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Conheça 10 preocupações que a China tem sobre Hong Kong

Protestos que tomaram as ruas de Hong Kong nos últimos cinco dias colocam dilemas para o governo central chinês

30 set 2014 - 15h54
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O que deve se passar pela cabeça do presidente chinês, Xi Jinping, diante destas manifestações?
Foto: BBC News Brasil

Os protestos que tomaram as ruas de Hong Kong nos últimos cinco dias colocam dilemas para o governo central chinês, que deverá tomar decisões sobre as futuras eleições desta província nesta semana, a mesma em que se celebra o 65º aniversário da Revolução Comunista de 1º de outubro de 1949.

O que deve se passar pela cabeça do presidente chinês, Xi Jinping, diante destas manifestações?

Estudantes e partidários do movimento Occupy Central lideram uma nova onda de reivindicações contra uma medida que limita a liberdade de escolha na eleições do governo de Hong Kong, previstas para 2017.

Desde que a ex-colônia britânica foi devolvida à China, em 1997, ela goza de certos direitos, como autonomia administrativa, liberdade de expressão e eleições locais.

Mas os candidatos ainda precisam contar com a aprovação do Partido Comunista em Pequim.

A seguir, a BBC Brasil apresenta algumas preocupações que estão tirando o sono dos líderes chineses.

1. 'Esta situação foi causada por nós'

Pequim foi inflexível na manutenção das regras que determinam seu direito a indicar os candidatos nas eleições para governador da província de Hong Kong, apesar das advertências de que não deveria fazê-lo. Mas o presidente Xi Jinping deixou claro que prefere assumir o risco de reprimir manifestantes a arriscar o surgimento de um líder local legítimo.

2. 'Temos de vencer esta batalha'

Nos dois anos desde que chegou ao topo do Partido Comunista, Xi Jinping centralizou o poder, mas, por outro lado, algumas de suas bandeiras e sua campanha à presidência lhe renderam inimigos dentro da burocracia chinesa. Eles estão esperando pacientemente que Xi cometa um erro – como uma resposta equivocada à crise política com Hong Kong. Por isso, o presidente acredita que não pode se dar ao luxo de ceder aos manifestantes e sair derrotado da disputa.

3. Mais uma vez, estudantes idealistas são nosso calcanhar de Aquiles

Para Pequim, o comportamento dos acadêmicos de meia idade que lideram o movimento Occupy Central é fácil de prever e de responder. O que assusta o Partido Comunista chinês são os estudantes universitários que engrossam os protestos pedindo uma mudança no sistema político, ameaçando manter as manifestações até que sejam ouvidos. As reivindicações por uma reforma eleitoral fornecem ao movimento estudantil um sentido de dever e um propósito, com uma urgência que se sobrepõe às preocupações mais banais com as aulas e as perspectivas de carreira.

4. 'A cauda não pode derrubar o dragão'

Enquanto os protestos crescem em Hong Kong, a China procura bloquear as informações que chegam ao seu território continental. Pequim não quer que as ideias "revolucionárias" dos 7,2 milhões de habitantes de Hong Kong influenciem o 1,3 bilhão de chineses do outro lado do oceano. Na China continental, mensagens de cunho político contra o governo são reprimidas em minutos, mas em Hong Kong – que se beneficia da fórmula "um país, dois sistemas" – a autonomia e a liberdade de expressão permitem o direito à livre manifestação. O dilema de Pequim está entre reprimir duramente os manifestantes de Hong Kong e, assim, levar à mobilização de mais jovens ou jogar com sutileza e correr o risco de dar espaço para o surgimento de novas lideranças democráticas.

5. 'Onde está a senha para decifrar as aspirações dos manifestantes?'

Para o governo chinês, a escolha entre um dos dois caminhos – enfrentamento ou encantamento – é difícil. Para os jovens, porém, ela é simples. O regime tentará de todas as formas convencer os residentes de Hong Kong a não engrossar os protestos nas ruas, retratando-os como uma ameaça à integridade e à segurança econômica. Porém, para alcançar isto, Pequim teria de abrandar a repressão aos protestos, dar espaço aos manifestantes e demonstrar sua "mão branda", o que não é fácil.

6. 'Qual é a capacidade de repressão da polícia de Hong Kong?'

A polícia de Hong Kong conta com 500 celas, o que é um problema para Pequim. Embora as manifestações tenham sido declaradas ilegais, e a polícia tenha autorização para prender quem estiver na rua protestando, é certo que todos os manifestantes não caberiam nas delegacias da ilha se fossem presos. O cansaço, o gás de pimenta e a ameaça de prisão podem ser suficientes para dissuadir os manifestantes, mas a adesão de novos participantes aos atos pode colocar em marcha um mecanismo de retroalimentação e fortalecer sua atitude desafiadora.

7. 'Como se atrevem a usar a máscara de Deng Xiaoping?'

Os manifestantes reclamam o legado do patriarca chinês, peça-chave nas negociações com o Reino Unido que resultaram na devolução de Hong Kong para a China em 1997. Mas o líder morreu antes disso. A escolha de Deng Xiaoping como ícone dos protestos é no mínimo curiosa: foi ele quem ordenou uma repressão que entrou na história, o massacre na Praça da Paz Celestial em Pequim em 1989. Por outro lado, foi ele também quem instituiu a fórmula de "um país, dois sistemas", que garante mais liberdades a Hong Kong. Segundo os estudantes, Xiaoping achava que a China se tornaria uma sociedade mais liberal, com uma brecha ideológica menor. Porém, o país caminhou no sentido oposto, o do fortalecimento do partido único no controle do país.

8. 'A culpa é dos estrangeiros'

Representantes do governo chinês afirmaram nos últimos dias que os democratas de Hong Kong estão sendo insuflados por estrangeiros que querem prejudicar a estabilidade e a prosperidade da ilha e, por consequência, da China continental. Um dos jornais favoráveis ao governo divulgou, por exemplo, que o líder estudantil Joshua Wong tem vínculos com os Estados Unidos. Porém, essas acusações são frágeis em substância, e a maior ameaça externa não parece estar em indivíduos estrangeiros – e sim nas ideias que vêm do exterior.

9. 'Não chegamos até aqui recuando'

Sabe-se que o presidente chinês atribuiu em algumas ocasiões a queda da União Soviética à falta de pulso dos seus líderes. Depois que chegou ao poder, Xi Jinping criou a ideia de que ele é um novo patriarca, um líder forte e intransigente que pode fazer jus às preocupações chinesas.

10. 'Este será um aniverário peculiar da Revolução Chinesa'

Na preparação para o 65º aniversário da Revolução de 1949, no dia 1º de outubro, um novo quadro de Mao Tse Tung foi erguido na praça Tiannamen, na capital chinesa. Quando Mao conclamou as massas a se levantarem, foi ovacionado pelas multidões. Agora, Xi Jinping lidera um país distinto: mais rico e poderoso. Precisa redefinir o "sonho chinês" para inspirar os habitantes tanto da China continental quanto de Hong Kong.

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