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Distúrbios no Mundo Árabe

Eleição síria busca legitimar regime de Assad, diz analista

Vitória do atual presidente, Bashar al-Assad, é tida como certa pela comunidade internacional e pela oposição

3 jun 2014 - 08h45
(atualizado às 08h54)
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<p>Sírios que vivem no Líbano entoam hinos e carregam retratos de Bashar al-Assad enquanto dirigem em direção a embaixada síria em Beirute, em 28 de maio</p><p> </p>
Sírios que vivem no Líbano entoam hinos e carregam retratos de Bashar al-Assad enquanto dirigem em direção a embaixada síria em Beirute, em 28 de maio
Foto: AP

Uma farsa. Uma paródia da democracia. Uma forma de contornar a revolta contra o presidente. As eleições presidenciais que ocorrem nesta terça-feira, na Síria, têm sido classificadas de forma bastante negativa pela oposição, pela comunidade internacional e por cidadãos que esperam por mudança. 

Eles lamentam o fato de terem de considerar como certa a vitória do líder que está há 14 anos no poder.

Pela primeira vez em décadas, o país realiza eleições presidenciais com mais de um candidato. Porém, os dois únicos concorrentes de Assad, Maher Abdul-Hafiz Hajjar e Hassan Abdallah al-Nouri, são desconhecidos do público e não tiveram condições de realizar uma campanha que digna de disputar o voto do eleitorado, como a de Assad.

O pleito acontece em um cenário complicado, com o país devastado por uma guerra civil, que já dura mais de três anos, e marcado pela ausência de condições de locomoção, exercício da liberdade de expressão e democracia.

De acordo com a professora e diretora do Centro de Estudos Árabes da Universidade de São Paulo (USP), Arlene Clemesha, o contexto atual aponta para uma eleição que não é limpa, democrática ou legítima.

“Essas eleições são uma tentativa de legitimar o governo de Assad, após um longo processo de guerra civil. É uma manobra para dar uma aparência de legitimidade a um governo que massacrou sua população”, explica Clemesha.

“Tudo indica que Assad vença, mas as eleições que ele ganhou anteriormente não foram livres, nem claras; o processo nunca foi democrático e transparente e não é hoje que vai ser”, acrescenta.

Agências de notícias e jornais estrangeiros veicularam que refugiados no Líbano foram mobilizados por grupos pró-Assad para votar no atual presidente – seu transporte até os locais de votação teriam sido, inclusive, pagos por esses grupos. Outros foram pressionados por representantes do governo a optar pelo atual presidente, nesta terça-feira, caso quisessem um dia regressar à Síria. 

Odiado e adorado por seu povo, o rosto de Assad estampa cartazes e pinturas em muros de ruas de todo o país. Como pontua Clemesha, o atual líder tem sua parcela de apoio à população, ainda que seja difícil delimitar qual é. 

<p>Uma garota síria com o rosto desenhado com a bandeira do Exército Livre da Síria participa de um protesto contra as eleições presidenciais em Trípoli, no Líbano, em 1° de junho</p>
Uma garota síria com o rosto desenhado com a bandeira do Exército Livre da Síria participa de um protesto contra as eleições presidenciais em Trípoli, no Líbano, em 1° de junho
Foto: Reuters

“Conservadorismo, temor de mudança, receio da oposição, que abriga radicais e terroristas – inclusive membros da Al-Qaeda –  a crença de que a Síria precisa de um governo forte e de que o risco de abertura é muito grande por conta dos conflitos em Israel: há muitos motivos que não podemos menosprezar e ignorar, mas isso não muda o caráter do regime, que é autoritário”, explica Clemesha.

O governo aprovou uma lei eleitoral, pouco antes do plebiscito, que nega a possibilidade de candidatura de pessoas que tenham morado em algum momento dos últimos 10 anos em um país estrangeiro, minando a chance de opositores fervorosos do regime que estão há anos exilados. 

O regime teria traçado uma linha entre o que é aceito como oposição tolerada e oposição de fato, tornando os membros deste segundo grupo inelegíveis, renegando-os como cidadãos e classificando-os como terroristas. 

“Os concorrentes de Assad foram aceitos pelo regime, na tentativa de imprimir uma legitimidade ao pleito. Mesmo que houvesse uma possibilidade de vitória nas urnas, nada mudaria porque o sistema político está fechado”, destaca Clemesha. 

A vitória da oposição emperra também em outro ponto: a ausência de uma representação unificada: “Não há uma alternativa centralizada e esse é mais um dos motivos que leva as pessoas a buscarem estabilidade votando no Assad”, observa.

De fato, não se espera que o resultado seja outro senão a vitória de Bashar al-Assad, nem uma perspectiva de mudança em um futuro próximo: “As eleições não vão modificar nada, elas fazem parte de um quadro já estabelecido”.

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Fonte: Terra
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