Crise na Venezuela consumirá R$ 3 bilhões em 2019, diz ONU
Dinheiro será para países da região que recebem imigrantes venezuelanos
Em um dos maiores pacotes de resgate já lançados pela ONU para a América Latina em sua história recente, a entidade diz que precisará de US$ 738 milhões (R$ 2,9 bilhões) para dar assistência em uma crise que, em 2019, afetará 3,6 milhões de pessoas, incluindo imigrantes e refugiados venezuelanos e comunidades locais nos países fronteiriços da nação em crise. Segundo o plano lançado nesta terça-feira, 4, não há perspectiva de que essa população volte tão cedo para o país.
Segundo a ONU, serão necessários mais recursos em 2019 para a crise venezuelana que para o Afeganistão, Iraque, Mianmar ou Líbia. A ONU deixa claro que os recursos não são para a Venezuela, mas para Brasil, Colômbia, Peru, Equador e outros doze países da região, para ajuda-los a receber esses venezuelanos.
Com o plano em mãos, a ONU passará a buscar doadores internacionais e governos de países ricos para fazer frente à crise que se instalou no continente.
O dinheiro será usado principalmente para o atendimento médico e alimentos, em uma população que cruza a fronteira em condições de miséria. Na semana passada, o Estado revelou como, pela primeira vez, o governo venezuelano havia cedido e aceitou cerca de US$ 9,5 milhões para que entidades internacionais pudessem financiar programas para a compra de remédios e alimentos para a população local. O governo de Nicolas Maduro se recusava a qualificar a situação de crise humanitária. Mas acabou cedendo.
Agora, o pacote anunciado se refere ao volume que precisa ser destinado para os países da região para ajuda-los a lidar com a população de venezuelanos que se instalou na América do Sul e que passou a ser considerado como o maior êxodo do continente na história recente.
Em 2018, o volume de dinheiro internacional para a crise de migrantes venezuelanos chegou a US$ 17 milhões.
Mas, para 2019, a quantia que foi estimada como necessária foi multiplicada por mais de 40 vezes. "A América Latina está vivendo o maior êxodo de sua história moderna", indica a ONU. "Mais de 2,6 milhões de refugiados e migrantes deixaram a Venezuela e pelo menos 1,9 milhão saíram desde 2015", disse. "A instabilidade política que continua, a deterioração sócio-econômica e crescente insegurança e violência devem resultar em maior pressão sobre uma população já sob estresse, levando a uma continuação do fluxo de refugiados e migrantes", prevê.
"Em 2019, estima-se que 3,6 milhões de pessoas estejam precisando de assistência e proteção, sem uma perspectiva de retornar (para a Venezuela) no curto ou médio prazo", alertou.
O documento com o plano da ONU admite que os países da região têm recebido os venezuelanos de forma generosa. Mas a entidade alerta que a continuação do êxodo em 2019 vai desafiar a capacidade desses governos e dar uma resposta, assim como terá um impacto na capacidade de absorção de comunidades locais.
"Além disso, a vulnerabilidade das pessoas deixando o país aumentou nos últimos meses. A maioria andou milhares de quilómetros em poucas semanas, cruzando dois ou mais países", indicou. "Muitas são mulheres grávidas, mães solteiras, idosos e pessoas com problemas de saúde que precisam de apoio urgente", disse a ONU, lembrando que muitos ainda estão expostos à violência, abuso e discriminação.
Para a entidade, portanto, um incremento da ajuda humanitária e mecanismos de inclusão sócio-econômica são medidas "urgentes" para complementar os esforços dos governos locais e "garantir que as comunidades locais continuem a aceitar refugiados e migrantes".
O pacote, portanto, prevê o atendimento a mais de 2,2 milhões de refugiados e migrantes, assim como 500 mil membros das comunidades que os recebem.
Os objetivos estratégicos do pacote incluem o fortalecimento de instituições de governos da região para dar uma resposta à crise, compra de remédios e alimentos, reduzir os incidentes de exploração sexual e tráfico, assim como garantir integração nas comunidades que os recebem.
No geral, a ONU estima que 132 milhões de pessoas em 2019 enfrentarão as consequências de uma crise humanitária no mundo, numa operação que deverá custar US$ 21,9 bilhões, sem contar com a crise na Síria. O dinheiro será suficiente para atender a 93 milhões de pessoas. So somado a guerra na Síria, o mundo gastará no próximo ano US$ 25 bilhões.
Saúde
Para 2019, o Estado apurou que uma das áreas de prioridade será ainda o sistema de saúde da Venezuela. A OMS estima que o país perdeu 20% de sua capacidade de atuação diante da crise que enfrenta o país.
"O setor de saúde foi atingido e sua capacidade reduzida", disse o diretor-geral da agência de Saúde da ONU, Tedros Adhanom Ghebreyesus. "Estimamos que, em comparação a sua dimensão original, o setor está operando com uma capacidade de 80%", afirmou.
"Também vimos o aumento da malária e outras doenças. Estamos ajudando com compra a determinados setores, como vacinas, e temos canais abertos com o governo", indicou. Segundo ele, a OMS também está prestando assistência para os refugiados e imigrantes no Peru, Brasil, Colômbia e Equador. De acordo com o diretor-geral, 20 mil médicos e 5 mil enfermeiros deixaram o país. Antes da crise começar, existiam 66 mil médicos na Venezuela.
Tedros indicou que a meta é a de preencher as lacunas deixadas pela crise. Mas garantir que também tem pedido o compromisso do governo para garantir recursos à saúde primária.
Dos US$ 9,5 milhões enviados pela ONU, a maior parcela do dinheiro está indo para a OMS. A agência terá US$ 3,6 milhões para gastar no fortalecimento de hospitais, ajudar a pagar salários e até mesmo na compra de remédios.