Davos 2019: 10 coisas que você talvez não saiba sobre conferência em que Bolsonaro fará estreia internacional
Encontro anual que reúne líderes mundiais da política e mundo dos negócios e academia foi criado em 1971 para buscar soluções por um mundo melhor; mas também é um evento com várias curiosidades.
Todo mês de janeiro, há quase 50 anos, líderes mundiais, chefes das maiores empresas do mundo e um punhado de celebridades se reúnem em uma pequena cidade montanhosa na Suíça, chamada Davos, para o Fórum Econômico Mundial. O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, participará do encontro, em sua estreia em um evento internacional.
Até agora, mensagens conflitantes geram dúvidas sobre o futuro do Brasil nas relações internacionais. A participação de Bolsonaro pode dar pistas, por exemplo, se o pragmatismo econômico de Guedes e dos militares vai ou não se sobrepor à política internacional de Ernesto Araújo e à retórica de Bolsonaro contra China e pró-Estados Unidos.
Mas o que é esse encontro e por que ele atrai tantas personalidades importantes da política e economia mundiais? Aqui estão 10 fatos para você ficar por dentro do evento:
1. Não é realmente chamado Davos
Embora todos chamem de Davos, a reunião em janeiro é na verdade o encontro anual do Fórum Econômico Mundial (FEM). Davos é simplesmente o nome do resort suíço na montanha onde a cúpula é realizada.
A associação do nome da cidade com o prestigioso encontro resultou na proliferação de eventos rivais, que tentaram capitalizar o prestígio do nome, com conferências que diziam ser "Davos" disto ou daquilo.
Mas no ano passado, quando uma conferência de investimentos saudita foi apelidada de "Davos no deserto", na época da polêmica morte do proeminente crítico do governo Jamal Khashoggi, o FEM finalmente reagiu. Ele advertiu que usaria "todos os meios para proteger a marca Davos contra a apropriação ilícita".
2. Não é apenas uma conferência
O Fórum Econômico Mundial é um grupo sem fins lucrativos com a missão ambiciosa de melhorar a situação mundial.
Oficialmente, o evento em Davos é uma conferência. Há intermináveis discursos e sessões sobre tudo, desde as perspectivas para a economia global até o gerenciamento do estresse.
Na realidade, a maioria das pessoas não está lá para as sessões, mas para incrementar sua rede de contatos. Estar em um espaço relativamente pequeno por quatro dias permite que chefes, políticos e jornalistas tenham um número alto de reuniões em um curto espaço de tempo, sem a necessidade de viagens.
Os encontros vão até tarde da noite com jantares diários, bebidas e festas, bancados pelas empresas que estão participando.
3. Reuniões podem levar a ações
O fundador do fórum, Klaus Schwab, iniciou o evento anual em 1971 para discutir práticas de gestão global. Agora, o FEM tem um papel muito mais amplo, mas os críticos argumentam que ainda é apenas uma conversa.
Porém, o cenário isolado de Davos oferece aos políticos chances valiosa de encontros afastados com relativa distância do público.
As Coreias do Norte e do Sul realizaram suas primeiras reuniões ministeriais em Davos em 1989, por exemplo. No ano passado, os primeiros-ministros grego e macedônio se encontraram frente a frente pela primeira vez em sete anos, abrindo caminho para o fim de uma disputa de 27 anos sobre o nome da Macedônia - recentemente o país vizinho à Grécia aceitou mudar de nome para Macedônia do Norte.
4. Apenas empresas pagam (muito) para participar
Os únicos participantes que pagam para participar do FEM são empresas. Todos os outros participantes são convidados gratuitamente.
A taxa para as empresas é de 27 mil francos suíços (R$ 101 mil) por pessoa. Mas isso não é tudo.
Os participantes também têm de ser membros do Fórum Econômico Mundial. Há uma série de tipos de filiação, começando com 60 mil francos suíços (R$ 226 mil) por ano até impressionantes 600 mil francos suíços (R$ 2,2 milhões) - como um "parceiro estratégico".
