Como é a Pulse, boate gay que foi palco do maior massacre da história recente dos EUA
Em um pequeno palco, debaixo de luzes de neon, um travesti imitando Jennifer López se apresenta diante de um grupo de 300 pessoas.
Este é um dos shows mais comuns nas chamadas noites latinas da boate Pulse, um dos maiores clubes de Orlando, na Flórida, palco da tragédia que resultou na morte de 50 pessoas na noite de sábado para domingo.
Pouco depois das 2h da madrugada de domingo, horário local, a casa noturna publicava em sua página no Facebook a seguinte frase: "Saiam todos do Pulse e continuem correndo".
Ricardo Negrón Almodóvar, que estava na casa noturna, contou para a BBC: "Escutamos vários disparos. Na parte em que eu estava, várias (pessoas) se jogaram no chão. Eu não consegui ver o atirador e nem se havia feridos".
Agora se sabe que um homem identificado como Omar Mateen entrou na boate armado com uma pistola semiautomática e um rifle de assalto, fez reféns, matou 49 pessoas, feriu pelo menos 53 e foi baleado e morto depois que 11 policiais entraram no local.
Local seguro e pacífico
A boate era conhecida por ser um local seguro, de muita diversão, onde todos iam para exibir roupas da moda e se conectar com as últimas tendências.
No centro das atenções do clube estava o palco, onde artistas - profissionais e amadores - se apresentavam em meio às famosas lâmpadas de papel e luzes de led de última tecnologia.
"No principal bar da boate, o Ultra, você podia ver vídeos e desfrutar do serviço excelente do grupo de bartenders, na minha opinião os melhores da cidade, pois muitos estavam no local desde o início, há quase 15 anos", disse à BBC Mundo Scott, frequentador do Pulse, que não deu o nome completo por motivos de segurança.
Outros frequentadores descreveram a Pulse à BBC Mundo como um local com "ambiente bom", onde se podia comer, jogar pôquer, assistir espetáculos ao vivo e ouvir boa música.
"Era um local para pessoas com menos de 40 anos, um espaço não muito grande mas com vários ambientes, o ponto principal era o DJ quando o cenário estava vazio e tocava muita música pop. Era seguro e as pessoas ficavam muito bem ali", disse Daniel, que também preferiu não dar o sobrenome.
A maior parte das vítimas na tragédia era hispânica. A noite de 11 de junho foi de "Fiesta Latina", com música de salsa, merengue e reggaeton, ritmos diferentes do repertório normal da Pulse, mais acostumada a tocar o que está na parada Top 40 e música pop.
Área exclusiva
Orlando abriga uma comunidade gay bastante ativa no campo das artes, negócios e entretenimento, com membros conhecidos e respeitados pela contribuição com seu trabalho para consolidar a reputação da cidade como capital de entretenimento.
A Pulse fica em uma das áreas mais exclusivas da cidade, o centro financeiro que abriga sedes de algumas das principais empresas da Flórida.
Orlando é mundialmente conhecida por ter um parque da Disney e outro da Universal Studios.
Há muitas outras casas noturnas frequentadas por jovens na região, a maioria profissionais com alto poder aquisitivo.
Mas a Pulse tem uma arquitetura moderna que se diferencia com facilidade do resto da cidade, onde, em alguns bairros, predomina a arquitetura art deco e as casas térreas mais baixas.
Na região de Downtown estão grandes edifícios, sedes dos principais bancos, lojas, centros de convenções, casas de espetáculos e edifícios exclusivos de residências que cercam o Lago Eola, área onde se pode encontrar cisnes brancos e negros e que dá um toque bucólico à região.
"Todas as casas noturnas de Orlando podem abrir a partir das 6 da tarde para servir o jantar e continuar abertas até as 2 da madrugada quando, por lei, têm de fechar suas portas", disse à BBC Mundo Daniel, um funcionário do Bar Louie, outro local frequentado pela comunidade gay da área.
"O ambiente dentro do Pulse era bastante amistoso, não tinha reputação entre os vizinhos de ser um lugar onde (os clientes) corriam perigo nem onde ocorriam problemas. As pessoas iam para se divertir, assistir os espetáculos ao vivo, que eram de muita qualidade", afirmou Daniel.
"Este provavelmente é o dia mais difícil da história de Orlando", disse o prefeito da cidade, Buddy Dyer.
Nesta segunda-feira, Orlando é uma cidade de luto. Durante todo o domingo, moradores da cidade foram às ruas para homenagear as vítimas e manifestar solidariedade com a comunidade gay.
Bárbara Poma, dona da boate Pulse, divulgou um comunicado no site da casa noturna que está "chocada" como o resto do país. Além disso ela enviou condolências aos familiares das vítimas, em seu nome e no nome dos funcionários do clube.