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'Como condenação por tráfico internacional de drogas mudou minha vida'

Michaella McCollum foi uma das duas mulheres britânicas presas no Peru em 2013 por contrabando de cocaína. Depois de ser libertada e recompor sua vida, ela falou à BBC sobre o que aprendeu na prisão.

12 jul 2021 - 08h02
(atualizado às 08h23)
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Michaella McCollum foi presa por tentar contrabandear 11 quilos de cocaína para fora do Peru
Michaella McCollum foi presa por tentar contrabandear 11 quilos de cocaína para fora do Peru
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Em 6 de agosto de 2013, duas mulheres de 20 anos foram presas no Aeroporto Internacional Jorge Chávez em Lima, no Peru. As bagagens de Michaella McCollum e Melissa Reid continham 11 kg de cocaína, avaliados em mais de US$ 2 milhões.

Um homem que Michaella havia conhecido na ilha espanhola de Ibiza a convenceu a tentar transportar a droga do Peru para a Espanha.

Michaella e Melissa só se conheceram quando os criminosos as apresentaram antes da viagem. Ambas se declararam culpadas de tráfico de drogas e foram condenadas a mais de seis anos de prisão no famoso presídio Ancón II, no Peru.

Em 2016, as duas foram soltas antecipadamente e, desde então, Michaella fala publicamente sobre sua história e como ela mudou desde que se tornou conhecida como "a mula com coque gigante".

Em um documentário de cinco episódios, Michaella, agora com 28 anos e mãe de dois filhos, relata sua jornada dentro e fora do mundo do crime.

Em suas próprias palavras, ela conta ao canal BBC Three, da BBC, como tem sido sua vida desde então.

Quando as pessoas perguntam como me sinto hoje sobre tudo pelo que passei, parece que estou falando de uma pessoa diferente, não consigo me identificar com aquela pessoa.

Como aquilo aconteceu? Simplesmente aceitava coisas com as quais não me sentia confortável, mas era tímida demais para dizer não. Esses três anos de prisão fizeram de mim o que sou agora, com a mentalidade e os valores morais que tenho agora.

'As drogas foram uma fuga da realidade'

Meus sentimentos sobre o uso de drogas mudaram muito. Quando estava envolvida com drogas em Ibiza, não via isso como um grande problema.

Foram minhas primeiras férias sozinha e estava pensando em me divertir. Não pesquisei muito, não pensei no mal que as drogas fariam a mim ou àqueles ao meu redor. Agora penso, "essas coisas que coloco no meu corpo sem pensar, como é que ainda estou viva?"

Realmente assusta quando você pensa sobre isso. Se algo acontecesse comigo, o que seria de meus filhos? Ser mãe também me fez mudar; quando era mais nova usava drogas para fugir da realidade.

Acho muito importante pensarmos nisso e que os pais também eduquem os filhos. Gostaria de ter tido aprendido mais sobre drogas na escola ou que minha família pudesse me ensinar melhor sobre seus efeitos; dessa forma, teria mais medo (delas).

Um tribunal do Peru condenou Michaella a seis anos de prisão
Um tribunal do Peru condenou Michaella a seis anos de prisão
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Era muito inocente aos 19 anos. Acreditava que nada de ruim poderia acontecer comigo. Não desconfiava das pessoas, apenas vivia nesta fábula de um mundo irreal, que é muito diferente de como vejo tudo agora.

Cresci pensando que podia confiar nas pessoas, nunca questionei nada, apenas acreditava em tudo e confiava nas pessoas com muita facilidade.

Não devemos ser assim, nem todo mundo quer o melhor para você, estranhos não se importam com você. Você tem que desconfiar um pouco das pessoas e manter a guarda. É preciso prestar atenção à sua intuição — pressentia que havia algo de errado, mas ignorei. Seu corpo sempre sabe quando algo está errado.

O alarme só começou a soar quando me preparava para ir para o Peru. Eu havia viajado de Ibiza para Maiorca muito drogada, e para mim era uma aventura. Foi só quando comecei a ficar sóbria que pensei 'Meu Deus, o que diabos estou fazendo?'.

