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Chanceler de Israel provoca Lula nas redes: 'Ninguém vai separar nosso povo, nem você'

Tel-Aviv tem cobrado pedido de desculpas do presidente brasileiro por comparar guerra em Gaza ao Holocausto; Brasil vê uso político da crise

23 fev 2024 - 17h00
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Para parlamentares, Lula teria cometido 'crime contra a humanidade' durante entrevista na Etiópia
Para parlamentares, Lula teria cometido 'crime contra a humanidade' durante entrevista na Etiópia
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

TEL-AVIV - O ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, voltou a provocar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas redes sociais nesta sexta-feira, 23. Tel-Aviv tem cobrado um pedido de desculpas de Lula por comparar a guerra em Gaza ao Holocausto, mas aliados do petista já disseram que ele não pretende se retratar.

No X (antigo Twitter), Katz publicou uma ilustração que mostra brasileiros e israelenses abraçados com as bandeiras dos dois países ao fundo e escreveu: "Ninguém vai separar o nosso povo, nem mesmo você, Lula". O chanceler primeiro postou em português, como tem feito ao se dirigir ao brasileiro. Depois, repetiu em hebraico.

Em publicações anteriores Katz já chamou a comparação de Lula de "vergonha" e apareceu ao lado da brasileira Rafaela Triestman, sobrevivente do ataque terrorista do Hamas, em 7 de outubro. O governo de Israel também usou as redes para chamar Lula de "negacionista do Holocausto".

As provocações continuaram mesmo após a reação dura do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, que no início da semana chamou de "insólito" o tratamento dado a Lula.

"Inaceitáveis na forma, e mentirosas no conteúdo", disse o chefe do Itamaraty sobre as declarações do homólogo israelense. "Uma chancelaria dirigir-se dessa forma a um chefe de Estado, de um país amigo, o presidente Lula, é algo insólito e revoltante", acrescentou.

Tel-Aviv declarou Lula "persona non grata" até que se retrate pela comparação. Mas o assessor especial da presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, já disse que "existe zero possibilidade de o presidente Lula pedir desculpas".

O governo brasileiro vê uso político da crise por parte de Israel, que enfrenta crescente pressão internacional. Isso no momento em que prepara uma incursão terrestre em Rafah, último reduto para 1 milhão de palestinos que deixaram suas casas no enclave sitiado durante a guerra.

Também irritou o Itamaraty a reprimenda pública de Israel Katz ao embaixador brasileiro Frederico Meyer, no Museu do Holocausto. Em resposta, o governo brasileiro trouxe Meyer como gesto de descontentamento. E chamou o embaixador israelense Daniel Zonshine para uma conversa - a quarta, desde que assumiu a representação de Tel-Aviv em Brasília.

Como mostrou o Estadão, aliados de Lula defenderam esta semana que Zonshine fosse expulso do País, medida que poderia levar ao rompimento de relações com Israel. O Itamaraty, no entanto, descartou a expulsão, pelo menos por enquanto. A ideia é evitar uma escalada da crise.

Crise diplomática

Em mais uma crítica a Israel pela guerra em Gaza, Lula cruzou o que o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu chamou de "linha vermelha" ao comparar as ações de Tel-Aviv com o extermínio de judeus na 2ª Guerra Mundial. "O que está acontecendo em Gaza não aconteceu em nenhum outro momento histórico, só quando Hitler resolveu matar os judeus", disse Lula no último domingo.

A declaração foi duramente criticada por Israel, que cobra uma retratação pública do presidente brasileiro e chegou a pedir por solidariedade internacional. Os chefes de Estado de outros países, contudo, evitaram se envolver na crise.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, que esteve no Brasil para a reunião de ministros das Relações Exteriores do G-20, o reforçou que os EUA discordam da comparação feita por Lula. Mas disse contar com o apoio brasileiro na busca de uma saída para a guerra. O Estadão mostrou que o encontro no Rio de Janeiro avançou no consenso para a criação do Estado palestino.

Planos para o futuro de Gaza

Washington, principal aliado de Tel-Aviv tem afirmado que a chamada solução de dois Estados é o caminho para a paz duradoura depois da guerra em Gaza. O governo de Israel, por outro lado, rejeitou publicamente a ideia de que o enclave seja administrado por uma Autoridade Palestina fortalecida.

A Autoridade Palestina foi criada a partir dos acordos de paz de Oslo, em 1993, e é controlada pelo Fatah. Rival do Hamas, foi expulso da Faixa de Gaza em 2007, com ascensão do grupo terrorista no enclave, mas ainda administra partes da Cisjordânia ocupada por Israel.

Nesta sexta, Tel-Aviv divulgou um plano para o pós-guerra, que prevê o controle militar israelense sobre Cisjordânia e Gaza. A proposta já foi rejeitada por Blinken.

"Não vi o plano. Há alguns princípios básicos que dispusemos muitos meses atrás. Não pode ser uma plataforma para o terrorismo e não deve haver reocupação israelense de Gaza", disse Blinken em visita a Argentina após a passagem pelo Brasil. "O tamanho do território de Gaza não deve ser reduzido", acrescentou.

A guerra foi desencadeada pelo ataque terrorista do Hamas, que matou 1,2 mil pessoas em Israel e levou 240 como reféns. Do lado palestino, o conflito conflito já deixou mais de 29,5 mil mortos, segundo o ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas./COM AFP

Estadão
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