Contra ameaça química, Trump dobra número de mísseis disparados na Síria
Ataque militar é o segundo coordenado pelo presidente americano Donald Trump contra o regime do presidente sírio Bashar al-Assad em pouco mais de um ano.
Questionado se os Estados Unidos podem garantir que o bombardeio contra a Síria livrará a população do país de ataques com armas químicas, o Secretário de Defesa americano, James Mattis, classificou a operação anunciada na noite desta sexta-feira como "pesada".
O ataque militar é o segundo coordenado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, contra o regime do presidente sírio Bashar al-Assad em pouco mais de um ano.
Além de armamento mais pesado, os Estados Unidos tiveram desta vez o apoio das forças armadas do Reino Unido e da França, cujos presidentes fizeram coro sobre a necessidade de "eliminar o uso de armas químicas" em território sírio.
Segundo o Pentágono, os EUA usaram "em torno do dobro" da quantidade de armas empregadas no último bombardeio contra a Síria, em 6 de abril de 2017. Na ocasião, navios de guerra americanos lançaram 59 mísseis Tomahawk contra uma base aérea em Shayrat, deixando 7 militares e 9 civis mortos, segundo o governo sírio.
O primeiro ataque militar conduzido por Trump aconteceu no dia seguinte às mortes de 80 sírios, no que foi considerado um ataque químico conduzido pelo governo al-Assad e aliados.
O bombardeio foi um dos raros momentos em que o presidente americano recebeu elogios de opositores democratas e da imprensa - o jornal New York Times chegou a publicar na época um editorial sobre o "acerto" de Trump na empreitada.
Uma das principais críticas a Barack Obama, antecessor de Trump, foi sua hesitação em autorizar intervenções militares contra a Síria durante um momento de fortalecimento do grupo autodenominado Estado Islâmico.
Críticos, de outro lado, apontaram que a escalada militar seria uma forma de desviar a atenção dos americanos para problemas domésticos de Trump, da aprovação de projetos como o muro na fronteira com o México às investigações sobre um possível conluio com russos nas eleições presidenciais.
O novo ataque também responde a evidências de ataque químico, dessa vez na cidade síria de Douma, na semana passada.
Em 10 dias, Trump desiste de deixar a Síria
O bombardeio marca um forte recuo do presidente americano nos últimos dias.
No último dia 3, Trump surpreendeu ao afirmar que queria trazer as tropas americanas "de volta para casa", contrariando auxiliares que previam um eventual fortalecimento de forças do Irã e da Rússia na região - tradicionais aliados do regime sírio -, além de grupos extremistas.
Afirmando que a tarefa de derrotar o EI estava próxima de ser completada, Trump disse que gostaria de deixar Síria para "reconstruir" os EUA.
"Quero sair, quero trazer nossas tropas de volta para casa. Quero começar a reconstruir a nossa nação", disse Trump a jornalistas na Casa Branca.
Em outro sinal de recuo, Trump havia ordenado ao departamento de Estado o congelamento de mais de US$ 200 milhões (US$ 685 milhões) em fundos destinados a recuperação de redes de energia elétrica e retirada de mísseis não detonados.
Mas os relatos de 40 mortes e centenas de pessoas, na maioria mulheres e crianças, internados por "problemas respiratórios, cianose central (pele ou lábios azuis), excessiva espuma bucal, queimaduras na córnea e odor a gás cloro" mudaram drasticamente o discurso do presidente americano, que anunciou respostas duras ao "ataque químico".
O governo da Síria nega que tenha usado armas químicas e acusou rebeldes de inventarem os informes falsos sobre o ataque, classificados como uma "tentativa falha" de deter o governo sírio em suas tentativas de retomar Douma.
Um dos principais aliados sírios, junto ao Irã, o governo russo prontamente reforçou o discurso de al-Assad.
Vassily Nebenzia, representante permanente de Moscou na ONU, afirmou na segunda-feira que especialistas das Forças Armadas da Rússia visitaram Douma e "confirmaram que não encontraram substâncias químicas na terra, nem cadáveres, nem pessoas envenenadas nos hospitais".
"Os médicos em Douma negam que tenha chegado gente nos hospitais dizendo ter sofrido um ataque químico", acrescentou.
Rússia: "Toda a responsabilidade está com Washington, Londres e Paris"
Após o presidente americano anunciar reação dura ao ataque químico, a Rússia novamente voltou à cena, afirmando que bombardeios na região poderiam dar início a uma guerra.
"A Rússia promete abater todos os mísseis direcionados à Síria. Prepare-se, Rússia, porque eles serão lançados!", respondeu Trump, pelo Twitter.
"Vocês não deveriam se associar a um animal que usa gás para matar e sente prazer com isso", completou o presidente americano.
O anúncio antecipado de uma possível ação militar conjunta com britânicos e franceses contrariou um dos mantras de Trump durante toda a campanha presidencial, em que criticou Obama por "antecipar assuntos militares", prometendo agir "em silêncio e com eficiência" contra nações e grupos inimigos dos Estados Unidos.
Para especialistas, a reação antecipada do presidente americano poderia ter afetado "o elemento surpresa", importante neste tipo de operação.
Os EUA têm cerca de 2 mil soldados oferecendo apoio a opositores do grupo autodenominado Estado Islâmico em território sírio. Além de militares, o efetivo inclui diplomatas americanos.
De outro lado, apoiando o governo al-Assad, forças russas e grupos armados apoiados pelo Irã combatem diferentes grupos rebeldes que tentam tomar o governo do país, em guerra civil há 7 anos.
O governo russo condenou o ataque deste sábado em comunicado assinado pelo embaixador nos Estados Unidos, Anatoly Antonov.
"Novamente, estamos sendo ameaçados. Nós já avisamos que ações como esta não ficarão sem consequências. Toda a responsabilidade por elas está com Washington, Londres e Paris."
Para especialistas entrevistados pela imprensa americana, os bombardeios realizados pelos três países ocidentais podem gerar forte retaliação dos aliados da Síria.
Dada a ligação entre a Rússia, Irã e al-Assad, um ataque que nós consideraríamos restrito e preciso poderia ser mal interpretado por uma ou mais dessas três partes e justificar a partir de sua perspectiva um ataque de retaliação", avaliou o general aposentado do Exército americano James M. Dubik, membro sênior do Instituto para o Estudo da Guerra, em entrevista ao jornal Washington Post.