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Como seita ‘do fim do mundo’ que causou mortes no Japão está ressurgindo na Europa

7 abr 2016 - 09h10
(atualizado às 09h26)
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Mesmo no corredor da morte, Shoko Asahara ainda tem milhares de seguidores
Mesmo no corredor da morte, Shoko Asahara ainda tem milhares de seguidores
Foto: Getty / BBC News Brasil

Seita que ficou famosa – e foi sufocada – após aterrorizar o Japão em 1995, a Aum Shinrikyo ("Verdade suprema", em tradução literal) está voltando aos holofotes agora, mais de 20 anos depois. E bem longe do país asiático.

Nos últimos dias, a polícia da Rússia invadiu uma série de propriedades associadas ao grupo e prendeu ao menos dez pessoas. No mês passado, a ex-república iugoslava de Montenegro expulsou 58 estrangeiros suspeitos de associação com a Aum, nome curto pelo qual geralmente é conhecida.

Ambos acontecimentos acendem um alerta vermelho, dado o histórico de extrema violência da seita.

Em 20 de março 1995, ela foi responsável por um ataque que matou 13 pessoas e feriu outras 5 mil no metrô de Tóquio. Nele, usou gás sarin, letal para o sistema nervoso e declarado arma de destruição em massa pelas Nações Unidas.

O grupo acredita, entre outras coisas, que o mundo acabará em uma Terceira Guerra Mundial e que somente seus integrantes sobreviverão.

Criado nos anos 1980, no início misturava crenças hinduístas e budistas, mas depois incluiu no caldeirão algumas profecias cristãs. Seu fundador, Shoko Asahara, declarou ser, ao mesmo tempo, Jesus Cristo e o primeiro "iluminado" a chegar à Terra desde Buda.

Em 1989, a Aum ganhou status de organização religiosa no Japão. Assim, atraiu dezenas de milhares de seguidores pelo mundo – Asahara escreveu livros e chegou a dar palestras em universidades. Muitos dos entusiastas da seita eram, inclusive, estudantes de renomadas instituições japonesas.

Tudo mudou, é claro, com a radicalização – oponentes foram sequestrados, feridos e mortos – e após o terror de 1995.

Nos meses que se seguiram ao ataque mortal ao metrô, o grupo fez várias tentativas frustradas de liberar cianeto de hidrogênio, outro gás letal, em várias estações do país.

Alerta europeu

Ainda são incertos os motivos que levaram a essa espécie de renascimento no leste europeu, mas há hipóteses que levam a ex-integrantes da Aum.

Seu líder, Asahara, foi uma das pessoas que acabaram presas após os ataques em Tóquio. Treze foram condenadas à morte – ele ainda espera pelo cumprimento da sentença.

Mas, mesmo relegado à clandestinidade após 1995, o grupo não desapareceu. Chegou, inclusive, a mudar seu nome para Aleph.

E houve dissidências. Em 2007, ocorreu a criação de um pequeno grupo, o Hikari no Wa (algo como "Círculo da Luz do Arco-íris", em tradução livre), liderado pelo ex-porta-voz e sucessor de Asahara, Fumihiro Joyu, que garante ter se afastado do culto.

Antes de tudo isso ocorrer, a Aum operou em alguns dos ex-Estados soviéticos durante a convulsão que se seguiu ao fim da URSS, entre 1990 e 1991. Região que se tornou especialmente importante para a seita nos últimos anos.

Hoje, não se trata apenas dos 48 indivíduos que tinham alugado um hotel em Montenegro (4 japoneses, 43 russos e 7 bielorrussos, segundo o ministro do interior do país) e acabaram expulsos, nem das 25 propriedades que foram alvo da recente operação policial russa.

Segundo promotores, é possível que existam até 30 mil seguidores do grupo na Rússia, onde ele também é ilegal. Haveria, inclusive, uma pressão por doações entre eles.

A mídia estatal do país chegou a informar que as autoridades deram início a uma investigação criminal, afirmando que as atividades do Aum "envolvem violência contra cidadãos e danos à sua saúde".

'Terrorista'

A Aum Shinrikyo é considerada uma organização terrorista pelos Estados Unidos e muitos outros países, mas sua versão "recauchutada", a Aleph, e a dissidência Hikari no Wa são legais no Japão, embora designadas como "religiões perigosas" e submetidas a severa vigilância.

Estimativas apontam que esses grupos tenham, ao todo, 1,5 mil seguidores, número que vem crescendo lentamente, segundo relatos.

Poucos ativistas dos direitos humanos defendem os membros desses dois grupos. Dizem que eles não foram condenados por crimes e não sabiam dos planos que culminaram nos ataques de 1995.

Mas, embora tentem se afastar dos eventos ocorridos 21 anos atrás, eles têm encontrado pouco espaço para um dia, quem sabe, serem aceitos oficial e socialmente no país, que teve sua imagem e clima de segurança profundamente abalados pela Aum.

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