Enquanto as potências mundiais e a ONU, cautelosas – quem sabe calculando qual será o novo cenário da geografia política da região – esperam que o final do conflito chegue como um milagre, a aviação e a artilharia das forças do presidente Bashar al-Assad atacam diariamente diferentes distritos da cidade de Aleppo, a segunda maior da Síria. As crianças pulam de suas camas, enquanto seus pais olham o céu tentando calcular a rota das bombas que começam a cair sobre eles.
Em diferentes distritos e bairros, a guerra de trincheiras é travada metro a metro entre os rebeldes e as forças leais ao governo pelo domínio do território da destruída cidade de Aleppo. O país árabe completa dois anos em uma guerra cujo fim não parece estar próximo.
Milhares de sírios decidiram pegar as armas para pressionar pela queda do regime do presidente Bashar al-Assad, que respondeu com balas aos protestos surgidos há dois anos no país. Em diferentes bairros de Aleppo, uma das maiores cidades sírias, as batalhas são travadas metro a metro entre os rebeldes e as forças do governo por domínio de território
Foto: Mauricio Morales / Terra
Os ônibus servem como barricadas contra os franco-atiradores do Exército sírio
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Rebeldes patrulham as ruas em Salahadinne
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Frente de batalha da Cidade Velha de Aleppo, reconhecida pela Unesco como patrimônio histórico da humanidade e da qual só sobraram ruínas
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Rebeldes sirios entram em uma casa na frente de Ameria, em Aleppo
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Rebeldes cruzam por baixo de franco-atiradores em uma rua de Aleppo
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Combatentes em um momento de descanso
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Quando não estão combatendo, os rebeldes se juntam para rezar
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A temperatura média em Aleppo nessa época do ano é de 7°C
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Ônibus usado como proteção contra os tiros das forças do governo em Bustan Al-Pasha
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Aleppo é a segunda maior cidade da Síria
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O frio é outro inimigo dos rebeldes
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Após longos períodos de combate, há breves espaços de descanso, necessários para que os combatentes tenham condições de seguir lutando
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Rebeles sirios descansam em Bustan Al-Basha
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Rebelde lança uma grana contra as forças leais a Assad
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Um rebelde sírio observa a aproximação de um caça do governo
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Rebeldes se preparam para um ataque nas imediações do aeroporto de Aleppo
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Ataque de um foguete perto do aeroporto de Aleppo
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Com espelhos, os rebeldes buscam reconhecer os franco-atiradores do Exército sírio
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Combatentes durante uma viagem à Cidade Velha de Aleppo
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Um rebelde observa por um pequeno buraco as posições dos inimigos
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Um rebelde descansa em uma trincheira da frente da Cidade Velha
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Rebeldes capturam um membro do Exército sírio em Aleppo
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Um combatenta lança uma granada artesanal em combate na frente do bairro de Izza
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Local onde os rebeldes descansam em Izza
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Soldado observa posições inimigas em Izza, Aleppo
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Um rebelde observa uma boneca encontrada em uma casa que agora faz parte da frente de combate em Izza
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Rebelde aguarda em um caminhão para partir em direção à Cidade Velha
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Homem observa os danos causados a uma casa logo após um ataque em Izza
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Rebelde localiza os franco-atiradores observando por uma janela
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Rebeldes atacam o Exército sírio
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Soldados do Exército de Assad capturado tem os olhos vendados pelos rebeldes
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Com o frio de 7°C, soldados rebeldes se aquecem diante de uma fogueira
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Combatentes patrulham a localidade de Bustan Al-Pasha
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Frente de Salahadinne
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Os revolucionários também possuem franco-atiradores, como esse posicionado em Salahadinne
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Imagem da preparação dos rebeldes para outro ataque próximo ao aeroporto de Aleppo
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Durante um combate nos arredores de Aleppo, os soldados se protegem dos tiros inimigos
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Os prédios, quando conquistados, estão quase destruídos, como esse em Bustan Al-Pasha
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Existem muitas frentes de combate na cidade. A cerca de 100 metros de um edifício controlado pelo Exército Sírio da Libertação (ESL), outro prédio está sob o controle das forças de Assad. É uma cena habitual em vários bairros de Aleppo.
A média de idade dos combatentes ligados ao ESL não passa de 25 anos. Muitos são provenientes de localidades próximas a Aleppo. Eles repetem o que disseram seus pais: vão fazer sua parte, servir à libertação e construção da nova Síria. Com seus “irmãos” juraram lutar e vingar seus amigos mortos, até o final, até o único final que querem: a queda do governo.
