Crise na Líbia se aprofunda em dia de juramento do novo governo
Além de briga política, ministros foram raptados por milícias
A crise que atinge a Líbia desde 2011 ganhou um novo capítulo nesta quinta-feira (3), dia em que estava programado o juramento no novo governo liderado pelo primeiro-ministro Fathi Bashagha.
A milícia Misurata Joint Operations Force está bloqueando a passagem do comboio dos novos membros do governo até Tobruk, onde deveria ocorrer a cerimônia oficial, informou o jornal "Libya Observer".
Já os novos ministros das Relações Exteriores, Hafez Gaddour, e da Educação, Salha al-Darawqui, teriam sido raptados enquanto se dirigiam da cidade de Misurata para Tobruk, informam vários sites locais. Os dois teriam ficado presos no meio de um conflito armado e estavam se dirigindo por terra porque o espaço aéreo líbio está fechado.
Ainda conforme a mídia local, Bashagha teria questionado o procurador-geral do país, Al Siddiq Al Sour, sobre esse fechamento aéreo, que teria sido ordenado pelo governo do ex-premiê Abdel Hamid Dbeibah.
"Nós recebemos informações que o precedente governo, do qual o mandato já acabou, se aproveitou da autoridade que tinha para isso, já que não há lei para fechar completamente o espaço aéreo líbio. Essa é uma clara violação do direito de movimentação constitucionalmente garantido e um ataque das autoridades constitucionais e políticas, que impedem que eles cumpram os próprios deveres e desenvolvam corretamente seus compromissos", disse Bashagha.
Para além dos atos violentos, o novo ministro de Economia e Comércio, Gamal Salem Shabaan, anunciou que estava renunciando à função porque considera que o voto de confiança dado pelo Parlamento há dois dias "não foi transparente [...] e não levou em conta as regras de procedimento, não se coordenando com o Conselho de Estado".
"Fiquei preocupado com as denúncias de que na Câmara dos Representantes a votação não foi à altura dos padrões de transparência e procedimentos e atos intimidatórios foram vistos antes da sessão", disse ainda Shabaan referindo-se a comentários vindos da Organização das Nações Unidas (ONU).
Nova crise política
A mais nova crise na política da Líbia começou no fim do ano passado, quando o governo informou que as eleições presidenciais, que deveriam ocorrer em 24 de dezembro, seriam canceladas para 2022.
Dividida em dois Parlamentos, unificados após uma derrota militar do marechal Khalifa Haftar em 2019, a Líbia tem uma sede política em Tobruk e outra em Trípoli. Essa última é reconhecida pela comunidade internacional.
Em março do ano passado, em acordo dos dois lados, Dbeibah foi escolhido como premiê com a principal função de realizar eleições após 10 anos. No entanto, em novembro, a parte de Tobruk aprovou uma moção para remover o premiê por conta de seu fracasso já visível, mas o Conselho de Estado de Trípoli vetou o pedido.
No entanto, no início de fevereiro, os dois lados chegaram a um acordo para fazer uma votação e eleger um novo nome para a chefia do governo, novamente, com a missão de realizar eleições livres no país.
Uma comissão parlamentar determinou que ela deverá ocorrer 14 meses depois do Parlamento aprovar modificações na Declaração Constitucional, que ainda não tem prazo de votação. Ou seja, o pleito não acontecerá neste ano.
Após uma eleição conturbada, Bashagha foi anunciado como vencedor por "aclamação", mas o resultado foi contestado por Dbeibah e por milícias que o apoiam. Nesta quarta-feira (2), um grupo delas emitiu uma nota em que condena "o governo paralelo líbio" e pede ao presidente do país, Mohamed Yunis al-Menfi, que dissolva o Parlamento e realize eleições parlamentares.
Os grupos ainda dizem que essa manobra para por Bashagha no cargo fará com que o marechal Haftar tome o poder dando um golpe político após ter sido derrotado militarmente.
O mesmo tipo de discurso foi divulgado por Dbeibah, que afirmou que a ação "é uma conspiração por parte da Câmara dos Representantes para legitimar a extensão do mandato para o próprio Parlamento". O político ainda afirmou que não fará a transferência de poder para o recém-eleito.
"O que está acontecendo agora é ceder as autoridades de Estado a uma parte do país que esteve envolvida no derramamento de sangue e mortes e guiaram a guerra de Trípoli em 2019. Aqueles que são acostumados com a guerra, não sabem fazer de outro jeito. Entendem apenas a linguagem do fogo e das armas. Não param nem com uma derrota, nem que seja uma derrota militar, porque uma derrota do tipo pode fazer eles desejarem voltar maneiras tortuosas, que também levarão à falência", disse o político em referência a Haftar. .