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'De certa forma, o crime compensa', diz falsa herdeira que enganou alta sociedade de Nova York e virou série

Anna Sorokin, mais conhecida como a falsa herdeira Anna Delvey, falou sobre a venda dos direitos de sua história para a Netflix e outros detalhes de quando ela estava fingindo ter vida de celebridade.

12 mar 2021 - 10h04
(atualizado às 10h08)
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Anna Sorokin usou a falsa identidade de Anna Delvey
Anna Sorokin usou a falsa identidade de Anna Delvey
Foto: Getty / BBC News Brasil

Após ser libertada da prisão, Anna Sorokin, a vigarista conhecida como "a falsa herdeira", diz que está tentando tirar o máximo proveito da fraude que cometeu.

Sorokin ficou famosa ao se passar por uma socialite de Nova York, cometendo com sucesso uma fraude em que acumulou mais de US$ 270 mil (R$ 1,5 milhão).

Usando a falsa identidade de Anna Delvey, a golpista morava em hotéis cinco estrelas, usava roupas de estilistas de alta costura, ia a festas exclusivas, viajava em aviões particulares e dava gorjetas generosas.

Depois de mais de três anos na prisão pelos crimes que cometeu, Sorokin ganhou liberdade condicional no dia 11 de fevereiro.

A Netflix pagou a ela US$ 320 mil (R$ 1,8 milhão) pelos direitos de criar uma série sobre a história dela.

Em uma entrevista recente ao programa Newsnight, da BBC, Sorokin foi questionada se o crime compensa.

"De certa forma, sim", respondeu.

A história de seus golpes se tornou viral em 2018, despertando o interesse instantâneo dos produtores de televisão.

"Nunca pedi para a Netflix para comprar os direitos, simplesmente aconteceu", disse Sorokin.

Sorokin passou mais de três anos na prisão
Sorokin passou mais de três anos na prisão
Foto: Getty / BBC News Brasil

"E tudo mais saiu do controle. Não que eu tenha orquestrado alguma coisa", ressaltou.

Sorokin não conseguiu ficar com todo o dinheiro que a Netflix ofereceu por causa de uma lei de Nova York que impede que os condenados lucrem com sua fama relacionada ao crime.

A conta bancária dela foi congelada, e boa parte do dinheiro foi utilizado para indenizar as vítimas.

Pelo menos US$ 170 mil (R$ 976 mil) serviram para quitar dívidas e pendências com os bancos.

Almoços com espumante e férias luxuosas

Sorokin estava com vinte e poucos anos quando passou um tempo em Nova York, dizendo às pessoas que tinha uma reserva de US$ 60 milhões (R$ 344 milhões) e um projeto ambicioso para criar uma fundação relacionada à arte.

Na verdade, a jovem fora estagiária de uma revista e vinha de uma família comum de imigrantes russos que viviam na Alemanha.

A atriz Julia Garner, estrela de "Inventing Anna", da Netflix, visitou Sorokin na prisão
A atriz Julia Garner, estrela de "Inventing Anna", da Netflix, visitou Sorokin na prisão
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Hospedando-se em hotéis caros e apresentando uma vida de celebridade no Instagram, ela conseguiu fazer muita gente acreditar em suas fantasias e pagar as suas contas.

Usando documentos falsos, Sorokin até convenceu um banco a lhe conceder um cheque especial de US$ 100 mil (R$ 574 mil), que a polícia barrou a tempo.

A golpista afirma que, durante o julgamento, a acusação desempenhou um papel importante na criação de uma "persona".

"A promotoria deturpou totalmente meus motivos. Disseram que eu estava desfilando por Nova York, me fazendo passar por herdeira. O que aconteceu foi estritamente entre as instituições financeiras e eu. Me retrataram como um falso membro da alta sociedade e uma fã de festas. Esse nunca foi meu objetivo ", declarou.

Embora Sorokin gostasse de almoços com espumantes e férias de luxo, ela tinha como objetivo principal criar sua fundação de fomento à arte.

De forma fraudulenta, ela buscou um empréstimo de US$ 22 milhões (R$ 126 milhões) para começar seu projeto.

Sorokin até produziu um livreto de alta qualidade — mas nunca pagou o designer — e afirmou que contava com o endosso de artistas famosos, como o búlgaro Christo, que morreu em 2020.

Anna Sorokin (à direita) durante uma cerimônia de premiação de moda em Nova York em 2014, em um momento que antecedeu o período sob investigação no tribunal
Anna Sorokin (à direita) durante uma cerimônia de premiação de moda em Nova York em 2014, em um momento que antecedeu o período sob investigação no tribunal
Foto: Getty / BBC News Brasil

Antes de seu falecimento, um dos assessores do artista disse à BBC que essa alegação era pura invenção.

A defesa de Sorokin foi baseada em uma narrativa de "fingir até que dê certo". Seu advogado disse à revista The Cut que ela até contratou um estilista para manter as aparências no tribunal.

Ao ser questionada sobre quando Anna Sorokin começou a se transformar em Anna Delvey, ela afirmou: "Eu sempre fui Anna Delvey".

"(Outros) me retrataram como uma pessoa muito manipuladora, mas não acho que seja o caso", analisou.

"Eu nunca fui alguém muito legal. Nunca tentei convencer ninguém de nada. Eu apenas disse às pessoas o que eu queria e elas me deram. Eu simplesmente segui meu caminho", completou.

Na entrevista ao programa Newsnight, da BBC, Sorokin disse que nunca imaginou que estava enganando as pessoas.

Em abril de 2019, a golpista foi condenada por quatro acusações de roubo de serviços, três de grande roubo e uma de tentativa de grande roubo. Ela foi absolvida de outras duas acusações.

Após ganhar liberdade condicional, ela diz que foi inundada com pedidos de entrevistas e que contratou um cineasta para assumir o controle da narrativa que será criada em torno dela.

Anna Sorokin foi entrevistada no programa Newsnight, da BBC
Anna Sorokin foi entrevistada no programa Newsnight, da BBC
Foto: BBC News Brasil

"Estou escrevendo meu livro, tenho meu projeto NFT (sigla em inglês para token não fungível, uma espécie de certificado digital criptografado que representa conteúdos únicos) e meu merchandising, e estou trabalhando em questões sobre a reforma penitenciária", revelou.

"Estou tentando desviar a atenção que recebo agora para trazer algo positivo", completou.

Sorokin insiste que não considera honroso ser uma vigarista condenada — nas redes sociais, no entanto, sabe usar muito bem essa reputação.

No início desta semana, ela tuitou a imagem de uma pilha de livros sobre o tema dinheiro e trapaça.

Embora já tivesse falado em arrependimento, Sorokin diz agora que essa não é a palavra correta, porque isso implica tristeza e ela não está triste com o que fez, embora não o faria de novo.

Seu advogado, Todd Spodek, disse à BBC que Sorokin está trabalhando em uma apelação e prevê que será deportada de volta para a Alemanha num futuro próximo.

Sorokin, porém, afirmou que tentará ficar nos Estados Unidos.

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