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Queda de Temer no exterior ajuda Macri a projetar Argentina

Longa crise política interna tem afetado protagonismo do Brasil

17 jul 2017 - 18h30
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O presidente da Argentina, Mauricio Macri é recebido com honras de Estado pelo presidente da República, Michel Temer no Palácio do Planalto, em Brasília (DF), nesta terça-feira (7).
O presidente da Argentina, Mauricio Macri é recebido com honras de Estado pelo presidente da República, Michel Temer no Palácio do Planalto, em Brasília (DF), nesta terça-feira (7).
Foto: Albery Santini/Futura Press

Com a crise política que atinge o Brasil e mina a credibilidade internacional do governo, uma oportunidade de ouro surgiu para a vizinha Argentina, que tem se tornado a protagonista da América do Sul.

O presidente Mauricio Macri, no cargo desde dezembro de 2015, tem despertado a curiosidade e a empatia de chefes de Estado e de Governo, como a chanceler alemã, Angela Merkel, o chinês Xi Jinping e até o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama - que o chamou de "líder" da região.

Nos últimos meses, Macri recebeu líderes internacionais importantes, como a própria Merkel e o presidente da Itália, Sergio Mattarella. Já o Brasil ficou de fora da lista dos dois.

Macri fez viagens ao exterior, como Washington, para se reunir com o presidente norte-americano, Donald Trump, e Pequim, além de ter sido altamente requisitado em reuniões bilaterais durante a cúpula do G20.

Até o ano que vem, a Argentina terá dois eventos mundiais de peso: sediará a conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), em dezembro, e o próximo G20, em 2018. Os dois encontros são inéditos na América do Sul.

Mas essa nova postura do governo argentino pode tirar a tradicional liderança do Brasil? Para o coordenador do MBA em Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), Oliver Stuenkel, "a longo prazo, não".

"Não se pode comparar os dois países, porém em função da crise política, em curto prazo, o presidente Macri tem uma visibilidade e uma presença internacional maior porque a situação da Argentina é, digamos, menos pior do que no Brasil", disse Stuenkel à ANSA.

O especialista explicou que, apesar dos problemas econômicos e também políticos da nação vizinha, "Macri representa uma narrativa muito clara sobre como a Argentina pretende superar as dificuldades", coisa que não existe no Brasil.

O  presidente  Michel  Temer  falou  sobre  a  indicação  do  novo  ministro  da  Justiça  após  receber,  no Palácio do Planalto, o presidente da Argentina, Maurício  Macri      
O presidente Michel Temer falou sobre a indicação do novo ministro da Justiça após receber, no Palácio do Planalto, o presidente da Argentina, Maurício Macri
Foto: Agência Brasil

"O presidente Michel Temer até tentou construir essa narrativa, mas não funcionou porque este governo dificilmente pode ser visto como um governo que pode fazer o país sair da situação em que se encontra. Alguns passos corretos podem ser dados, mas há a percepção de que o Brasil não tem um caminho para sair da crise", ressalta.

Já para Reinaldo Dias, especialista em Ciência Política da Universidade Presbiteriana Mackenzie em Campinas, o governo brasileiro atual tem um problema de "legitimidade". "O grande problema do Brasil é a legitimidade. É uma diferença bastante grande, já que Macri venceu eleições e Temer não. Mas, não é só isso que dá a legitimidade a um governo, que pode ser conseguida através de boas ações. Mas, do ponto de vista global, Temer não tem isso", afirmou Dias à ANSA.

Segundo o especialista do Mackenzie, esse processo de perda de liderança do Brasil já vem desde o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, que "não adotou uma postura de líder regional na América Latina", e piorou com o atual mandatário. "Não existe vácuo na política porque sempre esse lugar será ocupado por algum ator", destaca. Para Dias, os líderes ao redor mundo "aguardam" uma postura do Brasil como líder, já que é a nação que faz fronteira com praticamente todos os países sul-americanos.

No entanto, a ausência já se fez presente em acordos recentes importantes para todo o continente, como ocorreu no pacto de paz firmado entre o governo de Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e que foi finalizado no ano passado.

Outro ponto em que o Brasil não tem postura ativa, conforme Dias, é a crise na Venezuela, que já causa um fluxo migratório maior para o norte do país. "Isso pode custar muito caro no futuro porque já estamos com problemas nas fronteiras que podem se agravar se não tiver uma liderança ativa", acrescenta.

"O pragmatismo de Macri é bastante significativo. É um perfil de líder, que busca de fato a liderança. Por exemplo, ele participou da posse do novo presidente do Equador, Lenín Moreno, que tem ideologia oposta a ele; ele se ofereceu para intermediar o problema que envolve a construção do muro entre Estados Unidos e México. Ele é proativo", destaca ainda Dias.

Já Stuenkel lembrou outro ponto importante da governança do presidente argentino, que é o de que líderes de outros países o veem como uma liderança de longo prazo. "A Argentina é um pouco bola da vez. É um governo relativamente recente e tem uma expectativa de poder. Ou seja, Temer chegou no poder quando o Macri já estava lá e vai sair antes do Macri deixar o cargo", destacou Stuenkel à ANSA.

No entanto, na contramão dessa liderança, o governo brasileiro assumirá a Presidência rotativa do Mercosul nesta sexta-feira (21), justamente após Macri liderar o bloco. 

Ansa - Brasil
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