De Lampedusa a Juba, o Papa que ama as periferias do mundo
Francisco 'driblou' grandes capitais ao escolher destinos
Por Manuela Tulli - Francisco é o Papa das periferias do mundo: de Lampedusa, na Itália, a Juba, no Sudão do Sul, Jorge Bergoglio quis, nos 10 anos de seu pontificado, privilegiar os rincões esquecidos do mundo. E assim jogou luz sobre realidades que corriam o risco de ficar perenemente em segundo plano.
É com esta lógica que ele esteve em Tirana (Albânia) e não em Paris (França), em Malta e não em Madri (Espanha) ou Berlim (Alemanha). Viajou duas vezes a Lesbos, a ilha grega dos migrantes, assim como havia escolhido Lampedusa para sua primeira visita na Itália. E se Veneza perdeu a esperança de vê-lo em suas ruas, o Papa já esteve seis vezes em Assis.
As viagens italianas também incluíram outras pequenas cidades que precisavam do carinho de Francisco, como Amatrice, devastada por um terremoto em 2016, Piazza Armerina para lembrar o padre Pino Puglisi, vítima da máfia, e Portocomaro para comemorar o aniversário de um primo.
Foi o próprio Papa, em sua viagem de volta da África, em fevereiro passado, quem explicou que, na Europa, escolheu "os países menores", para conhecer uma parte do continente mais "escondida". "Minha escolha é esta: tentar não cair na globalização da indiferença." Daí a decisão de visitar a Bósnia e Herzegovina em 2015, a Suécia em 2016, os países bálticos em 2018, a Macedônia do Norte em 2019 e o Chipre em 2021.
O Papa foi também a terras diretamente afetadas pelas guerras, deixando de lado qualquer hesitação por questão de segurança. Com este espírito, viajou à República Centro-Africana, ao Iraque, à República Democrática do Congo, países ensanguentados por ferozes conflitos.
O diálogo inter-religioso é outro fio condutor que o Papa segue há 10 anos. Daí as visitas a muitos países onde os católicos são minoria, da Turquia muçulmana ao Sri Lanka budista. As próximas viagens serão à Hungria, no fim de abril, a Lisboa, em agosto, para a Jornada Mundial da Juventude, e a Marselha, na França, em setembro, para um encontro de bispos do Mediterrâneo.
Mas o pontífice também estuda uma visita à distante Mongólia, que abriga pouco mais de mil católicos, menos do que qualquer paróquia de montanha na Europa ocidental.
O coração do pontífice ainda tem outras viagens que ele espera fazer: a Kiev e Moscou para selar a distante paz entre Ucrânia e Rússia, e à China.