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Coronavírus: exame para detectar nova doença é falho?

Aumento de relatos em diversos países de pessoas que receberam vários resultados negativos antes de ser detectada presença do vírus causou onda de ceticismo e preocupação sobre eficácia de testes de laboratório.

14 fev 2020 - 08h06
(atualizado às 08h11)
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Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Há uma onda crescente de ceticismo e preocupação em relação a testes de laboratório que estão dizendo incorretamente às pessoas que elas estão livres do novo coronavírus (Covid-19).

Surgiram relatos em diversos países de pessoas que receberam até seis resultados negativos para a doença até que finalmente a análise apontou a presença de coronavírus.

Enquanto isso, autoridades no epicentro do surto, a província chinesa de Hubei, decidiram passar a registrar oficialmente como infectados aqueles que apresentam sintomas como febre, tosse e manchas no pulmão — sem depender de confirmação por exame laboratorial.

Esse método associa diagnóstico clínico com exame de imagem do pulmão.

A mudança, segundo as autoridades chinesas, visava dar mais celeridade ao tratamento e ao isolamento dos pacientes infectados com a doença, além de ampliar o escopo de quem precisa ser monitorado por eventuais sintomas.

Como consequência, foram divulgados quase 15 mil casos novos na quinta-feira (13), ou seja, um quarto de todos os registros feitos até então (quase 60 mil).

Nesta sexta-feira, o governo chinês divulgou 5.090 novos casos. Até agora, 63.851 pessoas foram diagnosticadas com a infecção, e 1.380 morreram — 108 mortes haviam sido contadas erroneamente e acabaram excluídas.

Como funcionam esses exames?

Esse tipo de análise procura o código genético do vírus.

Primeiro, se extrai uma amostra do paciente. Depois, em laboratório, o código genético do vírus (se ele está presente) é extraído e copiado repetidamente, fazendo com que pequenas quantidades se tornem grandes e detectáveis.

Esses testes "RT-PCT", amplamente usados na medicina para detectar vírus como o HIV e o influenza, são geralmente bastante confiáveis.

"Eles são bastante robustos, em geral, com baixa taxa de falso positivo e de falso negativo", afirma Nathalie MacDermott, do King's College de Londres.

Mas o que tem dado errado?

Um estudo na publicação científica Radiology mostrou que 5 de 167 pacientes apresentaram resultado negativo no exame de laboratório ainda que exames de imagem dos pulmões mostrassem que elas estavam doentes. O diagnóstico positivo só sairia dias depois.

Há diversos relatos em torno disso.

Um deles inclui o médico chinês Li Wenliang, um dos primeiros a alertarem sobre os riscos da doença — ele, que morreu da doença, foi alçado ao posto de herói depois de ter sido enquadrado pelo governo sob a acusação injusta de espalhar boatos.

Li afirmou que os exames de laboratório deram negativo várias vezes, até que um deles desse positivo.

Jornalistas chineses têm publicado diversos outros casos de pessoas que só receberam o diagnóstico correto da doença no sétimo exame. Histórias semelhantes foram reportadas em Cingapura e Tailândia.

Nos Estados Unidos, Nancy Messonnier, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), afirmou que parte desses exames de laboratório estava produzindo resultados inconclusivos.

O que pode estar acontecendo?

Uma possível explicação é que os testes são acurados, e os pacientes não têm coronavírus no momento do exame.

É também época de gripes, resfriados e crises alérgicas na China, e pode haver uma confusão entre esses quadros e o coronavírus.

"Os sinais iniciais de coronavírus são muito parecidos com outros vírus respiratórios", afima MacDermott, do King's College de Londres.

"É possível que, ao longo do tempo, eles tenham sido infectados e depois diagnosticados com a doença."

Outra possibilidade é que os pacientes têm de fato o novo coronavírus, mas ainda em estágio inicial e, portanto, incapaz de ser detectado.

Ainda que os testes "RT-PCR" aumentem bastante o volume de material genético do vírus, eles precisam ter algo com que trabalhar.

"Mas isso não faz sentido após seis exames", diz MacDermott.

"Com o ebola, nós aguardávamos 72 horas depois de um teste negativo para dar tempo ao vírus."

Throat swab
Throat swab
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Uma terceira possibilidade é que exista um problema com a forma com que as amostras estão sendo coletadas.

As amostras de secreções respiratórias estão sendo extraídas do lugar certo e do jeito apropriado?

Segundo MacDermott, se essas amostras não são devidamente extraídas, manipuladas e armazenadas, os testes podem não funcionar.

Especialistas debatem se exame feito com material colhido na garganta pode estar no lugar errado. Afinal, o novo coronavírus é mais uma profunda infecção do pulmão do que no nariz ou na garganta.

No entanto, se um paciente está tossindo, por exemplo, pode tornar possível a descoberta do vírus para além do pulmão.

Coronavírus foram batizados assim por causa das pequenas 'coroas' na superfície
Coronavírus foram batizados assim por causa das pequenas 'coroas' na superfície
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Por fim, a quarta possibilidade é que a ciência por trás dos testes RT-PCR tem falhas.

Para realizar esse exame, os profissionais de saúde primeiro precisa escolher um trecho do código genético do vírus que eles achem que não vai mutar.

Mas se a semelhança entre o trecho escolhido e o vírus encontrado no paciente for pequena, então a pessoa infectada vai receber um resultado negativo.

No estágio atual, é impossível dizer exatamente o que está acontecendo. "De todo modo, os alertas estão aí para você continuar fazendo exames nas pessoas enquanto elas continuarem a ter sintomas", defende MacDermott.

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