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China prende manifestantes contrários à política de "covid zero"

País vive a sua maior onda de desobediência civil desde os atos pró-democracia de 1989. Um jornalista da emissora britânica BBC foi preso

28 nov 2022 - 11h31
(atualizado às 12h13)
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China prende manifestantes contrários à política de "covid zero"
China prende manifestantes contrários à política de "covid zero"
Foto: Reuters

As forças de segurança da China detiveram na madrugada desta segunda-feira, 28, em Xangai, manifestantes que protestavam contra a estratégia de "covid zero" adotada pelo governo chinês, que impõe bloqueios a milhões de pessoas durante semanas. Questionada, a polícia de Xangai não informou o número oficial de presos.

Há dias, chineses saem às ruas nas principais cidades do país pedindo mais liberdades políticas e, mais recentemente, até a renúncia do presidente Xi Jinping e a saída do Partido Comunista do poder. Estudantes se reuniram em universidade de toda a China para pedir o fim dos bloqueios, em uma onda de protestos não vista desde os atos pró-democracia de 1989.

Os protestos se intensificaram após a morte de dez pessoas em um incêndio na quinta-feira em um edifício alvo de confinamento na cidade de Urumqi, capital da região chinesa de Xinjiang. Testemunhas dizem que os bloqueios dificultaram a chegada e o trabalho dos bombeiros. Além disso, vários moradores tiveram dificuldade em escapar devido às portas trancadas dos apartamentos, e alguns não deixaram suas casas por medo de violar o toque de recolher.

Nesta segunda-feira, Pequim acusou "forças com segundas intenções" de vincular o incêndio às medidas anticovid, dizendo que as autoridades locais "esclareceram os fatos e refutaram essas informações e difamações".

Ônibus com detidos

Grandes multidões se reuniram no domingo em várias cidades, como a capital, Pequim, e o centro econômico de Xangai, onde a polícia entrou em confronto com manifestantes, com as forças de segurança levando um ônibus cheio de pessoas.

A agência de notícias AFP testemunhou a polícia conduzindo três pessoas para fora de um local de protesto, enquanto censuradores trabalhavam para apagar das redes sociais mensagens sobre os atos.

Durante os atos, várias pessoas levavam flores nas mãos e folhas de papel em branco, o que pode ser visto como um protesto silencioso contra a censura. Ao mesmo tempo, o branco é a cor do luto na China.

Nesta segunda-feira, as ruas de Xangai onde os manifestantes se reuniram foram bloqueadas com barreiras de metal para evitar novos atos.

Jornalista da BBC preso

A rede britânica BBC informou que um de seus jornalistas foi preso e espancado pela polícia enquanto cobria os protestos em Xangai.

"A BBC está extremamente preocupada com o tratamento dado ao nosso jornalista Ed Lawrence, que foi preso e algemado enquanto cobria os protestos em Xangai", disse um porta-voz da emissora pública britânica em comunicado.

"Ele foi detido por várias horas antes de ser liberado. Durante sua prisão, foi espancado e chutado pela polícia. Isso aconteceu enquanto ele trabalhava como jornalista credenciado."

Um ministro do governo britânico denunciou nesta segunda-feira as ações da polícia chinesa como "inaceitáveis" e "preocupantes".

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, disse que a declaração da BBC não reflete o que realmente aconteceu e que o jornalista não se identificou como repórter ou mostrou suas credenciais de imprensa.

"De acordo com nosso entendimento, a declaração da BBC não é verdadeira. Segundo as autoridades em Xangai, o jornalista em questão não revelou sua identidade de jornalista e não mostrou de forma evidente seu cartão de imprensa estrangeira", disse Zhao.

"Quando o incidente aconteceu, os policiais pediram que as pessoas saíssem e, quando algumas pessoas não cooperaram, foram retiradas do local", acrescentou

Imagens nas redes sociais mostraram um homem que outros jornalistas identificaram como sendo Lawrence sendo preso.

Antes do comentário do ministério chinês, a BBC disse que não havia recebido uma explicação clara para a detenção de Lawrence.

"Não recebemos nenhuma explicação oficial ou pedido de desculpas das autoridades chinesas, além de uma alegação dos funcionários que mais tarde o libertaram de que o prenderam para seu próprio bem, caso ele pegasse covid-19 da multidão", disse a BBC.

Desde que assumiu o poder há uma década, Xi Jinping vem supervisionando a repressão da dissidência e a expansão de um sistema de vigilância social de alta tecnologia que tornou o ato de protestar mais difícil e arriscado.

Protestos são altamente incomuns na China, país que censura fortemente a mídia e a liberdade de expressão, com as autoridades reprimindo duramente toda e qualquer oposição ao governo. Muitos manifestantes relataram a veículos estrangeiros que é a primeira vez que participam de protestos e lamentam que a mídia chinesa não esteja repercutindo os atos.

Política "covid zero"

Pela estratégia da "covid zero", a China impõe bloqueios de bairros ou cidades inteiras, a realização constante de testes em massa e o isolamento de todos os casos positivos de coronavírus e seus contatos diretos em instalações designadas, muitas vezes em condições degradantes.

Nesta segunda-feira, o governo chinês, sem mencionar o incêndio em Urumqi, anunciou que não vai mais trancar os portões para bloquear o acesso a complexos residenciais onde forem detectados casos de coronavírus.

"As passagens devem permanecer abertas para casos de socorro médico, fugas de emergência e resgates", disse um funcionário da cidade, de acordo com a imprensa oficial.

A reação contra as restrições é um revés para os esforços da China para conter o coronavírus, em um momento de números recordes de infectados no país.

Embora a política de "covid zero" tenha ajudado a manter o número oficial de mortos na China na casa dos milhares - contra, por exemplo, mais de um milhão nos Estados Unidos - ela custou o confinamento de muitos milhões de pessoas por longos períodos, trazendo grandes perturbações e danos à economia.

le/bl (AFP, Reuters, Lusa, ots)

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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