Coreia do Norte e Rússia causam abalos políticos com movimentos de guerra na Ucrânia
A ministra das Relações Exteriores da Coreia do Norte chegou à Rússia na terça-feira para conversações, no momento em que a guerra entre Rússia e Ucrânia parece estar tomando um novo e perigoso rumo, com Otan e Coreia do Sul expressando alarme de que tropas norte-coreanas poderiam em breve se juntar ao lado de Moscou.
A Otan disse na segunda-feira que milhares de soldados norte-coreanos estavam se movendo em direção à linha de frente.
A revelação alarmou Kiev, que disse que sanções não seriam suficientes e pediu mais armas e um plano internacional para manter as tropas norte-coreanas à distância.
A Coreia do Sul, que permanece tecnicamente em guerra com o Norte, que possui armas nucleares, décadas após a Guerra da Coreia de 1950-1953, também condenou os movimentos, com as autoridades de Seul particularmente preocupadas com o que a Rússia pode estar fornecendo a Pyongyang em troca.
A ministra das Relações Exteriores da Coreia do Norte, Choe Son Hui, chegou ao extremo leste da Rússia na terça-feira, a caminho de Moscou, segundo a mídia estatal russa. As agências de notícias estatais russas disseram que não estava claro com quem Choe, fazendo sua segunda visita em seis semanas, se encontraria em Moscou.
O Kremlin afirmou que Putin não tinha planos de se encontrar com ela.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, conversou com o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, na terça-feira, e disse que os movimentos norte-coreanos estavam levando a guerra a uma fase sem precedentes.
"A conclusão é clara - esta guerra está se internacionalizando, indo além de dois países", declarou Zelenskiy no X.
Yoon disse a Zelenskiy que, se a Coreia do Norte receber ajuda da Rússia e puder adquirir experiência e conhecimento militar com seu envolvimento na guerra, isso representará uma "grande ameaça" à segurança da Coreia do Sul, de acordo com uma declaração do gabinete presidencial sul-coreano.
A Coreia do Sul disse que pode começar a fornecer armas para a Ucrânia se as tropas norte-coreanas se juntarem à guerra da Rússia. O Pentágono também afirmou na segunda-feira que não imporia novos limites ao uso de armas norte-americanas pela Ucrânia se a Coreia do Norte entrasse na luta.
O presidente russo, Vladimir Putin, não negou a presença de tropas norte-coreanas no país.
Não está claro o papel que as tropas norte-coreanas podem desempenhar. Analistas afirmam que seu pequeno número e suas capacidades possivelmente limitadas provavelmente não serão decisivos, mas elas poderiam reforçar as unidades russas fornecendo trabalho manual ou ocupando posições defensivas.
É provável que elas também desempenhem um papel político para Rússia e Coreia do Norte, fortalecendo suas relações com a China, que tem uma parceria desconfortável com os dois países, e enviando uma mensagem para Washington e seus aliados, disseram diplomatas e analistas ocidentais.
"Quanto mais estreitos forem os laços de Moscou com Pyongyang, mais influência ela espera ter sobre os aliados dos EUA e também sobre a China", escreveu Gilbert Rozman, do Fórum Asan, para o programa 38 North, sediado nos EUA.
Alguns milhares de soldados norte-coreanos não mudarão o curso da guerra, portanto, pode ser uma tentativa russa de enfatizar para os Estados Unidos o quanto Moscou pode ser perturbadora se quiser, disse um diplomata que falou sob condição de anonimato.
"Integrar as tropas norte-coreanas em uma máquina de guerra muito complexa não é fácil. Mas usar sua presença para assustar os Estados Unidos e seus aliados na Ásia é bastante simples", declarou o diplomata. "A principal questão é: até que ponto a Rússia está realmente mudando toda a sua abordagem pós-soviética em relação à Coreia do Norte?"
O conflito na Ucrânia eclodiu quando a Rússia invadiu sua vizinha em fevereiro de 2022 e, desde então, se transformou em uma guerra de desgaste travada em grande parte ao longo das linhas de frente no leste da Ucrânia, com um grande número de baixas em ambos os lados.
O Pentágono estimou que 10.000 soldados norte-coreanos foram enviados para o leste da Rússia para treinamento, acima de uma estimativa de 3.000 soldados na última quarta-feira.