Cidade italiana se revolta com 'migrantes do Papa'
Pessoas salvas pelo navio Diciotti irão para Rocca di Papa
Moradores da cidade italiana de Rocca di Papa, nos arredores de Roma, se revoltaram com o anúncio do papa Francisco de que parte dos 177 migrantes resgatados pelo navio Diciotti será levada para o município, que tem 17,1 mil habitantes.
Os deslocados internacionais ficaram cinco dias bloqueados no Diciotti, que pertence à Guarda Costeira, no Porto de Catânia, por determinação do ministro do Interior Matteo Salvini, que exigia que os Estados-membros da União Europeia os recebessem.
Os migrantes só puderam descer após a Igreja Católica ter assumido a responsabilidade pelo acolhimento de cerca de 100 pessoas, enquanto Albânia, que não faz parte da UE, e Irlanda receberão 20 cada uma.
Em seu voo de volta de Dublin para Roma, no último domingo (26), Francisco disse que os migrantes aceitos pela Igreja serão levados para o centro de acolhimento extraordinário (Cas) "Mundo Migliore" ("Mundo Melhor", em tradução livre), em Rocca di Papa, que costuma ser usado para iniciativas de caráter espiritual, como recepção de peregrinos.
A notícia, no entanto, causou revolta entre moradores, que lotaram a página do prefeito Emanuele Crestini, favorável ao acolhimento, com declarações xenófobas. "E nossa saúde? Lançaram aos quatro ventos que eles estavam doentes, alguns até moribundos, quem está cuidando de tudo isso? Nossos jovens estarão ao lado desses migrantes, que até ontem estavam doentes, nos ônibus...", escreveu uma internauta.
Dos 177 resgatados pelo Diciotti, 27 são menores de idade e 13 chegaram a ser evacuados para tratamento médico, incluindo sete mulheres estupradas na Líbia e seis homens com sarna, infecção urinária, pneumonia e tuberculose. "Quem sabe quanto estão ganhando para receber esse povo que chega para trazer doenças e delinquência", reforçou outra usuária.
"Mas vocês percebem o nojo?", acrescentou mais uma. Um cidadão ainda escreveu que os migrantes do Diciotti "não fogem da fome". "É tudo questão de dinheiro das ONGs", acrescentou.
A maior parte dos deslocados é da Eritreia, país governado por um regime ditatorial há 25 anos e marcado pela pobreza e pela falta de liberdade. Os outros são de nações como Síria, Egito, Comoros e Bangladesh.
"O Papa que os levasse para o Vaticano", disse mais uma internauta. Os migrantes ficarão em Rocca di Papa apenas temporariamente, até serem distribuídos entre as várias dioceses da Itália que já se prontificaram a recebê-los.