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Distúrbios no Mundo Árabe

No exílio, jovem sírio yazidi sonha em reencontrar mãe

Aos 13 anos, adolescente vive exilado na Grécia, longe da mãe e dos irmãos; família fugiu da Síria em 2012, expulsa pela realidade do país, e tentou por seis vezes chegar à Europa, arriscando suas vidas

12 set 2014 - 08h57
(atualizado às 09h00)
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O pai de Malak teme pela segurança de seu filho, especialmente após uma onda de ataques contra imigrantes na Grécia
O pai de Malak teme pela segurança de seu filho, especialmente após uma onda de ataques contra imigrantes na Grécia
Foto: UNHCR/ A.DAmato / Divulgação

A família estava desesperada o suficiente para confiar seus destinos a contrabandistas. Agora, Malak questiona se um dia sua família será reunida novamente.

O corte de cabelo mais arrojado do adolescente Malak, 13 anos, reflete a nova vida que leva em um país estranho e diferente de sua terra natal – a Síria. Enquanto ele e seu pai Fewaz, 44, vivem na Grécia, junto com outros refugiados, sua mãe e dois irmãos foram parar na Alemanha. 

“Não é somente este corte de cabelo a única coisa que ele fez sem minha permissão”, enfatizou Fewaz, se referindo ao dia em que o menino foi pego com um cigarro. 

Como em qualquer relação entre pais e filhos adolescentes pelo mundo, os dois lutam para minimizar suas diferenças. No entanto, o que os mantém juntos e inseparáveis é que ambos refugiados sírios, morando há um ano em um bairro pobre de Atenas, na Grécia. 

Dados das Nações Unidas mostram que nos primeiros seis meses de 2014, a Itália foi o país europeu que mais recebeu refugiados, com quase 64 mil pessoas, seguida de Grécia (10.080), Espanha (1.000) e Malta (227).

A vida no exílio tem sido onerosa para pai e filho. Depois de fugir da Síria com o resto da família na metade de 2012, eles confiaram em contrabandistas e fizeram seis tentativas perigosas para chegar à Grécia. Em cada uma delas, arriscando suas vidas no mar. Nas cinco primeiras, foram pegos e mandados de volta à Turquia.

Malak foi o primeiro da família a conseguir chegar a Evros, um posto de fronteira, e entrar na Grécia. Fewaz, sua esposa e as duas outras crianças não tiveram a mesma sorte e tiveram que esperar outras jornadas até conseguirem.

A família de Fewaz pertence à minoria Yazidi na Síria, cujo idioma é o curdo. No norte do Iraque, os yazidis foram vítimas de perseguição nos últimos meses por parte de guerrilheiros do Estado Islâmico, que tomaram grandes porções de território iraquiano desde uma ofensiva que iniciou em julho. 

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Em sua terra natal, Fewaz era agricultor em uma pequena propriedade, enquanto Malak e seus irmãos iam à escola. A família “vivia em paz”.

Segundo o pai, quando o conflito iniciou na Síria, incursões militares e combates nas ruas transformaram suas vidas em “um inferno diário”. Expulsos pela realidade em seu país, eles fugiram para a Turquia com a esperança de chegar à Europa. 

“Minha vida na Síria era muito boa”, disse o jovem Malak com um sorriso tímido. “Eu tinha uma escola, amigos e nós brincávamos. O ambiente era muito bom e nós fazíamos viagens para visitar nossos parentes. Mas quando os combates iniciaram, tudo se tornou assustador”.

Segundo a ONU, a guerra na Síria já deixou cerca de 190 mil mortos e 3 milhões de refugiados no exterior, além de outros 6,5 milhões deslocados dentro do país.

Jornada e separação

Em uma das tentativas de chegar à Grécia, a família se reuniu na costa da Turquia, onde os contrabandistas haviam feito os arranjos necessários para levá-los à Grécia. Já era noite e o barco de seis metros de comprimento recebeu 54 pessoas, seis vezes mais que sua capacidade oficial. Cada pessoa pagou cerca de 2 mil euros pela jornada para o incerto.

Antes de zarpar, um dos passageiros foi ensinado pelos contrabandistas a manobrar o barco e recebeu algumas instruções de como evitar a guarda costeira grega. As memórias daquela noite fizeram Fewaz se dar conta do enorme risco a que sua família foi exposta.

A Agência de Refugiados das Nações Unidas (Acnur) diz que dezenas de barcos atravessam o mar em direção à Europa, levando, em média, 200 pessoas em condições precárias, mas já houve casos de 300 ou mais passageiros à bordo. 

Ainda segundo a agência, as travessias no mar em embarcações ilegais já deixaram pelo menos 1.200 mortos (300 somente no último mês de agosto). Além de afogamentos, também houve mortes por sufocamento pela superlotação ou doenças e desidratação.

“Eu não percebi que estava levando-os de uma morte para outra. Eu poderia ter sido responsável por matar meus entes queridos, aos quais sou tão próximo”, disse.

A terceira tentativa no mar deixou a família perto da morte. Fewaz explicou que, após uma hora e meia no mar, um navio grego interceptou o barco. 

Segundo ele, ao invés de oferecer ajuda e resgate, a embarcação os mandou de volta ao alto-mar, com o oficial da Guarda Costeira gritando ordens de “retornar imediatamente”, enquanto o pequeno e lotado barco batia violentamente contra o casco do navio grego.

Com o barco perto de virar em pleno mar, eles foram forçados a retornar à Turquia.

No entanto, Fewaz insistiu e vendeu tudo que tinha para tentar novamente chegar à Grécia.

Finalmente, na sexta tentativa, sua família cruzou a fronteira. Enquanto sua esposa e dois filhos viajaram para a Alemanha, Fewaz rumou para Atenas, para se juntar a Malak.

“Quando eu vi meu pai em Atenas, eu fiquei tão feliz que não há palavras para descrever”, disse Malak, que agora sonha em rever sua mãe e irmãos.

Enquanto a guerra na Síria parece não ter fim, a família de Malak luta contra as adversidades, incertezas e a separação forçada.

Até a família ser reunida novamente, Malak e Fewaz se mostram determinados a permanecerem juntos. O menino está tentando se adaptar na Grécia. E Fewaz faz o possível para se acostumar com o corte de cabelo do filho.

Fonte: Especial para Terra
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