Confira cinco 'revelações' da biografia de Berlusconi
O ex-premiê italiano Silvio Berlusconi, que por décadas foi uma figura dominante na vida política e social italianas - também por suas extravagâncias e polêmicas -, está de volta aos holofotes graças a declarações "reveladoras" feitas em uma recém-lançada biografia autorizada.
Escrita pelo jornalista americano Alan Friedman, (Do meu jeito: Berlusconi em suas próprias palavras, em tradução livre), baseada em relatos do próprio biografado, resgata os pontos altos e baixos da trajetória política do bilionário, hoje com 79 anos, que governou por quatro vezes a Itália.
Ainda trata dos diversos escândalos sexuais no qual Berlusconi se envolveu ao longo dos anos. Confira a seguir os trechos mais marcantes do livro destacados pela imprensa britânica e americana.
Um dos principais escândalos envolvendo Berlusconi foi a acusação de que ele teria feito, em 2010, sexo com uma dançarina marroquina de 17 anos, Karima El Mahroug, também conhecida como "Ruby, a ladra de corações". No livro, ele volta a negar que isso tenha ocorrido: "Sempre disse que nunca toquei em Ruby".
O caso veio à tona em outubro daquele ano. Cinco meses antes, Berlusconi havia ligado para a Secretaria de Segurança de Milão e pedido a liberação de Ruby, que estava detida em uma delegacia da cidade sob a acusação de furto, dizendo às autoridades locais que ela era sobrinha do ex-presidente do Egito Hosni Mubarak.
Ruby negou ser prostituta e as acusações feitas a Berlusconi. Na época, afirmou que o ex-premiê lhe deu 60 mil euros (R$ 202 mil em valores atuais) por "generosidade". Por sua vez, Berlusconi afirmou que foram 45 mil euros, destinados à compra de um aparelho de depilação para que Ruby se tornasse sócia de um negócio com uma amiga.
Em 2013, Berlusconi foi considerado culpado por abuso de poder, por ter usado sua influência para tentar liberar Ruby, e por ter pago por sexo com uma menor de idade, sendo condenado a sete anos de prisão e impedido de ocupar um cargo público novamente. Mas acabou absolvido no ano seguinte após entrar com um recurso.
"Antes de mais nada, ela costumava dizer a todos que tinha 24 anos. E ela parecia ter essa idade, porque era inteligente e esperta e porque sua vida tinha sido dura", afirma Berlusconi.
'Bunga bunga' com um harém de mulheres
Um desdobramento do caso envolvendo Ruby complicou ainda mais a vida de Berlusconi em 2011. Isso porque ela teria participado de festas eróticas organizadas pelo ex-premiê na sua residência em Milão. Atrizes, modelos e garotas de programa seriam convidadas a participar delas, de acordo com jornais italianos.
No livro, Berlusconi responde à suposta alegação de que, em apenas dois meses, ele teria feito sexo com 33 mulheres, dizendo que tudo não passa de um grande exagero: "Tenho 74 anos e, apesar de ser um pouco patife, a ideia de (fazer sexo com) 33 garotas em dois meses me parece um pouco exagerada, até mesmo para um homem de 30 anos".
Essas festas ficaram conhecidas como "bunga bunga". No livro, Berlusconi explica que o termo teria surgido, na verdade, de uma piada contada por Muammar Khadafi, ex-governante da Líbia deposto em 2011 e amigo pessoal de Berlusconi, segundo o próprio ex-premiê.
Na biografia, Berlusconi reconta a piada: dois políticos italianos são capturados por uma violenta tribo africana e amarrados a postes. Um líder tribal diz a um dos italianos: "Você quer morrer ou bunga bunga?". O político escolhe a segunda opção. Mas o termo significa sexo forçado. "Todos os guerreiros da tribo o estupraram", conta Berlusconi, rindo.
A piada continua: o líder tribal se dirige, então, ao segundo político e faz a mesma pergunta. "Prefiro morrer", ele diz. O líder tribal responde: "Tudo bem, você morrerá, mas antes vamos fazer um bunga bunga". "É daí que vem toda esta história de bunga bunga", acrescenta o ex-premiê.
Fama de sedutor
Berlusconi reconhece ser "um sedutor nato", mas afirma que a forma como outras pessoas o descrevem "é imprecisa". "Normalmente, eu é que era seduzido", afirma o ex-premiê.
"A verdade é que sempre fui workaholic e não dediquei a maior parte da minha vida a seduzir o sexo mais frágil."
Um exílio para Saddam Hussein
Na biografia, Berlusconi diz ter pressionado para que o então presidente americano George W. Bush e Tony Blair, premiê britânico na época, desistissem de uma guerra com o Iraque.
"Estava muito preocupado. Tentei fazer com que Bush mudasse de ideia. Estava buscando uma alternativa para a invasão do Iraque e tentando pensar em um país no qual Saddam Hussein pudesse se exilar para evitar a guerra", diz o ex-premiê.
"Então, entrei em contato com Khadafi, e discutimos a possibilidade de a Líbia aceitar Saddam. Falamos sobre isso uma dúzia de vezes entre o fim de 2002 e o início de 2003, e quase consegui convencê-lo."
Segundo Berlusconi, Bush "não se opunha à ideia": "Ele teria aceitado, se tivéssemos tido mais tempo (para persuadir Saddam a renunciar)". Depois que o ex-líder iraquiano foi derrubado, Khadafi teria ficado "em estado de choque", segundo Berlusconi, e dito: "Não quero acabar como Saddam".
Intervenção na Líbia e a 'inveja' de Sarkozy
Mas veio, então, a Primavera Árabe, como ficou conhecido o período de levantes populares contra governantes do mundo árabe iniciado no fim de 2010, e, com ela, Khadafi entrou de vez na mira de líderes ocidentais.
Berlusconi diz ter sido o único a se manifestar contra a "perigosa e irracional" intervenção na Líbia, porque Khadafi estaria usando seu poderio militar para evitar que milhões de pessoas migrassem da África para a Europa.
O ex-premiê afirma que o então presidente francês, François Sarkozy, o deixou de fora das negociações lideradas também pelo premiê britânico David Cameron e o presidente americano, Barack Obama.
Sarkozy teria apoiado a deposição de Khadafi, segundo Berlusconi, por sentir inveja da intimidade entre o ex-premiê e o ex-líder líbio e dos contratos de petróleo que isso havia rendido à Itália.