Como a visão do mundo sobre os EUA mudou com Trump na Presidência
Presidente e suas políticas encontram imensa rejeição em mais de 30 países analisados por renomado instituto americano.
Um estudo divulgado nesta terça-feira mostra que a Presidência de Donald Trump, iniciada há apenas cinco meses, teve um impacto significativo na percepção dos Estados Unidos pelo mundo. E esse impacto não foi positivo.
Com base em entrevistas conduzidas com mais de 40 mil pessoas em 37 países pelo Pew Research Center, um dos mais renomados institutos de pesquisa americanos, o estudo conclui que Trump e suas políticas são "amplamente impopulares ao redor do mundo".
Os dados mostram que apenas dois dos 37 países têm uma opinião mais favorável sobre Trump do que seu antecessor, Barack Obama: Israel e Rússia.
No Brasil, apenas 14% dos entrevistados disseram confiar no presidente americano. E 50% disseram ter uma visão favorável dos Estados Unidos, índice que chegou aos 73% em 2015, quando Obama estava no poder.
Mais de 60% dos entrevistados brasileiros classificaram Trump como um líder firme, mas apenas 19% como carismático. E 24% disseram que ele é qualificado para ser presidente.
Mas o estudo indica também que muitas pessoas sentem que o relacionamento de seus países com os EUA não mudará nos próximos anos.
Alguns dos pontos mais contundentes do estudo estão abaixo.
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Mais fé em Obama
Entrevistas foram realizadas no final do segundo mandato de Obama (2012-2016) e no início da administração Trump, entre fevereiro e maio. A pergunta era sobre qual dos dois líderes as pessoas achavam que "faria a coisa certa em assuntos mundiais".
Eis como alguns aliados dos EUA - e a Rússia - responderam.
Nos cinco meses de mandato, Trump tomou decisões polêmicas no cenário geopolítico, como exigir mais contribuições financeiras dos países-membros da Otan (aliança militar ocidental) e encorajar países árabes a isolar o Catar, em função de acusações de financiamento do extremismo islâmico.
O discurso linha dura de Trump também gerou atritos entre os EUA e seus aliados. A líder alemã, Angela Merkel, por exemplo, disse que a Europa não poderia mais "contar completamente" com Washington.
E foi na Alemanha, por sinal, onde a confiança no ocupante da Casa Branca mais caiu: enquanto 86% dos alemães confiavam em Obama, apenas 11% dizem o mesmo de Trump.
Trump, porém, fez acenos a aliados de peso, como Israel e Arábia Saudita, países que visitou. E a Índia, cujo premiê, Narendra Modi, foi recebido nos EUA neste segunda-feira, é um dos países onde a opinião sobre Trump é a mais favorável - 40% dos entrevistados disseram ter confiança nele, em comparação com 58% para Obama.
'Arrogante'
Os entrevistados responderam a sete perguntas sobre como viam Trump. Abaixo, uma amostra das respostas de três países de três continentes.
"De todos os adjetivos testados, positivos ou negativos, Trump é mais frequentemente descrito como arrogante", diz o texto do estudo.
Em 26 de 37 países, o presidente é descrito como "perigoso".
No entanto, as opiniões em cada país variam bastante entre grupos políticos: se pessoas com tendência de esquerda em geral consideram Trump mais perigoso, no Brasil e no Peru a maior preocupação é entre indivíduos que se definem de centro.
Trump também é visto como um líder forte, especialmente em países da América Latina e da África. Mas são poucos os países cujos habitantes o consideram qualificado para ser presidente.
O fechamento de fronteiras causou danos à imagem dos EUA
O decreto de Trump que restringe a entrada de cidadãos de seis países com população majoritariamente muçulmana- e que depois de várias derrotas judiciais ganhou respaldo parcial da Suprema Corte americana - foi criticado por 62% dos entrevistados de maneira geral (61% no Brasil, onde 76% também se opuseram à proposta de construção de um muro na fronteira com México).
Apenas em três dos 37 países - Israel, Rússia e Hungria - houve apoio ao veto a imigrantes.
Mais do mesmo?
A maioria das mais de 40 mil pessoas entrevistadas pode até estar preocupada com Trump e achá-lo perigoso ou arrogante, mas isso não significa que temam algum impacto direto do governo americano em suas vidas.
Isso porque, levando-se em contra a média de cada país, 41% dos entrevistados acreditam que o relacionamento de seu país com os EUA permanecerá o mesmo - o Brasil registrou 42%.
E, embora 15% acreditem que o relacionamento vai melhorar, há países que carregam o otimismo na contramão.
Na África, por exemplo, 54% dos nigerianos e 51% dos ganenses veem as coisas melhorando. Na Rússia, o índice é 53%.
O país mais pessmista? Nenhuma surpresa que seja o México, alvo de alguns dos mais duros discursos e medidas de Trump.
Em casa
Se o estudo se concentrou em percepções internacionais, um outro relatório recente do Pew revelou que a popularridade de Trump é baixa dentro de casa: apenas 39% dos americanos pensam que o presidente está fazendo um bom trabalho, percentual que cai para 7 entre eleitores negros.
No entanto, Trump conta com apoio em seu próprio partido, o Republicano: 81% das pessoas que tendem a votar por na legenda aprovam o governo Trump. Entre pessoas que se consideram conservadores, o índice é de 88%.
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