutos e 46 segundos - por quase três minutos, o policial continuou ajoelhado quando Floyd já estava inconsciente.
O relatório completo do médico legista não foi divulgado, mas a denúncia afirma que o exame não encontrou evidências de "asfixia traumática ou estrangulamento".
O médico legista observou que Floyd tinha problemas cardíacos e a combinação destes, "potenciais intoxicantes em seu sistema" e ser contido pelos policiais "provavelmente contribuiu para sua morte".
O manual da polícia de Minnesota afirma que oficiais treinados sobre como comprimir o pescoço sem aplicar pressão direta nas vias aéreas podem usar um joelho segundo sua política de uso da força. Isso é considerado uma opção de força não-letal.
No entanto, de acordo com especialistas ouvidos pelo jornal The New York Times, o método usado pelo policial Chauvin é permitido apenas em situações de ameaça à vida do agente, o que não era o caso. Além disso, por ser um método arriscado, hoje em dia é pouco adotado pela polícia americana e não faz mais parte do treinamento policial no Estado de Minnesota.
Quem era Floyd?
Sua irmã, Bridgett Floyd, disse a veículos de imprensa locais que George era um homem temente a Deus, independentemente do que havia feito.
"Todos temos os nossos defeitos. Todos cometemos erros. Ninguém é perfeito."
"A forma como ele morreu é cruel", disse a mãe de sua filha de 6 anos, Roxie Washington, ao jornal Houston Chronicle. "Eles o roubaram da minha filha."
Nascido em Houston, George Floyd se dedicou em sua cidade natal ao basquete e ao futebol. Ele também atuou na cena local de hip-hop, onde era relativamente conhecido.
Mas quando se mudou para Minneapolis começou uma nova vida como segurança do restaurante latino-americano Conga Latin Bistro, no centro da cidade.
Forte, mas 'super doce'
O segurança ganhou rapidamente o apelido dos colegas de "Big Floyd" (Grande Floyd).
"Era alto e musculoso", descreve um colega de trabalho, Vernon Sawyerr. "Era simplesmente amável. Quando nos deparamos com alguém desse tamanho, pode parecer ameaçador, mas ele era super doce."
Em 2017 e 2018, Floyd havia sido segurança particular de um abrigo de emergência para pessoas sem teto ligado à organização beneficente Exército da Salvação, em Minneapolis. "Que trágico e triste é isso tudo", afirmou Brian Molohon, diretor-executivo da entidade.
"Para trabalhar em um abrigo de emergência é preciso ser um tipo especial de pessoa. É realmente muito difícil ver essa angústia todos os dias", disse Molohon. "Não tenho dúvidas de que George, como muitos outros trabalhadores de abrigos na nossa comunidade, tinha um coração que se preocupava com as pessoas e nossa comunidade."
A ex-estrela da NBA Stephen Jackson publicou em seu perfil no Instagram o lamento de ter perdido alguém que considerava um irmão. Ambos eram muito próximos e se apelidaram de "gêmeos".
"Me enfurece tanto que, depois de todas as coisas pelas quais você passou e se comportou da melhor maneira possível, eles o levaram dessa maneira", escreveu o ex-jogador de basquete.