Como saber se o 'Estado Islâmico' está realmente por trás dos atentados que reivindica
O Estado Islâmico afirmou que seus "soldados" foram responsáveis pelo atentado em Barcelona, na quinta-feira.
Uma sequência de fatos se repetiu esta semana em Barcelona, tal como já havia ocorrido antes em outras cidades ocidentais: primeiro, um ataque com vários mortos nas ruas, depois o caos e finalmente o grupo autodenominado Estado Islâmico (EI) assumindo a autoria do atentado.
Mas é possível saber se esse grupo radical está realmente por trás do ataque a Barcelona e de outros que reivindica?
Uma vez que o objetivo claro do EI é gerar terror no Ocidente, o grupo extremista bem poderia exagerar ou até mentir sobre sua responsabilidade neste tipo de atentado. No entanto, especialistas parecem concordar com a responsabilidade do EI.
"Até agora não tenho razões para duvidar de que o Estado Islâmico esteja ligado ao ataque em Barcelona", disse Michael S. Smith, analista americano especialista em grupos como EI e Al Qaeda.
"Se isso se revelar uma afirmação falsa de responsabilidade, seria a primeira já emitida pelo Estado Islâmico em um ataque terrorista ocorrido no Ocidente", acrescenta Smith em entrevista para a BBC Mundo.
De fato, há métodos específicos para vincular o EI a um ataque como o ocorrido na quinta-feira em Barcelona, quando uma van atropelou e matou 14 pessoas e deixou mais de uma centena de feridos na avenida Las Ramblas.
Canais de comunicação
A primeira coisa que os especialistas observam nestes casos é onde ocorreu a reivindicação do ataque. Os membros do EI usam as redes sociais com destreza, têm um braço de propaganda e um método claro de comunicar oficialmente as ações do grupo.
Costumam fazê-lo por meio do aplicativo encriptado "Telegram", que pode ser baixado em celulares e permite que o usuário se registre com seu número de telefone para acessar salas virtuais de bate-papo.
As notícias sobre o Estado Islâmico geralmente são comunicadas por meio desse app pela agência noticiosa Amaq, que recebe as primeiras notícias diretamente do grupo extremista. Também há informes da fundação Nashir, considerada outro canal de comunicação do EI.
Foi por meio do Amaq que o EI atribuiu a si a autoria da matança de quinta-feira: "As pessoas que executaram o ataque de Barcelona são soldados do Estado Islâmico". O grupo também já reivindicou atentados passados em países como Reino Unido, França, Alemanha e Bélgica.
E apesar de já terem ocorrido casos em que as afirmações do EI foram classificadas como falsas, como a suposta derrubada de um avião de guerra americano na Síria e o assassinato de um funcionário americano em uma base aérea da Turquia, em geral os investigadores corroboram a responsabilidade do grupo extremista.
Os especialistas acreditam que haja uma explicação simples: a credibilidade é chave para o EI na sua batalha por predominar no mundo dos jihadistas.
"O grupo não quer estar em uma situação onde se responsabiliza por um ataque e logo em seguida aparece um vídeo onde o terrorista responsável pelo ataque jura solidariedade a Al Qaeda ou a outro grupo", assinala Smith.
"Encontrar evidência"
Existem outras formas de avaliar se o Estado Islâmico diz a verdade ou se mente sobre um atentado, além das redes sociais.
"Não devemos aceitar o que o EI afirma, mas sim investigar mais profundamente e tratar de encontrar evidências", adverte à BBC Mundo Ahmet S Yayla, ex-chefe de contraterrorismo da polícia da Turquia.
Os procedimentos incluem buscas nos domicílios dos suspeitos de realizar os ataques, em seus computadores, e-mails e telefones celulares, assinala Yayla, que atualmente é investigador do departamento de criminologia, direito e sociedade da Universidade George Mason, nos Estados Unidos.
Em diferentes casos, os investigadores descobriram mensagens entre os acusados de realizar ataques no Ocidente e membros do EI no Oriente Médio.
Também foram divulgados vídeos e áudios de autores de atentados jurando lealdade a Al Baghdadi, líder do EI.
Algo que chama a atenção é que a organização evitou reivindicar certos ataques que lhe foram atribuídos, como o de Edward Archer, um homem que baleou um policial na Filadélfia, Estados Unidos, no ano passado, jurando lealdade ao EI.
Por outro lado, às vezes se levanta dúvidas se um atentado foi programado diretamente pelo EI ou apenas inspirado por este, mas os especialistas negam que se possa fazer tal distinção.
"O Estado Islâmico claramente ordenou seus seguidores a levarem a cabo este tipo de ataque. Então, se alguém realiza um ataque em nome do EI de uma forma similar, está basicamente seguindo ordens da organização terrorista", afirma Yayla.
E conclui: "Posso ver claramente que a série de ataques na Espanha são ataques do EI".