Antigos campos de futebol, escolas e prédios residenciais são as novas trincheiras. Os ônibus destruídos atravessados nas ruas, assim como montes de escombros, são usados para evitar as balas dos franco-atiradores em posição para disparar desde muitas das construções abandonadas. Entre os escombros aparecem frequentemente bonecas e fotos de família. Esses objetos revelam que alguém viveu ali, em um lar que já não existe.
Em setembros de 2012, as escolas suspenderam as atividades em Aleppo
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Há cerca de um mês, as aulas foram retomadas nesta escola que foi alvo de um bombardeio
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Os colégios destruídos foram ocupados pelos rebeldes e utilizados como base
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No começo, muitos professores não queriam voltar a dar aulas
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Atualmente, na região controlada pelos rebeldes em Aleppo, sete escolas estão funcionando
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Mesmo que essas escolas possam receber estudantes de qualquer idade, não há alunos de mais de 13 anos
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Em Aleppo, na última semana de fereveiro, uma bomba caiu a poucos metros de uma escola
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Os professores não gostam de se identificar para os jornalistas
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O medo dos professores é porque o regime de Assad não permite que as escolas que estão em áreas rebeldes funcionem
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As escolas clandestinas iniciaram nas casas de alguns professores
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Para alguns pais, é um risco que as crianças voltam ao colégio
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Outros acreditam que essa é a única forma de proporcionar alguma felicidade a essas crianças
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Na Síria em guerra, as escolas se tornaram um refúgio para tirar as crianças do meio dos combates
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A guerra na Síria tem um diferencial em comparação com as recentes revoluções da chamada Primavera Árabe: essas foram lutas onde as bombas dos jatos da OTAN, os tanques e os grupos militares especiais das potências mundiais foram determinantes na conquista da vitória.
Na Síria, as armas são roubadas dos inimigos mortos. São fuzis de assalto, granadas e bombas artesanais. A guerra já durou mais do que se esperava, mais do que é possível aguentar, até o ponto que alguns homens dizem que preferem matar suas famílias e acabar com a própria vida do que seguir vivendo o inferno da guerra ou sob o mesmo regime. Muitos temem que a guerra continue durante todo este ano.
Os cartuchos jogados no chão e os buracos dos tiros de fuzil “enfeitam” cada prédio. Os livros agora servem para tapar as janelas, para bloquear as balas dos franco-atiradores. Apenas um passo na direção errada pode colocar qualquer um na mira, por isso há espelhos em todos os edifícios guardados pelos combatentes. Através deles, é possível identificar as bandeiras vermelha, da Síria atual, e a verde, usada atualmente pelos rebeldes e que existia antes da dinastia de Assad.
Depois de longos períodos de combate, há breves espaços de descanso – necessários para que os homens se mantenham em condições de seguir lutando. Os que estavam em guarda saem do edifício que ocupam, enquanto outro grupo entra para substituí-los. Entre algumas risadas, chá e cigarros, eles têm tempo para estender o tapete em direção à Meca e rezar.
Muitos dos combatentes eram estudantes: crianças que a guerra transformou em homens. Homens que a guerra transformou em velhos. Quando um deles morre, seus companheiros juram vingança, levam seu corpo até a família e entregam dinheiro. Caiu mais um herói da revolução, segundo pensam.
Os combatentes sabem que o mundo observa impávido o que acontece na Síria. No entanto, não culpam as pessoas comuns, mas sim alguns governos. Dizem que estão sozinhos nessa guerra, mas não a abandonarão. Vencer ou morrer parece ser o lema não só dos que estão na frente de batalha, mas também da maioria dos civis que resistem em deixar Aleppo, mesmo sabendo das consequências. São cada vez mais frequentes os bombardeios a hospitais, lojas e associações. Nessa guerra, a maioria dos mortos é civil.
Mais um dia nas trincheiras das frentes de batalha não define o destino da guerra. Apenas se trata de um prédio a mais ou a menos, mas esse é o objetivo pelo qual se luta neste momento: por cada centímetros de território, corpo a corpo, morto a morto.
As imagens da Primeira Guerra Mundial e da carnificina nas quais se transformaram as trincheiras nos campos da França não são difíceis de associar ao que acontece na Síria. Nas ruas, muitos sabem que o pior ainda está por vir, já que o momento mais duro costuma ser o final da guerra.