'Na prisão, aprendi a me defender'

Michaella McCollum (centro) diz que aprendeu a se defender na prisão
Michaella McCollum (centro) diz que aprendeu a se defender na prisão
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Estava sozinha quando cheguei ao Peru e percebi aonde havia chegado. Mas não sabia como sair daquela situação. Não sei se é verdade que fui monitorada o tempo todo, mas acredito nisso mesmo; acho que eles estavam nos observando o tempo todo.

Cheguei a tentar compartilhar meus temores a eles — aos membros do cartel — e disse que não achava que o esquema iria funcionar. Eles me responderam que não deveria me preocupar, que estava pensando demais.

Penteado de Michaella se tornou meme
Penteado de Michaella se tornou meme
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Comecei a me perguntar, a pensar: "É normal duvidar disso?" Cada vez que dava vazão a esses sentimentos, eles me ignoravam, como se dissessem "você é muito jovem, está fazendo drama". Me manipularam psicologicamente. Fiquei com medo do que poderia acontecer comigo se voltasse atrás.

Na verdade, foi a prisão que me fez começar a me defender mais, mas mesmo assim levou alguns anos para me sentir segura o suficiente para não deixar que outras pessoas se aproveitassem de mim.

Acho que a imprensa fez muito sensacionalismo com minha experiência na prisão — eles não entenderam por que queria abrir um salão de beleza e me tornar uma representante das presas.

Queria mostrar a mim mesma que podia me defender.

Ah sim, meu cabelo. Por um tempo, não soube que havia se tornado um meme: antes de ser presa, amarrei o cabelo rapidamente a caminho do aeroporto, era muito cedo e não tinha dormido.

Não tive acesso a água para lavá-lo, e quando fui transferida da cela para o presídio e pude falar com minha família, eles me perguntaram: "O que está acontecendo com o seu cabelo? Todo mundo está falando do seu coque!".

Aquilo foi divertido.

Então, todas as detentas queriam ter o cabelo igual ao meu, elas falavam: "O cabelo da Michaella!" Acho que elas não tinham visto esse tipo de penteado antes.

'Me perguntaram se eu ainda estava traficando'

Foi muito difícil voltar à normalidade. Quando cheguei em casa, tudo parecia tão normal, como se nunca tivesse saído de lá. Mas não parecia normal. Não me sentia mais a mesma pessoa.

Todos sabiam quem eu era e o que havia feito, e tinha medo de ser julgada. Não sou uma pessoa horrível e perigosa. Eu conseguia trabalho, mas nunca durava mais que um dia, me diziam que chamava muita atenção e que tinham que me despedir.

Um cara que me entrevistou disse: "Sei quem você é, eu sei o que você fez, você definitivamente parou de fazer isso?" A primeira universidade na qual me inscrevi me aceitou, mas depois me tiraram minha vaga, alegando que poderia ser um perigo para os outros jovens.

Fiquei arrasada.

Quando voltei para casa, queria estudar criminologia. Durante a prisão, psicólogos nos visitavam, e cada vez que falava com eles tinha a impressão de que não me entendiam. Como seria possível que eles me entendessem?

Achei que seria bom para mim fazer algo assim porque poderia me identificar com o que os presos sentem, e o sentimento deles quando são libertados. Também posso ajudá-los a mostrar que isso (prisão) não precisa defini-los, e que eles podem aspirar a algo melhor.

Me candidatei a estudar Criminologia na universidade, mas foi difícil, porque me lembrava demais da minha experiência. Então, mudei e agora estudo Administração, espanhol e mandarim.

A Espanha é onde eu gostaria de estar. É um estilo de vida diferente, mais descontraído. Posso encontrar pessoas que não sabem quem eu sou e sinto muita falta disso.

Sei que o que aconteceu comigo lá foi errado, mas amo a cultura e o idioma, e quero levar meus filhos para lá.

Quero que meus filhos recebam uma educação e conheçam o mundo, para que quando chegarem aos 19 anos, tenham viajado e sejam mais conscientes, e tenham os conhecimentos práticos que não tinha aos 19.

Quero que tenham as coisas que sinto que faltaram quando estava crescendo.

*Michaella McCollum conversou com Thea de Gallier sobre o documentário produzido pelo canal digital BBC Three "High: Confessions of an Ibiza Drug Mule".

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