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Como a resposta de Trump a Charlottesville afastou o presidente dos maiores empresários dos EUA?

Reação de CEOs foi tão negativa que o presidente americano anunciou o encerramento de dois importantes conselhos e fóruns. Debandada inclui empresários da Intel e Merck.

16 ago 2017 - 18h27
(atualizado às 18h32)
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As idas e vindas nas declarações feitas por Donald Trump sobre os protestos de Charlottesville, no último fim de semana, geraram mal estar não só entre políticos e ativistas de ambos os lados da disputa - mas também entre os principais empresários dos Estados Unidos.

Presidente americano Donald Trump sai do elevador
Presidente americano Donald Trump sai do elevador
Foto: BBC News Brasil

Desde os atos do último sábado, oito importantes executivos de algumas das maiores empresas do país anunciaram seu desligamento do Conselho de Manufatura e do Fórum de Políticas e Estratégia, criados por Trump em janeiro, seguindo uma promessa de campanha. A onda negativa foi tal que Trump, em mais um de seus intempetivos anúncios pelo Twitter, decretou o encerramento dos dois órgãos, no início da tarde desta quarta-feira.

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A debandada incluiu Brian Krzanich e Inge Thulin, CEOs das empresas de tecnologia Intel e 3M, Elon Musk, da marca de automóveis Tesla, Kenneth Frazier, da farmacêutica Merck e Denise Morrison, da tradicional marca de sopas e alimentos Campbell.

Como resposta inicial ao desmonte, Trump tuitou nesta terça-feira: "Para cada CEO que abandonar o conselho de Manufatura, eu tenho vários para assumir seu lugar", escreveu.

Nesta quarta, apenas 26 horas depois e sob muita pressão, Trump foi ao microblog novamente:

"Em vez de pressionar os empresários do Conselho de Manufatura e Fórum de Estratégia e Política, estou terminando com ambos. Obrigado a todos!"

Cerimônia em homenagem a vítima de incidente em Charlottesville
Cerimônia em homenagem a vítima de incidente em Charlottesville
Foto: BBC News Brasil

Novas rupturas

O Conselho de Manufatura era formado por 28 líderes dos setores automotivo, de defesa, de saúde e de tecnologia, convidados pelo presidente para atuarem como conselheiros do governo no crescimento da indústria, uma das principais bandeiras de campanha do republicano.

Todos os empresários atribuíram a saída dos conselhos à hesitação de Trump em apontar a responsabilidade de grupos supremacistas, neonazistas e simpatizantes da Ku Klux Klan nos confrontos violentos, que deixaram uma advogada e dois policiais mortos, além de dezenas de feridos na cidade universitária do estado da Virginia.

Brian Krzanich, da Intel, anunciou a renúncia em nota oficial.

"Já deixei claro o meu aborrecimento com a recente violência causada pelo ódio em Charlottesville, e pedi a todos os líderes que condenassem os supremacistas brancos e seus simpatizantes que marcharam e cometeram violência", afirmou.

"Eu renunciei porque eu quero que façamos progresso, enquanto muitos em Washington parecem mais preocupados em atacar qualquer um que discorda deles. Nós devemos honrar - não atacar - os que defenderam a igualdade e outros valores importantes americanos", afirmou Krzanich.

Kenneth Frazier, principal executivo da farmacêutica Merck, apontado como um dos afroamericanos mais bem-sucedidos do país, disse também em nota:

"Os líderes americanos precisam honrar nossos valores fundamentais pela rejeição clara a expressões de ódio, fanatismo e supremacia de grupos".

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Frazier foi o único a receber uma resposta direta e agressiva de Trump, que afirmou:

"A Merck Pharma é líder em preços de medicamentos cada vez mais altos, enquanto, ao mesmo tempo, tira empregos dos EUA. Tragam os empregos e os preços baixos de volta!", disse o presidente.

Denise Morrison, CEO e presidente das sopas Campbell - aquelas imortalizadas nos quadros de Andy Warhol - e uma das únicas mulheres do conselho, também justificou sua renúncia.

