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Dois anos após ataque a shopping, Al-Shabab volta a aterrorizar Quênia

2 abr 2015 - 12h44
(atualizado às 12h44)
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Dois anos depois do ataque a um shopping center de Nairóbi que deixou 67 mortos, o grupo extremista islâmico Al-Shabab volta a realizar um atentado no Quênia.

Foto: BBC Mundo / Copyright

Nesta quinta-feira, militantes invadiram uma universidade na cidade de Garissa, próxima à fronteira com a Somália, matando a tiros pelo menos 15 pessoas e fazendo outras dezenas de estudantes reféns, segundo autoridades.

Há relatos de que cerca de 65 pessoas tenham se ferido durante a invasão da universidade, e militantes ainda mantinham reféns em seu poder na tarde desta quinta.

Trata-se de mais um episódio de retaliação do Al-Shabab contra as autoridades quenianas. O grupo extremista tem como base a Somália e repudiou a decisão de Nairóbi de enviar tropas para o país vizinho há quatro anos, como parte de um esforço internacional para reprimir as atividades extremistas.

Considerado organização terrorista por autoridades dos EUA e da Grã-Bretanha, o Al-Shabab quer criar um Estado islâmico na Somália, país há décadas marcado pela instabilidade política e pela falência do governo central - de 1991 a 2012, por exemplo, o país ficou sem governo formal.

O Al-Shabab, que tem elos com a rede al-Qaeda, vem promovendo ataques contra o Quênia desde 2011, quando tropas quenianas entraram no sul da Somália para combater os militantes do grupo.

Ele chegou a controlar boa parte da Somália, mas foi expulso das principais cidades que dominava no sul e no centro do país, inclusive a capital, Mogadíscio.

Ainda assim, o grupo permanece sendo uma ameaça.

Saiba mais sobre o grupo com as perguntas e respostas abaixo, preparadas pela BBC:

Quem é o Al-Shabab?

Al-Shabab significa "A Juventude" em árabe. O grupo apareceu como uma ala radical da hoje finada União das Cortes Islâmica da Somália em 2006, enquanto o grupo combatia as forças etíopes que entraram na Somália para apoiar o fraco governo interino.

Ataque em universidade deixou feridos, e reféns seguem em poder dos militantes

Há vários relatos sobre a presença de jihadistas estrangeiros na Somália para ajudar o Al-Shabab.

O grupo impôs uma versão rígida da sharia (lei islâmica) nas áreas sob seu controle, incluindo o apedrejamento até a morte das mulheres acusadas de adultério e o amputamento das mãos de acusados de roubo.

Quanto da Somália o Al-Shabab controla?

Apesar de ter perdido o controle de cidades e povoados, o grupo ainda tem influência sobre muitas áreas rurais da Somália.

O Al-Shabab foi expulso da capital do país, Mogadíscio, em agosto de 2011, e perdeu o controle do vital porto de Kismayo em setembro do ano passado.

Kismayo era uma peça importante para os militantes, permitindo que suprimentos chegassem a áreas sob seu controle e provendo recursos para suas operações.

A União Africana (UA), que apoia as forças do governo, comemorou a retomada do controle de ambas as cidades, mas o Al-Shabab ainda promove ataques suicidas com relativa frequência em Mogadíscio e em outros lugares.

Analistas acreditam que o Al-Shabab está se concentrando cada vez mais em táticas de guerrilha para conter o poder de fogo das forças da UA.

O grupo extremista muçulmano ganhou notoriedade com o ataque em Nairobi em 2013

Mas o grupo está sob pressão em várias frentes, incluindo a incursão das forças do Quênia na Somália em 2011. O Quênia acusou o Al-Shabab de sequestrar turistas. As forças quenianas, agora sob o comando da UA, esteve à frente dos esforços para expulsar o grupo no sul do país, até Kismayo.

Enquanto isso, as forças da Etiópia entraram pelo oeste e tomaram controle das cidades centrais de Beledweyne e Baidoa.

Quem lidera o Al-Shabab?

Ahmad Umar é o chefe do grupo desde setembro do ano passado, quando um ataque de um drone americano matou o então líder, conhecido como Mukhtar Abu Zubair.

Foi o mesmo destino de seu antecessor, Moalim Aden Hashi Ayro, morto em um ataque aéreo americano em 2008.

Quais são as ligações internacionais do Al-Shabab?

O Al-Shabab se aliou à Al-Qaeda em fevereiro de 2012. Em um comunicado conjunto em vídeo, o então líder do grupo disse que "prometia obediência" à Al-Qaeda.

Os dois grupos trabalham juntos há tempos, e estrangeiros estariam lutando ao lado dos militantes somalis - autoridades britânicas, por exemplo, temem que haja um grande recrutamento junto à comunidade somali vivendo na Grã-Bretanha.

Autoridades americanas acreditam que, com a Al-Qaeda em retirada do Afeganistão e do Paquistão após a morte de Osama bin Laden, seus combatentes estejam cada vez mais buscando refúgio na Somália.

O Al-Shabab já havia promovido ataques fora da Somália?

Antes do aterrorizante ataque ao shopping center na capital queniana, o grupo tinha sido responsável por um ataque suicida duplo na capital de Uganda, Kampala, que matou 76 pessoas que assistiam pela televisão à final da Copa do Mundo de futebol, em 2010.

O ataque aconteceu porque Uganda - junto com o Burundi - forneceu grande parte das tropas da UA na Somália antes de o Quênia entrar no conflito.

Analistas dizem que os militantes entram com frequência no Quênia e deixam o país sem serem interceptados. Seus militantes até mesmo visitariam Nairóbi para tratamentos médicos.

O duplo ataque em 2002 contra alvos israelenses próximos ao balneário de Mombasa, no Quênia, foi supostamente planejado na Somália por uma célula da Al-Qaeda.

Os Estados Unidos também acreditam que alguns dos integrantes da Al-Qaeda que planejaram os ataques contra as embaixadas americanas em Nairóbi e Dar-es-Salaam (Tanzânia), em 1998, depois fugiram para a Somália.

Quem são os apoiadores do Al-Shabab?

A Eritreia é o único aliado regional, mas nega prover armas ao Al-Shabab.

O ataque à universidade voltou a provocar pânico no Quênia

O país apoia o Al-Shabab para conter a influência da Etiópia, seu maior inimigo.

O que faz o governo da Somália?

O presidente do país é o ativista e ex-acadêmico Hassan Sheikh Mohamud, eleito em 2012 por um recém-escolhido Parlamento somali, após um processo de paz promovido pela ONU.

Ele derrotou o ex-presidente Sheikh Sharif Sheikh Ahmed - um ex-combatente rebelde islâmico, cujos três anos no poder foram criticados pelo suposto descontrole sobre a corrupção.

O Al-Shabab denunciou o processo de paz como um plano estrangeiro para controlar a Somália.

A Somália é considerada um "Estado falido". Há duas décadas, a maior parte do país tem sido uma zona de guerra constante.

A situação ajudou o Al-Shabab a ganhar apoio entre os somalis. O grupo prometia segurança à população, algo fortemente desejado.

Mas sua credibilidade foi atingida quando rejeitou a ajuda alimentar ocidental para combater a fome causada pela seca em 2011.

Qual é a orientação religiosa do Al-Shabab?

O Al-Shabab defende a versão wahabista do islã, inspirada pela Arábia Saudita, enquanto a maioria dos somalis segue a linha do sufismo. O Al-Shabab destruiu um grande número de santuários sufistas, provocando queda ainda maior em sua popularidade.

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