Desenho de genitália com asas enviado a diplomata por embaixador acaba na PF
Caso foi arquivo após a comprovação de que desenho 'alado' foi brincadeira de embaixador
Uma ‘brincadeira’ entre membros do Ministério das Relações Exteriores (MRE) virou caso de polícia. O motivo foi o envio de uma carta ao chefe da Divisão de Saúde e Segurança do Servidor (DSS) e primeiro-secretário, Cristiano Ebner, contendo o desenho de um pênis com asas. A informação é da coluna de Lauro Jardim, do O Globo.
O caso foi investigado pela Polícia Federal até que se descobriu que a ilustração havia sido enviada por Pablo Cardoso, ministro-conselheiro do Brasil junto à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Segundo a coluna, a correspondência ‘misteriosa’ chegou à mesa de Ebner em 21 de junho de 2024, enviada pelos serviços internos de correspondência do MRE, em um envelope com o remetente fictício 'Fundação Kresus', referência à mitologia grega.
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O diplomata relatou o ocorrido à corregedoria do Ministério, pois viu aquilo como uma ameaça, já que lida com perícias médicas e exames admissionais, que podem impactar a vida de um servidor e desagradar colegas dentro do órgão.
O caso foi relatado à sua chefe direta, a embaixadora Daniella Ortega, que o orientou a procurar a PF. Diante disso, o caso passou a ser investigado. A pessoa que enviou a carta foi identificada por imagens de câmeras de monitoramento da agência, mas Cristiano não o reconheceu, o que fez com que a Polícia seguisse com as diligências para encontrar o responsável.
A investigação, conforme a coluna, também mencionou que Kresus poderia ter relação com o último rei da Dinastia Mermnada, Creso, cuja trajetória é cheia de tragédias, e que o desenho poderia representar um “passaralho”, termo usado para demissão em massa.
No entanto, dois meses depois, Cristiano recebe a ligação de Pablo Cardoso, que fica em Lisboa, para tratar de um assunto “delicado”. Ao Itamaraty, o diplomata relatou que o embaixador informou que ele foi o autor da correspondência, dizendo que foi infantil e pedindo desculpas.
O colega também disse que estava preocupado com o amigo para quem pediu o envio da carta, pois a PF o intimou a depor. Cardoso também perguntou se o diplomata não poderia desistir da representação, mas ele resolveu seguir com o caso. O embaixador explicou que havia falado com colegas do Itamaraty sobre a brincadeira com o autor da próxima comunicação que viesse da capital brasileira na sexta-feira.
Se sentiu ameaçado
Cristiano relatou à PF que sentiu-se ameaçado com a ofensa “detalhadamente” planejada e seguiu com o interesse na punição do responsável, principalmente se fosse um servidor público, pois classificou a conduta "indecorosa, antiética e preconceituosa".
Ele também concluiu que se tratava de um assédio moral, quebra de decoro e preconceito, por envolver alguém hierarquicamente superior, "sem justificativa racional", o que causou "constrangimento, angústia, temor e ansiedade".
Diante disso, Cardoso assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), no qual se comprometeu a ter comportamento compatível com seu cargo em um prazo de 24 meses. Não foi aberto um processo administrativo disciplinar na Corregedoria e a PF arquivou a investigação "falta de elementos para a consumação do delito”.
Ao O Globo, o ministro-conselheiro disse que "não há qualquer procedimento em desfavor do servidor 'tramitando na Corregedoria do MRE', e que o termo de ajustamento de conduta “vem sendo rigorosamente cumprido desde então". Além disso, ele declarou ainda que "o procedimento não concluiu pela existência de assédio moral ou quebra de decoro e não acarretou qualquer penalidade disciplinar". Já Cristiano não retornou.
O Terra solicitou ao Itamaraty e à Polícia Federal um posicionamento sobre o caso, mas não teve retorno até o momento. O espaço permanece aberto.