Conspiração ou espionagem? O que se sabe sobre a acusação de que a Rússia interferiu na eleição de Trump
Com um tuíte, o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, inflamou ainda mais a polêmica sobre as suspeitas de que hackers russos influenciaram a eleição presidencial.
"Você consegue imaginar se o resultado da eleição fosse o oposto e NÓS estivéssemos tentando usar a carta da Rússia/CIA. Isso seria chamado de teoria da conspiração!"
No fim de semana, as duas principais agências de segurança dos EUA - o FBI (Agência Federal de Investigações) e a CIA (Agência Central de Inteligência) - teriam descoberto intervenções da Rússia nas eleições do país para promover a vitória de Trump. As informações foram divulgadas em dois importantes jornais dos EUA com base em relatórios das duas agências.
Em outubro, o governo dos EUA já havia apontado a responsabilidade da Rússia nesses ataques e acusado o país de interferir na campanha do Partido Democrata. Mas, segundo as novas informações divulgadas pela imprensa americana, a Rússia tinha como motivação ajudar Trump.
Mas o que se sabe até o momento sobre a acusação de que Moscou, de fato, agiu para promover a vitória do bilionário?
O que diz Trump
Em entrevista à TV e também em seu Twitter, o republicano criticou e colocou em xeque as informações contidas nos relatórios do FBI e da CIA.
Falando à rede Fox News, Trump disse que os democratas estavam divulgando documentos "ridículos" porque estavam envergonhados com a escala da derrota que sofreram nas eleições.
Ele disse que a Rússia poderia estar por trás dos ataques, mas que era impossível saber. "Eles não fazem ideia se foi a Rússia, a China ou alguém sentado em uma cama em algum outro lugar."
A equipe do presidente eleito também criticou agências de inteligência dos Estados Unidos: "Essas são as mesmas pessoas que disseram que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa".
O presidente eleito usou seu Twitter para questionar o porquê de as acusações não terem sido divulgadas antes da eleição.
"A não ser que você pegue os hackers no ato, é muito difícil determinar quem estava por trás da ação. Por que então isso não veio à tona antes?", tuitou nesta segunda-feira.
O que dizem outros republicanos
Republicanos experientes têm se juntado aos democratas para pedir investigações sobre o caso. O senador republicano John McCain disse, em um comunicado conjunto com líderes democratas, que o relatório da CIA "deveria deixar qualquer americano alarmado".
Ele afirmou que o Congresso deveria abrir uma investigação e que esta deveria ser ainda mais minuciosa do que a que será conduzida pela Casa Branca.
Nesta semana, o presidente Barack Obama, que deixa o cargo em 20 de janeiro, ordenou uma apuração sobre uma série de ataques cibernéticos que teriam sido promovidos pela Rússia durante a campanha eleitoral nos EUA.
De acordo com a Casa Branca, o relatório - que deve ser finalizado até o fim do mandato do democrata - será uma "sondagem profunda sobre um possível padrão de uma crescente atividade maliciosa na internet durante a temporada eleitoral".
As acusações foram negadas por funcionários do governo russo.
O que dizem os relatórios, segundo a imprensa
De acordo com o jornal The New York Times, os dois órgãos concluíram que "seguramente houve uma participação russa para hackear essas informações".
Segundo o jornal, entre os documentos obtidos pelos hackers estariam as contas de e-mails do Comitê Nacional Democrata e do presidente da campanha de Hillary Clinton, John Podesta.
O NYT afirma ainda que as agências de inteligência acreditam que essas informações teriam sido repassadas pelos russos ao WikiLeaks, que vazou o conteúdo.
O Washington Post afirma que um relatório da CIA chegou a informações parecidas. O jornal cita um oficial do governo dos EUA para afirmar que "a análise das agências de inteligência é de que o objetivo da Rússia era favorecer um candidato sobre o outro e ajudar na vitória de Trump".
Os novos detalhes teriam surgido durante a apresentação dos relatórios pelas agências de inteligência aos senadores na semana passada.
A reunião teria ocorrido com portas fechadas, mas, segundo o Washington Post, as informações teriam sido passadas por um funcionário do governo que não quis se identificar.
O que dizem os democratas
Na época da campanha eleitoral, e-mails da candidata democrata Hillary Clinton e de seus assessores foram sido hackeados, e o conteúdo, enviado ao WikiLeaks e postado online.
A divulgação causou problemas à campanha dos democratas. A então candidata passou boa parte dos debates se explicando sobre os emails, especialmente a descoberta de que ela quebrou regras oficiais ao trabalhar com informações secretas usando um servidor privado em sua casa em Nova York quando ainda era secretária de Estado.
Hillary e sua equipe não se cansaram de acusar o rival republicano e de que os russos estavam por trás da invasão às contas de email dos democratas.
Um dos críticos mais severos foi John Podesta, chefe de campanha de Hillary, cuja conta também foi invadida. Na época, ele acusou o governo russo de responsabilidade pelo vazamento e disse que a campanha de Trump já sabia a respeito.
O que diz analista da BBC
Para o correspondente da BBC em Washington, Anthony Zurcher, apesar de Trump dizer o contrário, ele entrará na Casa Branca em uma situação complicada - e a derrota na votação popular de 2,8 milhões de votos é apenas um dos fatores que colaboram para isso.
"Esse cenário provavelmente explica o porquê de a equipe de Trump estar respondendo de maneira tão incisiva as acusações de que hackers russos influenciaram a política americana em uma tentativa para favorecer o republicano. Assim como a recontagem dos votos, isso pode ser visto como outra maneira de minar a legitimidade da vitória de Trump", afirmou o correspondente.
Para Zurcher, não importa que seja bem pouco provável que a recontagem altere os resultados das eleições ou que os ataques hackers estejam lá no fim da lista de motivos que causaram a derrota de Hillary.
"Os tuítes raivosos de Trump e a indignação de seus partidários são evidência suficiente de que o presidente eleito se sente ameaçado. No caso da Rússia, no entanto, os comentários raivosos de Trump podem custar um alto preço político."