Como uma "praga do Egito": fazendas, hotéis e teatros argentinos sofrem com coronavírus
A Argentina, que sofre uma recessão e uma crise da dívida, não estava bem preparada para o fechamento de fronteiras e a suspensão de viagens de longa distância, medidas tomadas para conter a pandemia de coronavírus e que afetam empresas, como os dois hotéis de Patricia Durán.
As reservas caíram nos hotéis de Durán, na província de Misiones, no norte, onde estão localizadas as famosas Cataratas do Iguaçu.
"Isso é como uma praga do Egito", afirmou a hoteleira, que também é presidente da Câmara de Turismo da província. "Passamos de 70% a 80% da ocupação para zero: os hotéis estão vazios, a atividade turística morreu", disse.
O impacto econômico do coronavírus está sendo sentido em todo o mundo, mas a Argentina é especialmente vulnerável: está lutando para reestruturar mais de 110 bilhões de dólares em dívida externa com credores privados e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que o país diz que só poderá pagar quando crescer novamente.
Os economistas estão diminuindo suas perspectivas para a economia argentina, que já tinha previsão de terminar 2020 com uma contração pelo terceiro ano consecutivo. O Credit Suisse agora estima uma contração de 2,6% para o país, em comparação com uma previsão anterior de queda de 1%.
O governo argentino implementou medidas na terça-feira para impulsionar a economia, mas tem menos margem de manobra porque suas reservas são escassas, pois as usou para quitar dívidas e para sustentar a moeda local.
Martín Vauthier, da consultoria econômica local Eco Go, disse que era muito cedo para prever como a pandemia prejudicará a economia, e que seu efeito dependerá da gravidade das medidas que o governo adotar para controlar a propagação do vírus.
"Quanto mais duras (as medidas do governo), maior será o impacto na economia", afirmou Vauthier.
ARTE E MATÉRIAS-PRIMAS
A queda no preço das matérias-primas também atingiu a Argentina, principal fornecedora mundial de soja processada. Houve algumas interrupções nos portos de onde os suprimentos são enviados para Ásia e Oriente Médio.
"Hoje, as primeiras complicações seriam a queda nos preços de todas as bolsas", disse Juan Granero, produtor agrícola da província de Buenos Aires.
Granero mencionou a queda nos preços da soja para cerca de 200 dólares a tonelada, ante 240 dólares há algumas semanas.
Os artistas também estão sendo prejudicados, incluindo os dançarinos do famoso tango argentino, que foram forçados a cancelar shows e aulas, e os atores ficaram sem espetáculos.
"Hoje, os artistas que vivem dando shows e aulas não podem fazê-lo, portanto não são pagos", disse Franco Arnoni, ator de 25 anos e membro da companhia de teatro comunitária Las Catalinas, em Buenos Aires.
(Com reportagem adicional de Marina Lammertyn)