China inicia exercícios militares ao redor de Taiwan
Pequim lança operação militar de três dias como "advertência severa" após visita da presidente taiwanesa aos EUA
A China iniciou exercícios militares em torno de Taiwan neste sábado (08/04), os quais chamou de uma "advertência severa" ao governo da ilha autogovernada após um encontro entre a presidente taiwanesa e o presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos.
Apelidada de "United Sharp Sword" (espada afiada unida), a operação de três dias - que a mídia estatal diz incluir o ensaio de um cerco a Taiwan - vai transcorrer até segunda-feira, informou o Comando do Teatro Oriental do Exército de Libertação Popular da China, em comunicado.
A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, condenou imediatamente os exercícios e prometeu trabalhar com "os EUA e outros países que pensam parecido" contra o "expansionismo autoritário contínuo".
Pequim, por sua vez, afirmou que tais operações "servem como uma advertência severa contra um conluio entre as forças separatistas que buscam a 'independência de Taiwan' e as forças externas, e contra suas atividades provocativas".
"As operações são necessárias para salvaguardar a soberania nacional e a integridade territorial da China", declarou Shi Yin, porta-voz do Exército de Libertação Popular da China.
Neste sábado, o Ministério da Defesa taiwanês disse ter detectado oito navios de guerra e 42 caças chineses em torno da ilha. Entre os jatos, 29 teriam cruzado a zona de identificação de defesa aérea do sudoeste de Taiwan (ADIZ), o número mais alto em um único dia neste ano, segundo dados coletados pela agência de notícias AFP.
O que se sabe sobre os exercícios
Os exercícios de guerra chineses deverão envolver ainda o envio de aviões, navios e oficiais para "as áreas marítimas e o espaço aéreo do Estreito de Taiwan, nas costas norte e sul da ilha, e para o leste da ilha", afirmou o porta-voz Shi Yin.
Na segunda-feira, as manobras militares deverão incluir exercícios de tiro ao largo da costa da província chinesa de Fujian, localizada mais próxima da ilha autogovernada de Taiwan.
Mais tarde, a emissora estatal CCTV disse que "a força-tarefa organizará simultaneamente patrulhas e avanços ao redor da ilha de Taiwan, moldando um cerco completo de uma postura de dissuasão".
A CCTV detalhou inclusive o tipo de armamento usado pela China, incluindo "artilharia de foguetes de longo alcance, contratorpedeiros navais, barcos com mísseis, caças da força aérea, bombardeiros, bloqueadores e reabastecedores".
O Ministério da Defesa de Taiwan, por sua vez, divulgou um vídeo que mostra soldados carregando lançadores de mísseis antiaéreos, caças decolando e outros exercícios de preparação militar. As imagens incluem ainda a vigilância do porta-aviões Shandong da China, que navegou pelas águas do sul de Taiwan no início desta semana.
O vídeo taiwanês de 1 minuto e meio, que tem legendas em inglês, termina com um texto dizendo: "Não buscamos escalada nem conflito, mas permanecemos firmes, racionais e sérios para reagir e defender nosso território e soberania".
Tensões entre Taiwan e Pequim
As manobras ocorrem após uma reunião entre a presidente taiwanesa Tsai e o presidente da Câmara dos EUA, Kevin McCarthy, realizada nesta semana na Califórnia. A China condenou com veemência o encontro, tachando-o de um "show político".
Já o Ministério da Defesa de Taiwan disse que a China está usando a visita de Tsai aos EUA como uma "desculpa para conduzir exercícios militares, o que tem prejudicado seriamente a paz, a estabilidade e a segurança na região".
É a sétima passagem da líder de Taiwan pelos Estados Unidos desde que ela tomou posse, em 2016. Nessas visitas, por vezes Tsai se reuniu com autoridades americanas, incluindo membros do Congresso. Mas este foi o primeiro encontro entre um presidente taiwanês e um presidente da Câmara dos EUA em solo americano.
As tensões entre Pequim e Taiwan já estavam acirradas desde o ano passado, após uma visita da então presidente da Câmara americana Nancy Pelosi a Taiwan. À época, o regime chinês também realizou exercícios militares em torno da ilha após a visita.
Pequim considera a ilha democrática e autogovernada como parte de seu território e prometeu tomá-la um dia, mesmo que seja necessário agir à força.
Washington, por sua vez, tem adotado há décadas uma política de ambiguidade estratégica em relação a Taiwan. Os EUA mantêm uma relação amigável com o governo taiwanês, mas não o reconhecem como um Estado totalmente soberano, e não há relações diplomáticas formais.
A Casa Branca tem vendido equipamentos militares de defesa para Taiwan, mas não se comprometeu oficialmente com uma intervenção militar, em caso de uma possível invasão chinesa à ilha autogovernada.
ek (AFP, Lusa, ots)