Visita de Trump a Pittsburgh após massacre provoca protesto
Presidente participará das homenagens aos mortos no ataque; autoridades locais se recusam a recebê-lo
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, esteve em Pittsburgh nesta terça-feira (30/10) para prestar homenagem aos 11 judeus assassinados no massacre em uma sinagoga no último sábado. A visita do chefe de Estado, contudo, não foi bem vista por todos na cidade.
Cerca de 1.500 pessoas foram às ruas para uma manifestação pacífica contra a visita do presidente e em homenagem às vítimas do ataque. O ato foi realizado no bairro de Squirrel Hill, coração da comunidade judaica em Pittsburgh e onde fica a sinagoga alvo do crime.
Cidadãos de todas as idades e religiões, incluindo muitas famílias jovens, crianças e idosos, marcharam por vários quarteirões segurando cartazes com dizeres como "presidente do ódio, deixe o nosso estado" e "as mentiras de Trump matam".
Os manifestantes de Pittsburgh, uma cidade no estado da Pensilvânia de maioria democrata, argumentam que discursos de ódio do presidente - contra judeus e outras minorias, como afro-americanos, a comunidade LGBT e imigrantes - impulsionam a supremacia branca e alimentam um aumento do antissemitismo nos Estados Unidos.
Durante a manifestação, um dos organizadores leu em voz alta uma carta aberta escrita por um movimento de judeus de Pittsburgh, acusando Trump de ter "responsabilidade direta" pelo massacre na sinagoga e pedindo a ele que não fosse à cidade.
"Presidente Trump, você não é bem-vindo a Pittsburgh até que renuncie à supremacia branca", disse a ativista, seguindo as palavras da carta. O documento, escrito pela organização Bend the Arc, foi assinado por cerca de 70 mil pessoas antes da chegada do presidente.
Durante o protesto, os presentes também cantaram canções e, enquanto uma pequena prece em hebraico era proferida, ergueram os braços ao céu.
Quando a marcha passou por policiais em serviço e por um quartel de bombeiros, os manifestantes deram aplausos estrondosos e gritaram "obrigado", em agradecimento às forças de resgate que responderam ao massacre no último sábado.
"É importante mostrar solidariedade neste momento de tragédia inimaginável", afirmou a aposentada Patricia Calderone, de 62 anos, que participou do ato. Segundo ela, Pittsburgh é "mais forte que o ódio". "É uma cidade pequena e diversa, mas as pessoas são próximas. Estamos unidos e não vamos deixar que isso aconteça aqui e nos machuque."
A visita de Trump não desagradou só a população. O governador da Pensilvânia, Tom Wolf, e o prefeito de Pittsburgh, Bill Peduto, ambos democratas, informaram que não iriam acompanhar ou cumprimentar o presidente durante a sua passagem pela cidade.
Em Pittsburgh, Trump e a primeira-dama, Melania, visitaram a sinagoga Árvore da Vida, que foi alvo do ataque cometido por um atirador no último fim de semana. Ele estava acompanhado ainda de sua filha Ivanka e o marido dela, Jared Kushner, e do secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, os três judeus.
Eles passaram cerca de 20 minutos na sinagoga, onde conversaram com um rabino e, seguindo uma tradição de enterros judaicos, puseram uma pequena pedra sobre cada uma das 11 estrelas de Davi colocadas na frente do templo em memória às vítimas do massacre, que começaram a ser veladas nesta terça-feira. Também depositaram rosas brancas a poucos metros de onde ocorreu o crime.
O presidente americano e sua mulher entraram ainda no vestíbulo da sinagoga, onde acenderam velas em homenagem às vítimas, mas não percorreram todo o edifício, uma vez que ainda é considerado uma cena do crime e está isolado pelos investigadores.
Depois, a família Trump se deslocou ao hospital presbiteriano da Universidade de Pittsburgh, para onde foram transferidos alguns dos feridos no ataque.
No último sábado, um homem abriu fogo contra dezenas de fiéis reunidos dentro da sinagoga, aos gritos de "todos os judeus devem morrer". O atirador, identificado como Robert Bowers, de 46 anos, foi detido e acusado de 29 crimes federais.
O ataque foi condenado por várias organizações hebraicas, pelo governo em Washington, pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e pela chanceler federal alemã, Angela Merkel, que denunciou um "cego ódio antissemita".
Logo após o massacre, Trump defendeu a pena de morte como forma de evitar crimes como aquele, bem como sugeriu a necessidade de afrouxar a legislação sobre posse de armas, afirmando que o final da história poderia ter sido "muito melhor" se houvesse alguém armado dentro da sinagoga.