Debate sobre desigualdade em vacinas invade Davos
Presidente sul-africano cobrou países ricos
O evento online promovido pelo Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, virou plataforma para discutir problemas na distribuição de vacinas contra o novo coronavírus pelo mundo.
Sem conseguir realizar uma versão presencial do fórum devido à pandemia, os organizadores decidiram promover nesta semana uma série de discussões online reunindo alguns dos principais líderes do planeta.
O evento acontece em meio ao crescente debate sobre a desigualdade na distribuição de vacinas anti-Covid, que até o momento privilegiou países ricos. De acordo com o portal Our World in Data, das 68,4 milhões de doses já aplicadas ao redor do mundo, apenas 18.353 delas foram na África, todas nas Seychelles.
Em seu discurso em streaming no Fórum de Davos, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, condenou o "nacionalismo das vacinas" e acusou os países ricos de reservarem mais doses do que o necessário, em detrimento das nações em desenvolvimento.
"Estamos preocupados com o nacionalismo das vacinas. Os países ricos estão segurando essas vacinas, e nós estamos dizendo: deixem essas vacinas em excesso que vocês encomendaram", afirmou o mandatário.
Até o momento, a União Europeia já fechou contratos que garantem quase 2,3 bilhões de doses de seis vacinas, o que seria suficiente para imunizar a população inteira do bloco mais de duas vezes.
Além disso, África do Sul e Brasil pagaram US$ 5,25 por dose da vacina de Oxford/AstraZeneca produzida na Índia, enquanto uma ministra belga revelou no ano passado que os Estados-membros da UE arcariam com o valor de US$ 2,16 por unidade do mesmo imunizante.
A própria chanceler da Alemanha, Angela Merkel, reconheceu em seu discurso no Fórum de Davos a necessidade de uma distribuição mais equilibrada. "Em tempos de escassez, é importante que as vacinas sejam distribuídas de forma equânime", declarou.
Já a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, cobrou fabricantes pelos atrasos na entrega dos imunizantes - o bloco vem tendo problemas com Pfizer e AstraZeneca. "A União Europeia investiu bilhões de euros para contribuir com o desenvolvimento das primeiras vacinas contra a Covid-19. Agora as empresas devem fazer sua parte e honrar seus compromissos", disse ela no Fórum de Davos.
No fim de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia alertado contra o "nacionalismo nas vacinas" e a "manipulação de preços". Já no início da semana passada, o diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom, reforçou o discurso e disse que o mundo está "à beira de uma catástrofe moral" por conta das desigualdades nos processos de imunização.