"Depois das observações de ontem do presidente, não posso continuar", afirmou. "Seguirei apoiando todos os esforços para estimular o crescimento econômico e defender os valores que sempre fizeram a América grande".

"O racismo e o assassinato são indiscutivelmente reprováveis", continuou Morrison, afirmando que Trump não pode ser ambíguo em relação ao que aconteceu em Charlottesville.

Já o Fórum de Políticas e Estratégias funcionava separadamente do conselho e a debandada de seus membros começou há mais tempo. Bob Iger, da Disney, e Elon Musk, da Tesla, anunciaram sua saída após a ruptura de Trump com os compromissos assinados pelos Estados Unidos no acordo de Paris, no início do ano.

Travis Kalanick, da Uber, já havia se retirado do Fórum quando Trump decidiu banir cidadãos de países do Oriente Médio de entrarem no país (a decisão foi fruto de pressão dos próprios motoristas da Uber, muitos deles imigrantes).

Discurso ambíguo

O protesto "Unite the Right" (ou "Unir a Direita"), convocado por grupos supremacistas, racistas e neonazistas do sul do país, resultou em três mortes, em meio a saudações a Hitler, suásticas e exibição de fuzis e confrontos contra grupos que se opunham a marcha, como os antifascistas.

Manifestante do movimento Black Lives Matter
Manifestante do movimento Black Lives Matter
Foto: BBC News Brasil

No sábado, dia do principal protesto em Charlottesville, Trump condenou o "fanatismo, racismo e violências de vários lados", enfatizando o termo "vários lados", sem responder a questionamentos de jornalistas sobre a presença maciça de supremacistas - que consideram os brancos superiores a outros grupos étnicos - nos protestos.

A reação negativa veio inclusive de importantes lideranças do partido Republicano, como Marco Rubio, da Florida. "É importante que a nação escute o presidente chamando os eventos de Charlottesville pelo que são: um ataque terroristas de brancos supremacistas", criticou o conservador.

Encurralado, Trump voltou a discursar na segunda-feira, e se posicionou claramente contra os membros da Ku Klux Klan e neonazistas.

"O racismo é mau e todos aqueles que promovem a violência em seu nome são criminosos, incluindo a KKK, neonazistas, supremacistas brancos e outros grupos que são repugnantes para tudo que defendemos como americanos", afirmou.

O posicionamento, de um lado, foi visto como atrasado pelos críticos. De outro, mereceu críticas dos membros de grupos nacionalistas - que votaram em massa em Trump nas últimas eleições.

Membro do Ku Klux Klan
Membro do Ku Klux Klan
Foto: BBC News Brasil

Nesta terça, em Nova York, apenas um dia depois da segunda declaração, Trump voltou ao discurso original em conversa com jornalistas e ressaltou o que entende como culpa dos grupos opositores aos supremacistas.

"Acho que houve culpa em ambos os lados e não tenho a menor dúvida sobre isso", disse Trump, durante uma entrevista coletiva em Nova York. "Houve um grupo de um lado que foi mau e houve um grupo do outro lado que também foi muito violento, mas ninguém quer dizer."

"O que dizer da 'esquerda alternativa' que atacou a 'direita alternativa', como vocês dizem? Eles não têm nenhuma parcela de culpa? Têm um problema? Eu acho que sim", completou.

Reiteradamente, ele disse "preciso entender os fatos" quando questionado sobre a demora em se posicionar ou citar claramente os grupos de extrema-direita envolvidos no protesto.

As novas declarações foram elogiadas por líderes de grupos extremistas, como David Duke, que foi um dos principais dirigentes da Ku Klux Klan, que agradeceu a "sensibilidade" do presidente nas redes sociais.

Os republicanos, entretanto, fizeram coro com opositores e criticaram o presidente.

Paul Ryan, republicano que preside a Câmara dos Representantes, disse que "é preciso ser claro".

"A supremacia branca é repulsiva. Este fanatismo é contrário a tudo o que este país representa. Não pode haver ambiguidade moral", tuitou.

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