É um negócio caro, mas os principais membros têm acesso a sessões privadas com seus colegas do setor e, ao contrário de todos os outros - obrigados a se deslocar a pé, escorregando e deslizando sobre as calçadas geladas no inverno suíço -, eles também têm carro e motorista à disposição. Um preço que vale a pena pagar, alguns podem dizer.
5. Os crachás da conferência são codificados por cores
Melhorar a desigualdade no mundo é sempre um grande ponto de discussão em Davos, mas o sistema de identificação do FEM na conferência está longe de dar o mesmo tratamento a todos os participantes, graças a um complicado sistema de "castas" de crachás coloridos.
Sim, você pode estar no mesmo lugar que o príncipe William ou o premiê da Nova Zelândia, mas é improvável que esbarre neles pelos corredores.
Convidados de alto perfil recebem um distintivo branco com um holograma, dando-lhes acesso a todos os lugares - incluindo as reuniões especiais com bastidores superexclusivos.
Existem diferentes crachás coloridos para os cônjuges dos participantes e jornalistas, todos oferecendo vários níveis de acesso. O nível mais baixo é um crachá de "hotel", o que significa que você não pode entrar no centro de conferências, mas crucialmente pode participar das festas noturnas ou mesmo esquiar.
6. Há muitos homens
Nos 49 anos da reunião anual de Davos, os homens superaram em muito o número de mulheres, apesar de haver um sistema de cotas para grandes empresas, que precisam levar ao menos uma mulher a cada quatro homens.
É comum ouvir a expressão "Davos Man", "Homem da Davos", para descrever os participantes mais ilustres: poderosos e ricos homens de elite - que muitos veem como fora de sintonia com o mundo real.
Na verdade, isso reflete em grande parte a própria realidade no mundo dos negócios e da política: no topo, os homens predominam.
No entanto, a situação está melhorando. Este ano, 22% dos participantes serão do sexo feminino. Não é ótimo, mas a porcentagem de mulheres dobrou desde 2001.
7. Não é uma multidão jovem
Leva tempo para chegar ao topo e ser convidado para Davos - e a idade média dos participantes reflete isso: é 54 para homens e 49 para mulheres.
Claro que existem algumas anomalias. Com apenas 16 anos, a fotógrafa da vida selvagem da África do Sul, Skye Meaker, é a mais jovem participante deste ano, enquanto o mais velho é o apresentador britânico de documentários sobre a natureza David Attenborough, de 92 anos.
8. Tem sua própria linguagem
O uso de complicados jargões corporativos é uma marca registrada da conferência. O que alguém realmente quer dizer pode ser um mistério, mesmo para o experiente observador do FEM.
Até mesmo o tema da conferência de cada ano é muitas vezes enigmático.
Este ano, é "Globalização 4.0: Moldando uma arquitetura global na era da quarta revolução industrial".
O que é isso realmente? Bom, vamos deixar você saber na próxima semana.
9. É como passar pelos controles de aeroporto... mas sem voar
Os participantes deste ano incluem os premiês do Japão e da Nova Zelândia, Shinzo Abe e Jacinda Ardern, assim como o príncipe William e a chanceler alemã, Angela Merkel.
Dado o alto perfil de muitos dos participantes, a segurança é compreensivelmente reforçada.
Há atiradores de elite em todos os tetos e uma zona segura em que só se entra com o crachá correto. Toda vez que você entrar no centro de conferências principal, você terá que tirar o seu casaco, escanear seu laptop e sua bolsa e depois colocar tudo de novo. É como passar constantemente pela segurança do aeroporto sem nunca voar.
10. Todo mundo adora um gorro
Os participantes podem ser abastados chefes de Estado, CEOs que ganham centenas de milhares ou até milhões de dólares, mas a atração de um gorro gratuito é surpreendentemente irresistível.
Todos os anos, a Zurich Insurance dá gorros de malha azul brilhante. E quase todo mundo pega. Meses depois, se você vir alguém usando um na rua, vocês pode acenar discretamente. Essa pessoa faz parte do grupo de Davos.