Rússia diz que Síria entregará mais armas e participará de diálogo
Governo russo recebeu, pela primeira vez em três anos, o líder da Coalizão Nacional Síria, e tenta reduzir as preocupações com a eliminação das armas químicas de Damasco
A Rússia ofereceu na terça-feira garantias de que o governo sírio vai participar de uma nova rodada de negociações de paz na semana que vem, e que em breve irá despachar mais agentes químicos para serem destruídos no exterior, conforme prevê o acordo destinado a eliminar o arsenal químico do país.
As declarações parecem destinadas a minimizar as preocupações ocidentais acerca do envolvimento do presidente sírio, Bashar al-Assad, com o processo de paz iniciado este mês e do seu compromisso com a eliminação das armas químicas de Damasco até meados deste ano, conforme o acordo mediado pela Rússia e os Estados Unidos.
Além disso, o governo russo recebeu o líder da Coalizão Nacional Síria, principal grupo de oposição, algo inédito em três anos de um conflito que já matou mais de 100 mil pessoas.
A Síria planeja retirar do país, ainda este mês, uma grande carga de agentes tóxicos, concluindo o processo até 1º de março, segundo o vice-chanceler russo, Gennady Gatilov.
"Literalmente ontem os sírios anunciaram que a remoção de um grande carregamento de substâncias químicas está planejado para fevereiro. Eles estão prontos para completar o processo até 1º de março", disse Gatilov à agência de notícias RIA.
A Rússia, principal apoio diplomático a Assad, está sob pressão para convencer Damasco a acelerar a retirada dos materiais químicos desde a revelação, na semana passada, de que apenas 5 por cento dessas substâncias haviam sido levadas embora.
A operação está muito atrasada, e o prazo para que todos os agentes tóxicos sejam retirados da Síria, que vencerá nesta semana, será descumprido.
As autoridades dos EUA acusam Damasco de protelar o processo, e o secretário norte-americano de Estado, John Kerry, pediu na sexta-feira passada ao chanceler russo, Sergei Lavrov, para que pressione o governo de Assad a acelerar a operação.
O ministro francês de Relações Exteriores, Laurent Fabius, também se queixou da demora. "O governo de Bashar al Assad deve respeitar os compromissos que fez", disse ele a uma rádio na terça-feira.
A Rússia diz que as preocupações ocidentais são exageradas, e rejeitou as acusações de que a demora é deliberada, citando questões logísticas e de segurança. Na segunda-feira, o vice-chanceler russo Sergey Ryabkov afirmou que a Rússia continua confiante de que o prazo final para o arsenal químico, em 30 de junho, poderá ser cumprido.
Apesar das muitas divergências a respeito do conflito na Síria, a Rússia e os Estados Unidos se uniram para lançar uma negociação de paz que começou no mês passado em Genebra, e em setembro concordaram em um plano para eliminar o arsenal químico sírio, evitando assim uma reação militar norte-americana a um ataque com gás ocorrido em 21 de agosto nos arredores de Damasco.
Assad aceitou o plano, mas o Ocidente suspeita que ele queira usar o processo para alavancar suas posições na negociação de Genebra, que deve recomeçar na segunda-feira, embora a delegação do governo não tenha se comprometido a voltar.