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Chapada Diamantina só se recuperará de incêndios em 15 anos

28 nov 2015 - 18h10
(atualizado às 18h38)
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Área queimada próxima ao Morro do Pai Inácio
Área queimada próxima ao Morro do Pai Inácio
Foto: Rafael Duarte / CI Brasil

Enquanto Minas Gerais e Espírito Santo lidam com os impactos do rompimento da barragem de Mariana, a vizinha Bahia enfrenta outra tragédia ambiental: as consequências de uma das piores séries de incêndios já registradas na Chapada Diamantina, um dos símbolos do Estado e onde nascem alguns dos principais rios que abastecem a população baiana.

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Depois de um mês de chamas, as chuvas que começaram a cair na última quarta-feira finalmente acabaram com o fogo, de acordo com a Secretaria do Meio Ambiente da Bahia. Nesta sexta, não eram mais verificados focos de incêndio, afirmou à BBC Brasil o secretário Eugênio Spengler.

Não se trata, porém, de um desastre que chega ao fim com o apagar da última chama. Seus efeitos devem se prolongar por mais de uma década em um local onde caatinga, cerrado e mata atlântica se encontram.

"Se não passar fogo por ali (de novo), em 15 anos é que algumas áreas começarão a se recuperar", diz o geógrafo Rogério Mucugê, coordenador de projetos da ONG Conservação Internacional na região, onde vive desde a década de 1990.

Segundo ele, esse é o prazo para que a mata ciliar, a área de floresta que protege os rios, esboce uma reação – os campos de cerrado se recuperam mais rápido. Em razão da diversidade, algumas espécies da fauna e da flora só existem ali.

Uma equipe da ONG, que estava na chapada para gravar um vídeo sobre um projeto ambiental que realiza na bacia do rio Paraguaçu, registrou o combate e o impacto dos incêndios, inclusive nos arredores de um dos símbolos da região, o Morro do Pai Inácio. Algumas dessas imagens acompanham essa reportagem.

Imagem aérea mostra área afetada à beira de estrada baiana
Imagem aérea mostra área afetada à beira de estrada baiana
Foto: Rafael Duarte / CI Brasil

Equipes estaduais estão fazendo um levantamento dos efeitos do fogo na fauna e da flora, trabalho que irá determinar o montante a ser investido na restauração florestal, afirma o secretário Spengler. Segundo ele, a área será prioridade na alocação de recursos da pasta.

Além das consequências imediatas nas espécies locais, um incêndio dessa proporção afeta também a quantidade e qualidade da água que chega a boa parte dos baianos, e logo em tempos de seca mais severa por causa do fenômeno climático El Niño, explica o geógrafo Mucugê – homônimo, aliás, da cidade baiana onde vive.

O rio Paraguaçu, cuja nascente fica ali, abastece 85 municípios, incluindo 60% da região metropolitana de Salvador.

A chuva que caiu nesses últimos dias está longe de ser a esperada para o mês de novembro na área da chapada, tida como a "caixa d'água da Bahia", conta.

Brigadistas tentam conter fogo na área englobada pelo município de Mucugê
Brigadistas tentam conter fogo na área englobada pelo município de Mucugê
Foto: Rafael Duarte / CI Brasil
Segundo representante da Conservação Internacional na região, trabalho é como "enxugar gelo"
Segundo representante da Conservação Internacional na região, trabalho é como "enxugar gelo"
Foto: Rafael Duarte / CI Brasil

Segundo o coordenador de projetos da ONG, a tendência é que o quadro de seca – e, consequentemente, de incêndios – piore. Ele critica a falta de um planejamento territorial integrado para a chapada.

"A cada ano que passa a região está mais seca e, caso não haja planejamento, a tendência é a de que esses efeitos sejam piores", conta Mucugê.

"Existe a diferença entre apagar fogo e combater incêndio. Eu digo que, localmente, a gente apaga fogo. A gente elimina um foco, mas outros surgem. Territorialmente, falando-se de Chapada Diamantina, a gente ainda apaga fogo, é como enxugar gelo", diz ele.

Recuperação de mata ciliar só começará daqui 15 anos, diz geógrafo
Recuperação de mata ciliar só começará daqui 15 anos, diz geógrafo
Foto: Rafael Duarte / CI Brasil
Área terá prioridade na alocação de recursos, afirma governo baiano
Área terá prioridade na alocação de recursos, afirma governo baiano
Foto: Rafael Duarte / CI Brasil

O secretário estadual do Meio Ambiente afirma concordar que ainda há muito a ser feito e que, se não fosse a ajuda da comunidade, o cenário poderia ter sido ainda pior, como ocorreu em 2008, quando 40% dos 152 mil hectares do Parque Nacional da Chapada Diamantina foram atingidos pelo fogo.

Cerca de 210 pessoas, incluindo bombeiros do Estado, Defesa Civil Nacional, integrantes das Forças Armadas e brigadistas voluntários atuavam até esta sexta no local, segundo o governo. Spengler diz que o monitoramento continuará. "Não desmobilizaremos a equipe até o fim de dezembro."

Embora lembre o número de pessoas envolvidas – "essa foi a maior operação (do tipo) já registrada pelo governo da Bahia" –, e aponte uma evolução no trabalho, citando o aumento no numero de brigadas voluntárias na região – de 1 ou 2 existentes no incêndio de 2008 para as cerca de 24 atuais –, o secretário reconhece que ainda não é o suficiente.

Morro do Pai Inácio, cercado por vegetação queimada
Morro do Pai Inácio, cercado por vegetação queimada
Foto: Rafael Duarte / CI Brasil

O ideal, diz, é ter uma brigada para cada um dos 42 municípios da chapada. E investir em estrutura, equipamentos, treinamento, educação ambiental, estrutura de comunicação com rádio e outros.

"Os incêndios são o maior problema ambiental que se tem na Bahia. E não só na chapada. Se queima muito em outras áreas no semiárido e do cerrado", diz.

Além de todo o desastre ambiental, combater um incêndio dessas proporções sai caro. O governo da Bahia fala em um total de R$ 9 milhões gastos.

Há suspeita de incêndios criminosos à beira de estrada
Há suspeita de incêndios criminosos à beira de estrada
Foto: Rafael Duarte / CI Brasil

A Polícia Civil baiana investiga a possibilidade de que alguns incêndios tenham sido criminosos. Segundo o secretário do Meio Ambiente, há algumas "coincidências" sendo apuradas, como a ocorrência de vários focos em uma mesma área, às margens da BR-242, e quase sempre no mesmo horário, no fim de tarde.

"Será que as peças quentes dos carros só caem nesse trecho?", questiona Spengler.

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