Como Netanyahu usa demissão de ministro da Defesa para 'mostrar quem manda' em Israel
Yoav Gallant, responsável pela estratégia de guerra de Israel, foi demitido pela segunda vez nesta semana.
Não era nenhum grande segredo que havia divergências entre o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, responsável pela estratégia de guerra de Israel.
Mas neste ano houve relatos de discussões entre eles com ambos aos berros.
A situação culminou na demissão de Gallant na terça (6/11) pela segunda vez — a primeira tinha sido em março de 2023. Na época, no entanto, Netanyahu foi forçado a voltar atrás.
Gallant tem muito mais experiência militar do que Netanyahu.
Ele começou sua carreira na Marinha em 1977 e ascendeu a major-general no Comando Sul de Israel, supervisionando duas guerras em Gaza entre 2005 e 2010.
A suspeita é que a superioridade militar de Gallant e o respeito dentro das Forças Armadas irritaram seu chefe.
No governo linha-dura de Israel, o mais de direita na história do país, Gallant era menos agressivo do que alguns de seus colegas ministros. Mas ele não era pacífico.
Após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 a Israel, Gallant inicialmente apoiou totalmente a guerra em Gaza.
Junto com Netanyahu, ele enfrenta possíveis acusações de crimes de guerra no Tribunal Penal Internacional. Ambos rejeitaram as acusações feitas por um promotor do TPI.
Mas nos últimos meses, como ministro da Defesa, Gallant argumentou que o governo de Israel deveria priorizar um acordo de libertação de reféns com o Hamas e acabar com a guerra em Gaza.
Netanyahu não ouviu, insistindo que a pressão militar contínua sobre o Hamas era a melhor maneira de libertar os israelenses restantes detidos.
Divergências
Desde o início do ano, Gallant levantou preocupações sobre a falta de uma estratégia para o pós-guerra, mas não estava sendo ouvido.
Ele pressionou por uma investigação abrangente sobre as falhas militares, políticas e de inteligência que levaram ao ataque de 7 de outubro.
O primeiro-ministro tem resistido, argumentando que agora não é o momento.
Gallant também estava descontente com a permissão de que os estudantes de seminários judeus ultraortodoxos de Israel sejam isentos de servir nas Forças Armadas.
Em uma época de múltiplas guerras, ele disse, o país não podia pagar por tais luxos.
Netanyahu, receoso de um colapso de seu governo de coalizão que tem dependido do apoio dos partidos ultraortodoxos, não deu atenção.
O substituto
O novo ministro da Defesa, Israel Katz, que até ontem era o ministro das Relações Exteriores, é mais agressivo e muito mais alinhado com o pensamento de seu chefe.
Após sua nomeação, ele prometeu "atingir os objetivos da guerra", incluindo "o retorno de todos os reféns como a missão moral mais importante, a destruição do Hamas em Gaza, [e] a derrota do Hezbollah no Líbano".
Mas comparado a Gallant, Katz não tem praticamente nenhuma experiência militar.
Isso levantará preocupações em Israel e no exterior em um momento em que o país está travando duas guerras, em Gaza e no Líbano, que correm o risco de se aprofundar ainda mais em todo o Oriente Médio.
O gabinete agora perdeu o último ministro restante que estava disposto e era capaz de confrontar Netanyahu, outra razão provável pela qual Gallant foi mandado embora.
Há meses circulavam rumores de que ele estava prestes a ser demitido.
O momento de sua demissão no dia da eleição dos Estados Unidos não pode ser ignorado.
O ex-ministro da Defesa tem um relacionamento muito melhor com a Casa Branca do presidente Joe Biden do que Netanyahu, cujo relacionamento é, na melhor das hipóteses, frio.
Controle
No entanto, ninguém ficará surpreso se Gallant acabar voltando.
Quando ele foi demitido pela primeira vez, em março de 2023, ele estava descontente com os planos controversos de Netanyahu de reformar o sistema judicial — assim como muitos militares de alta patente e ex-oficiais militares.
Sua demissão, naquele ano, levou dezenas de milhares de israelenses às ruas pedindo que ele fosse reintegrado.
Depois de apenas alguns dias, Netanyahu foi forçado a recuar e reinstalar Gallant no cargo.
Na terça-feira à noite, quando surgiram as notícias de que ele havia sido demitido novamente, houve protestos em Tel Aviv e Jerusalém, mas não na mesma escala.
Gallant pertence ao mesmo partido político de Netanyahu, o Likud, e pode um dia desafiar sua liderança em eleições futuras.
Mas o fato de ele ter sido demitido agora indica que o primeiro-ministro está se sentindo forte. Netanyahu é o líder mais antigo de Israel, seu operador político mais maquiavélico e bem-sucedido e no momento, continua com o controle.